Comportamento
03.09.2015
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10.04.14
A confiança do paranaense na mídia
por Luiz Filho

Até que ponto o paranaense acredita em tudo que assiste, escuta e lê

“Quase metade dos brasileiros usa a internet como meio cotidiano de informação”, diz o ministro Traumann Antônio Cruz/AG Brasil

Que o paranaense é um cara desconfiado parece que todo mundo sabe, é o senso comum, principalmente nas plagas mais curitibanas. Agora que ele passou a desconfiar também da mídia é uma novidade absoluta nos tempos da profusão de notícias em tempo real que avançam na internet com TVs, rádios, jornais, blogs, sites, redes sociais e tantos outros aplicativos que deixam a maioria sapiente do que está acontecendo no mundo e na província.

A pesquisa de hábitos e consumo da mídia, feita pelo Ibope para o governo federal, inédita, primeira e única, mostra exatamente isso. Não há nada de novo neste cosmopolitismo que tomou conta desse mundo pós-moderno com degraus de idade média. Avanços e barbáries se misturam no meio da tecnologia em que despontam a internet e a televisão.

Para fazer sua pajelança, o Ibope colocou 200 pesquisadores nas ruas de 848 cidades, com um questionário de 75 perguntas, entrevistou 18.321 brasileiros, dos quais 840 no Paraná, entre 12 de outubro e 6 de novembro. A tabulação ficou pronta em fevereiro e o resultado soube-se agora no mês de março.

Em dados gerais, o jornal O Globo resumiu bem o que foi a pesquisa: o brasileiro com acesso à internet passa mais tempo nela todos os dias do que em qualquer outro meio de comunicação – em média, 3h39 diárias. A TV continua o meio preferido da maior parcela da população e os jornais impressos são os mais confiáveis como fonte de informação. Já blogs, redes sociais e notícias publicadas na internet contam com a menor taxa de confiança.

 

TV e rádio

E no Paraná? A TV é o meio de comunicação favorito do paranaense: 66% assistem-na sete dias por semana, uma média de 3 horas (segunda a sexta) e 3h28 (nos finais de semana). A média nacional é de 65% e três horas e meia por dia. A TV aberta é assistida por 66% dos paranaenses, 26% preferem TV por assinatura e 38% têm antena parabólica.

O rádio, força da comunicação do século passado, continua perdendo espaço, busca a reinvenção e já ocupa tanto o dial quanto a web. Na pesquisa, 19% dos paranaenses escutam rádio todos os dias contra 21% da média nacional. O Rio Grande do Sul é o Estado que mais escuta rádio – 35% dos gaúchos sintonizam o dial todos os dias. O paranaense escuta, em média, três horas de rádio por dia.

 

Internet e jornal

Sessenta por cento dos paranaenses têm internet em casa. No Brasil, esse percentual cai para 47%. Os números dos paranaenses com acesso de internet em casa se equivalem ao Distrito Federal (63%), São Paulo (62%) e o Rio de Janeiro (61%). No Maranhão, apenas 23% da população tem internet em casa. No outros dois estados do Sul, esses porcentuais são de 50% (RS) e 45% (SC).

No Paraná, 37% afirmam que acessam a internet todos os dias contra 26% da média nacional. Entre os estados, o paranaense é o cara que mais acessa a internet e fica nela 3h43 em média. Para o acesso, o paranaense usa mais o computador (94%), seguido do celular (33%) e tablet (5%).

No plano geral, as redes sociais são os sites mais acessados. Nos fins de semana, 71% clicam nelas. O Facebook é o mais citado e é o campeão de acessos entre os que querem se informar – 32% dos entrevistados recorrem às redes sociais para essa finalidade.

Doze por cento dos paranaenses afirmam a leitura diária de jornais e 8% em revistas. É uma média alta, só perde para o Rio de Janeiro (16%), enquanto a média nacional é de 6%. Mas o paranaense usa apenas uma hora por dia para ler seu jornal preferido e gosta mais de notícias das cidades (55%) e de esporte (27%) e policial (16%).

 

Grau de confiança

Agora vem a confiança na mídia. É aí que o bicho pega. No plano nacional, o grau de confiança (entre confia sempre e confia muitas vezes) está assim: jornais impressos (53%), rádio (50%), TV (49%), revista (40%), sites (28%), redes sociais (24%) e blogs (22%). Nota-se que no campo político, sites, redes sociais e blogs são mais espaços de desconstrução, por isso do relativo grau de confiança.

O grau de confiança do paranaense com as notícias de TV é o mesmo que a média nacional de 49%. Essa confiança baixa para 40% quando se trata do noticioso de rádio e sobe para 56% com as notícias dos jornais impressos. A confiança paranaense nas notícias de revista é também a mesma que a média nacional de 40%. As notícias dos sites paranaenses têm 21% de boa confiança, enquanto que a dos blogs e redes sociais, o índice cai para 15%.

A pesquisa mediu também a confiança nas propagandas nos veículos de comunicação, pouco se me dá ou chama a atenção para abordá-la aqui. Também mediu a penetração, no bom sentido, dos canais de comunicação do governo federal – TV Brasil, TV NBR, Voz do Brasil, Portal Brasil, site do Palácio do Planalto, Blog do Planalto, programa Café com a Presidenta e coluna Conversa com a Presidenta. Outros canais no Twitter ou Facebook e as emissoras legislativas (Câmara dos Deputados) e afins (TV Justiça) não foram pesquisados.

O destaque não é surpresa, é manutenção, apesar de tudo, da audiência da Voz do Brasil. Entre os paranaenses, 73% conhecem o programa ante 68% na média nacional. Já o conteúdo é aprovado por 38% dos paranaenses – 50% na média nacional. Doze por cento dos paranaenses afirmaram ouvir pelo menos uma vez por semana o programa que está no ar há mais de 70 anos.

 

Avaliação

Pode-se dizer que a pesquisa chegou perto do que já dizem os especialistas de plantão quando o assunto é mídia, inserção e gosto popular. O ministro da Comunicação Social de Dilma, o paranaense Thomas Traumann, de Rolândia, disse ao O Globo que embora o levantamento não traga nenhuma informação surpreendente, mostra que o retrato dos hábitos de informação dos brasileiros é complexo.

“Quase metade dos brasileiros usa a internet como meio cotidiano de informação. Ao mesmo tempo, você tem outro dado em relação à confiabilidade, que é exatamente o oposto. Ou seja: quando você coloca qual é a informação mais confiável, os jornais sobem e a internet cai, o que mostra que toda a história e a credibilidade do meio impresso continua sendo um referencial para as pessoas. A internet é muito mais acessada, porém o grau de confiabilidade dela ainda é muito mais baixo comparado ao número de pessoas que a utilizam”, ponderou Traumann ao jornal carioca.

Não posso dizer que Traumann está de todo certo, nem que ele está errado. Faltou avaliar que jornais, rádios e TVs têm hoje múltiplas plataformas e todas elas estão na internet, no Ipad, no celular, no tablet ou num aplicativo mais perto de você.  Há um incentivo desenfreado para que leitores e ouvintes registrem tudo, desde flagrantes, casos inusitados, trânsito, acidentes, intempéries e mandem tudo para o veículo mais próximo que veicula e compartilha. Tudo hoje em dia só é válido se viralizar com milhares de acessos. Como registrar isso?

Faltou ainda na pesquisa o registro da confiança em emissoras legislativas – Senado, Câmara, assembleias legislativas e câmaras de vereadores – e até dos tribunais (a TV Justiça exibe sessões do STF, STJ, entre outros tribunais) – nas quais as audiências crescem dependendo da pauta de votação. Não se registrou fenômenos como os mídias ninjas, black blocs e outros canais de comunicação que não podem ser mais chamados de alternativos porque, cá entre nós, deram um banho na grande imprensa e serviram de referência na cobertura das manifestações que varreram o país em junho passado. E hoje estão presentes em qualquer ato ou protesto, vide as marchas das vadias, da maconha, o Baixa Fruet! e as greves que pipocam nas ruas. Como medir isso?

Outro ponto difícil de mensurar é a própria segmentação da informação. No Paraná, temos exemplos como o ano novo fora de época, que se tornou um evento gigantesco convocado pelo Facebook. A prefeitura e autoridades de Segurança e da Justiça não sabiam quem intimar como responsável pelo evento. Assim também as proporções que se dão, a cada ano, ao Garibaldis&Sacis, Zombiewalk e Psychocarnival – três eventos restritos e que ganharam dimensão considerável após o advento das redes sociais. O único senão em relação a esses eventos, incorporados pela grande mídia, perdem o charme e a credibilidade, ou seja, a confiança.

E ainda em relação à confiança uma defesa às redes sociais e blogs. A desconfiança se compara aos programas que caíram no gosto popular, como já foram Os Trapalhões, Sai de Baixo, novelas e as primeiras edições dos realities. A maioria declarava que não gostava, mas assistia, os criticava, mas não perdia um episódio ou capítulo. Os blogs, como disse acima, são espaços de desconstrução. A maioria diz que não confia, mas adora ver o circo pegar fogo.


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