Comportamento
03.09.2015
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17.12.12
Enfim grande(s)?
por Felipe Kryminice / Ilustração de Pesly Krieger

Heroico retorno atleticano à Série A, ídolo coxa-branca repatriado e volta do Paraná Clube à primeira divisão do campeonato estadual embalam futebol paranaense, que inicia 2013 em busca de afirmação nacional


A margem para ilusões, suposições e projeções da temporada de 2013 do futebol paranaense é enorme. Depois de interromper a temporada de mais de quinze anos consecutivos na Série A do Campeonato Brasileiro, o Atlético Paranaense retorna à elite do futebol nacional com moral considerável. Para além deste embalo, não raro, campeões brasileiros que voltam à primeira divisão, após um acidental rebaixamento, conseguem emplacar boas campanhas e empolgar sua torcida. De preocupante, a questão do estádio. Provavelmente, o clube só voltará a mandar jogos em seu estádio no segundo semestre. Até lá, não poderá contar com o fator Arena, sempre determinante nas boas campanhas do clube.

Já pelos lados do Alto da Glória, outro ingrediente faz o torcedor alviverde pensar mais alto. Alex, ídolo do clube nos anos 90, retorna ao Coritiba depois de mais de uma década. Na decisão do jogador, pesou o lado afetivo e a aposta em um Coritiba forte, capaz – segundo o atleta – de brigar pelas primeiras posições, caso mantenha a base de 2012 e faça algumas contratações pontuais.

O Paraná Clube, por sua vez, deixa o torcedor ressabiado. O time vem de uma temporada em que problemas políticos e dificuldades financeiras chamaram mais a atenção que o retorno de dois ídolos. Em 2012, nem a aclamada vinda de Ricardinho para o comando técnico e a contratação do meio-campo Lúcio Flávio (que há algumas temporadas foi apelidado de Pelé Branco, na sua chegada ao futebol mexicano) tiraram o foco dos problemas internos. Uma espécie de abaixo-assinado, que circulou na imprensa, reivindicando os salários atrasados, acabou deixando o Pelé Branco e o então comandante em segundo plano. Por outro lado, o retorno à divisão principal do futebol paranaense poderá ser uma grande motivação para o plantel tricolor.

Essa empolgação da dupla Atletiba e a preocupante interrogação tricolor também são destacadas por Napoleão de Almeida, jornalista e colunista do Jornal Metro e do Portal Bem Paraná. “Podemos esperar um campeonato estadual motivado pelas voltas do Atlético à Série A, de Alex ao Coxa e do Paraná à primeira divisão local. Um Cianorte forte, um Londrina forte. Ainda é cedo para falar do Brasileirão. Mas o Paraná ainda é uma incógnita em função do dinheiro”, afirma o jornalista, que ainda destaca positivamente a manutenção da base de jogadores e comissão técnica no trio de ferro da capital.

Para além do futebol paranaense, outra questão deve repercutir diretamente na próxima temporada. 2013 é ano de Copa das Confederações e também antecede a Copa do Mundo. Mais do que um calendário irregular e muitas vezes sobrecarregado, as competições internacionais podem tirar um pouco do brilho do campeonato nacional.

A convocação de algumas estrelas que ainda atuam no futebol brasileiro pode ser a explicação para este enfraquecimento, conforme sugere José Roberto Torero, cronista esportivo da Folha de S.Paulo: “Acho que em 2013 teremos um Campeonato Brasileiro meio avacalhado, com nossos principais jogadores desfalcando seus clubes. Em 2012, por exemplo, o Santos foi tirado do páreo pelas seguidas convocações de Neymar. Em 2013, Santos, Fluminense e Corinthians devem ser os mais prejudicados. Sorte de São Paulo e Grêmio”, conta.

O preço da taça

Por mais instável e improvável que sejam o rolar da bola e o balançar das redes nos campos do Brasil, os números mostram uma estatística antipática para os clubes paranaenses. Desde que o campeonato brasileiro passou a ser disputado por pontos corridos, o título ficou centralizado na região Sudeste. Nas dez edições, Cruzeiro, Santos, Corinthians, São Paulo, Flamengo e Fluminense ergueram o caneco.

Coincidentemente, são esses os clubes que aparecem entre aqueles que recebem uma quantia mais generosa de cota de patrocínio paga por emissoras de televisão. Equipes do Sudeste costumam receber, às vezes, o triplo do que equipes como Atlético Paranaense, Coritiba, Bahia e Goiás.

Para Napoleão, essa disparidade interfere diretamente na formação e no planejamento das equipes, embora não sejam irreversíveis: “Essa condição interfere sim. Mas existem saídas. O que acontece é que um clube com mais dinheiro pode errar mais que os que recebem menos. Portanto, o primeiro passo é escolher bem o destino dos investimentos. Além disso, vejo que os sócios são a chave para que os clubes de menor porte consigam equilibrar as finanças. Por fim, muitos clubes “do eixo” ainda não têm a estrutura que já foi montada no futebol paranaense. Isso ajuda a equilibrar”, diz.

Reflexos da hipótese levantada pelo jornalista podem ser vistos nas iniciativas recentes da dupla Atletiba. Ambos apresentam um significativo quadro de sócios, permitindo – além de estádios mais cheios – uma boa alternativa de renda. Em uma entrevista no final de 2012, Mauro Holzmann, diretor de Marketing rubro-negro, projetou atingir a marca de 30 mil associados em 2013. Holzmann ainda destaca que o apoio do sócio é fundamental para a formação de uma equipe competitiva.

Reforçando a importância de um trabalho a longo prazo, de investimento no quadro associativo e na estrutura, Napoleão cita o exemplo da Arena rubro-negra, que será palco de algumas partidas da Copa de 2014: “A Arena do Atlético, por exemplo, dará ao clube outra dimensão nacional. Nem Grêmio, nem Palmeiras, terão esse privilégio, já que os acordos para as construções no RS e SP são muito ruins para os clubes em médio prazo”, afirma.

Sobrevida no mata-mata

Arenas e sócios à parte, alternativas como essas apenas atenuam um cenário desigual. Com opinião semelhante à de Napoleão, Torero acredita que, de fato, um orçamento limitado acaba restringindo o título do campeonato brasileiro a determinadas equipes. “Um clube fora do eixo Rio-São Paulo terá que ser muito esperto e competente para vencer a muralha de dinheiro. Nos últimos nove anos, ninguém conseguiu. E deve ficar cada vez pior. Talvez no futuro tenhamos apenas Corinthians e Flamengo como grandes times, e os outros beliscarão o título brasileiro apenas de vez em quando”, especula.

Os números reafirmam essa situação. O futebol paranaense não tem uma conquista relevante desde 2001, quando Alex Mineiro consagrou o Atlético campeão brasileiro (à época a fórmula ainda era mata-mata). A última participação de um time da capital na Libertadores foi há mais de cinco anos, em 2007, com o Paraná Clube, após boa campanha no brasileirão do ano anterior. Diante deste pouco convidativo ambiente, as competições mata-mata acabam sendo uma alternativa para que clubes de outras regiões conquistem um título nacional, assim como o Sport Recife sagrou-se campeão, derrotando o Corinthians na finalíssima, em 2008.

Assim como o time pernambucano, clubes paranaenses chegaram perto de algumas conquistas, sempre se valendo do sistema eliminatório. O rubro-negro disputou a final da Taça Libertadores em 2005 e a semifinal da Copa Sul-Americana em 2006. O Coritiba protagonizou as duas últimas finais da Copa do Brasil e a chegou à semifinal em 2009. Com exceção do brilhante time do furacão de 2004, dos meninos Jádson e Fernandinho, desde que o Brasileirão mudou sua fórmula, equipes daqui fizeram campanhas discretas.

“As conquistas nacionais são mais viáveis na Copa do Brasil que no Brasileirão. Com o que recebem os clubes do grupo “A” das cotas, é impossível competir em campeonato de regularidade. No mata-mata, com cruzamentos eliminatórios e um bom chaveamento, é mais provável”, argumenta Napoleão, mostrando que, em 2013, o título da Copa do Brasil é algo possível também para os times de Curitiba.

Comando renovado

Além do desejo de conquistar um título nacional em 2013, que é comum a rubro-negros e alviverdes, o planejamento das equipes também parece ter seus pontos de contato. Ambos apostam em treinadores de perfis semelhantes. Tanto o comandante atleticano como o treinador coxa-branca foram anunciados sem grande badalação.

A aposta das diretorias em nomes menos conhecidos parece, no mínimo, interessante. O furacão vinha de uma sequência de temporadas em que lançou mão de treinadores de salário diretamente proporcional ao status do nome. Situação bem exemplificada em Renato Portaluppi (ou Renato Gaúcho), que, de sua passagem por Curitiba, só levou boas recordações da feijoada servida aos sábados em um hotel no centro de Curitiba, onde ele residia.

Já a escolha do comandante alviverde cumpre uma função essencial, uma vez que renova o fôlego do comando técnico de uma equipe que já aparentava os vícios e sintomas de um desgaste natural de um time comandado um longo período pelo mesmo treinador, Marcelo Oliveira.

Considerar essa aposta em técnicos iniciantes irresponsável ou promissora, é algo que ainda não se pode cravar, levando em conta que casos de sucesso acontecem nas duas situações, conforme explica Torero: “Teoricamente o técnico experiente seria melhor. Mas um técnico novo pode ser competente, como foi o Marcelo Oliveira no Coritiba, e um experiente pode levar o time ao rebaixamento, como o Felipão no Palmeiras” aponta.

Opinião reforçada por Napoleão, que ainda destaca a importância na preparação de uma equipe que não se restringe ao professor: “Em Curitiba, a dupla optou por técnicos iniciantes – mas o que importa é ter comando diretivo, bom elenco e tranquilidade, desde que o profissional escolhido tenha capacidade”, argumenta.

A experiência de quem conhece

Se escolher os comandantes da equipe para a diretoria a experiência não foi fator tão determinante, não se pode dizer o mesmo da escolha de dois dos principais atletas de cada time. Alex, 35, e Paulo Baier, 38, entram na temporada de 2013 como peças fundamentais de cada uma das equipes.

No clube desde 2009, Baier jogou mais de 150 partidas e, neste período, participou de quase 100 gols. Na equipe coxa-branca, depois de oitos anos na Turquia onde jogou pelo Fenerbahce e foi ídolo – com direito à estátua esculpida em tamanho real e uma verdadeira adoração por parte dos torcedores – Alex volta ao Coritiba com a missão de ser o grande nome do onze alviverde. Tendência reforçada pelo Paraná Clube, que em 2012 repatriou Lúcio Flávio.

E ver qualidade na experiência não é exclusividade daqui. Na última temporada, o Grêmio, terceiro colocado no brasileirão, teve o veterano Zé Roberto como um de seus maiores destaques. Tão experiente quanto Seedorf foi fundamental para o time do Botafogo no último campeonato. Prova de que a disciplina e o bom preparo físico de alguns atletas permitem que, cada vez mais, a carreira possa ser estendida – em bom nível – por algumas temporadas.

Entre a autofagia e a soberania

Por fim, com técnicos novos e alguns jogadores nem tanto, Atlético e Coritiba entram na temporada de 2013 em busca de algo que parece ser muito mais importante do que a visibilidade nacional: a soberania local.

O equilíbrio no futebol paranaense faz com que uma discussão se arraste. Não se tem, de fato, um clube que possa ser considerado como o maior do Estado. Um título nacional da Série A para cada lado. De um lado, Coritiba acumula mais títulos estaduais. Do outro, Atlético Paranaense possui um histórico mais vitorioso em competições internacionais. O debate é eterno.

Impulsionados por essa disputa, a dupla Atletiba convive em uma rivalidade que muitas vezes flerta com a autofagia. Sobre a questão, Napoleão sugere que o paranaense deve parar de agir negativamente diante o sucesso do rival. Mais do que isso, deve encarar como um estímulo para superá- lo: “Há um ditado que conta que, em Curitiba, a caranguejada é feita sem tampa na panela, porque um caranguejo puxa o outro pra baixo. Se um ganhar o título nacional, que o outro se prepare pra fazer melhor. Durante aqueles meses, um será maior que o outro e que isso seja estímulo”.

Há quem diga que um título nacional desempataria o placar de conquistas importantes e consagraria, enfim, um maior clube do estado. Improvável. A discussão parece ter um fôlego do tamanho de Atlético e Coritiba. Sempre há de surgir um novo e duvidoso ranking. Se não houver, algum torcedor apaixonado ressuscitará alguma conquista adormecida no século passado – caneco conquistado em torneio de final de semana, em excursão por outro continente.

Cabe à temporada de 2013 o próximo capítulo da história dessa eterna discussão.


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