Comportamento
03.09.2015
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03.09.2015
03.09.2015
01.11.13
Programa Mais Médicos
por Edmilson Fabbri

Equívocos dos dois lados


Após acompanhar tantos desenrolares nessa questão do programa “Mais médicos” do governo federal, uso desta oportunidade para mostrar minha indignação como médico, tanto em reação a esse teatro do governo relativo à saúde no Brasil, quanto à reação xenofóbica e corporativa das entidades médicas que nos representam (como médico que sou).

Por parte do governo: simplifica ao extremo a situação mórbida da saúde no Brasil, reduzindo-a à falta de médicos nos rincões de nosso território, com isso oferecendo vagas com excelentes salários para quem quisesse aventurar-se nessa empreitada. Resultado: pouquíssimo colegas se entusiasmam (por que será?), e assim sobram vagas, oferecidas, posteriormente, ao mercado externo
predominantemente cubano, com o agravante de que, face o caráter emergencial (é de hoje o problema?), não haveria necessidade da revalidação de seus diplomas como é de determinação do Conselho Federal de Medicina.

Com isso o governo diz, na voz de seu ministro da Saúde, que a simples presença desses médicos solucionará os problemas de saúde de nossa população mais distante e menos favorecida.

Afora o problema de comunicação que sofrerão nossos colegas estrangeiros, e que já mereceu todo tipo de chacota que a criatividade de nossos internautas permitiu, não obstante à possibilidade concreta das contusões possíveis, temos o problema principal dessa temática que é a falta de estrutura nesses locais que serão destinados esses médicos. Munidos de suas canetas e seus blocos de receituários, quando houver, terão que resolver todas as situações
que se apresentarem, sem poder contar em muitas das vezes com um simples exame de RX ou um exame laboratorial básico, tipo hemograma e glicemia.

Que engodo é esse que o governo está propondo? Não me interessa que governante seja ou a sigla de seu partido, pois essa crítica está acima de qualquer interesse político, pois expresso a visão e preocupação de um médico em exercício pleno de sua profissão, que dá plantão em pronto-socorro há 25 anos e sabe muito bem a que sorte muitas vezes fica refém e deixa
refém, também, o paciente por conta da necessidade de alguns exames para definir o diagnóstico.

Simplificar os problemas de saúde no Brasil à simples falta de médicos é de uma irresponsabilidade tal qual a de um engenheiro que vendo uma estrutura comprometida em uma casa, colocando em risco a vida dos que nela habitam e confiaram no seu trabalho de avaliação, sugira que uma simples massa corrida e uma pintura nova resolverá o problema.

É a essa maquiagem a que o governo está recorrendo, e, o que é pior, enganando àqueles de menor poder de esclarecimento e que se submeterão a permanecer dentro dessa casa de estrutura comprometida, felizes com a pintura nova.

Não se trabalhou junto às entidades médicas, no sentido de construir-se a muitas mãos, uma solução que visasse, efetivamente, a correção dessa estrutura comprometida.

Pior que tudo isso é a possibilidade de uma teoria lançada vir a ser mal, qual seja: a de que o governo cubano doe boa parte do dinheiro recebido pelos serviços prestados por seus médicos ao governo brasileiro para alavancar a campanha nas eleições presidenciais no ano que vem.

Nesse tocante, só tomando um antiemético (remédio contra vômitos) , para dar seguimento a essa análise, pois aí seria a glória da máxima de Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”.

Por parte das entidades médicas, o desastre seguiu a mesma linha, pois conseguiu municiar o governo com posturas equivocadas, com ameaças vãs, mexendo-se em questões financeiras dos médicos cubanos, importando-se se era ou não o seu governo a receber os improvimentos e quanto seria passado a eles, desconhecendo o sistema socialista a que estão sujeitos, totalmente diferente dos nossos propósitos, e, ainda por cima, estimulando a hostilização por parte de nossos colegas de Brasília na chegada dos médicos no aeroporto, relevando nossa classe a um patamar que jamais me representaram ou me representarão.

Por fim, perdeu-se, através de nossas entidades de classe, a possibilidade de prestar um serviço ao Brasil e ao seu povo, pertinente a soluções reais para o problema, conseguindo, uni-la e exclusivamente, com essas atitudes. A reprovação, por parte da população, conforme diversas pesquisas de opinião apresentadas.

E ao fato de virem médicos de fora qual o problema? Ocuparam as vagas que nós não quisemos pelas razões pessoais de cada um. Que sejam felizes, façam o seu melhor e que Deus os abençoe.


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