Cultura
03.09.2015
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10.04.14
Clemente, o alter ego dos portenhos
por Ari Madeira
Foto: Divulgação

Os portenhos sentem enorme falta de Clemente, o genial personagem do cartunista Caloi, que faleceu em 2012. Nesta época de Christina Kirchner e de desastre na vida argentina, ele teria comentários e críticas sensacionais para fazer.

Clemente nasceu de uma chocadeira desligada, teve um filho com uma azeitona, voa sem asas e seu corpo é cheio de listras pretas. Ah, sim, jogou no Boca Juniors e fala com todos os erros inimagináveis de ortografia. Namora uma mulata e uma francesa. Foi diplomata na guerra entre as passas e as azeitonas.

É o mais portenho dos cartuns. Ele saiu do tinteiro do cartunista argentino Carlos Loiseau, o Caloi, que, além de Clemente, dedicava-se a apresentar um dos raros programas sobre desenhos animados de arte na TV latino-americana. Aos domingos, em horário nobre, Caloi desfilava la creme de la creme do traço polonês, húngaro, canadense e indiano. “Cidade confusa, São Paulo!”, exclama.

Em sua tirinha do jornal Clarín, um olhar de canto de olho e uma perna cruzada, todas as manhãs, eram suficientes para Clemente concluir uma análise arguta. Amplo repertório: dos clones ao presidente, de futebol à libido. Seu universo vai do reles cotidiano ao onírico em poucos segundos. Ou melhor, em poucos quadrinhos.

Clemente era um rapaz de bairro portenho, bom vivant, que amava o futebol, o tango, a política e as mulheres. E fazia psicanálise. O personagem, que com frequência protagonizava situações surrealistas e delirantes, sempre tinha algum comentário sutilmente irônico na ponta da língua. Clemente era considerado o “alter ego” dos portenhos.

Nas eleições parlamentares de outubro de 2001, quando começava o “que se vayan todos” (que todos vão embora) contra a classe política, dezenas de milhares de votos foram destinados – em protesto – para Clemente.

Em 2004, a prefeitura portenha designou Clemente – publicado ininterruptamente desde 1973 – “patrimônio cultural da cidade de Buenos Aires”.

Clemente tornou-se um sucesso nacional quando, durante a Copa do Mundo de 1978, convocava os argentinos a jogar papel e confete nos estádios. A convocação ia de encontro ao pedido do locutor oficial do regime militar que governava a Argentina na época, que fazia campanha contra o confete nos estádios por ser algo “sujo”.


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