Cultura
03.09.2015
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20.06.14
Ideias 152: Música erudita

A verdade musical de Rudolf Serkin

Márcia Campos

O número 3 tem uma grande importância simbólica de união e equilíbrio, sendo recorrente nas artes e na literatura. Sua mais importante representação está na Santíssima Trindade. Longe de blasfêmia, Arthur Rubinstein (1887-1982), Vladimir Horowitz (1903-1989) e Rudolf Serkin (1903-1991) formam a “santíssima trindade” do piano. São considerados os maiores do século 20. A coluna irá abordar esta “trindade” da música, iniciando-se com Serkin.

Rudolf Serkin, nascido em Eger, Bohemia, Império Austro-Húngaro, era considerado uma criança-prodígio. Fez seus estudos em Viena e anos mais tarde migrou para os Estados Unidos. Passou boa parte da vida a se dedicar à música de Beethoven, verdadeiro obcecado pelas obras e pelo compositor. E seu esforço valeu a pena. A identidade da música do maestro com a do pianista mesclaram-se.

Serkin em uma das poucas entrevistas concedidas, declarou que não se considerava um pianista natural, um virtuose. “Deus apaga a memória dos orgulhosos, ao passo que faz perdurar a dos humildes.” (Eclo 10,21). A humildade é socrática, pois sábio é aquele que reconhece os limites da própria ignorância. Não dá para levar na acepção da palavra o termo ignorância para Serkin, mas no sentido de quanto mais se sabe, menos se conhece. É a busca constante, por vezes insana, da perfeição, algo que não existe. Será?

Serkin deixou um vasto legado de gravações de concertos e músicas de câmara. A gravação feita para o selo Telarc Internacional do Piano Concerto Nº 4 em Sol maior, op. 58 é fenomenal. Escrito por Beethoven no período de 1805-1806, este clássico conta com Allegro moderato; Andante con moto e Rondo (Vivace).

Em Rondo (Vivace), a interpretação de Serkin pode se resumir em duas estrofes da música Perfeição, de Renato Russo: “Venha, meu coração esta com pressa/Quando a esperança está dispersa/Só a verdade me liberta/Chega de maldade e ilusão/Venha, o amor tem sempre a porta aberta/E vem chegando a primavera/Nosso futuro recomeça/Venha que o que vem é perfeição”.

Rudolf Serkin buscou no estudo exaustivo a verdade musical de Beethoven e apresentou-as para nós a seu modo, num estilo majestoso, beirando a perfeição. Encontrar este CD é quase uma busca ao Santo Graal. O jeito é pedir pelos sites especializados. Mas prepare-se para pagar o imposto sobre importação.

 

Serviço

Piano Concerto Nº 4 em Sol maior, op. 58.

Duração: 35:30

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Mahler

Vito Ferrara

Gustav Mahler ficou conhecido por suas declarações polêmicas, como esta: “Três vezes apátrida, natural da Boêmia entre os austríacos, austríaco entre os alemães, judeu em todo o mundo”, ou a famosa premonição que fez de sua própria obra quando disse: “Meu tempo virá!”.

A música misteriosamente romântica e moderna desse homem que trabalhou toda sua vida em ambientes de intrigas, exerceu, com sua escrita inovadora, grande influência sobre a geração seguinte de compositores, chegando a ser considerada a obra precursora dos três expressionistas vienenses: Schonberg, Webern e Berg.

Em 1897, quando deixou de ser judeu e converteu-se ao catolicismo apostólico romano, tornou-se o diretor da ópera da Corte de Viena. Este cargo ocupado por Mahler é lembrado ainda nos dias de hoje. Sabe-se que ele era terrível com cantores ou instrumentistas que se achavam muito importantes, e demitia sumariamente aqueles que entendia como fora dos padrões estipulados por ele.

Gustav Mahler, apesar de dedicar uma boa parte da sua vida à ópera, nunca escreveu uma. Em 1889, Mahler conduziu sua primeira sinfonia, a qual descreve como sendo um “poema sinfônico”. Casou-se em 1902, com Alma Schindler, que também era compositora e musicista.

Apresentou-se pela primeira vez nos EUA em 1º de janeiro de 1908, no Metropolitan Opera House de Nova York e foi indicado, em 1909, para ocupar o cargo de regente da Orquestra Filarmônica de Nova York.

Mahler escreveu 10 sinfonias, mas foi em sua sétima sinfonia que ele mostrou um verdadeiro avanço para o modernismo. Podemos considerá-lo como um artista da transição entre o romantismo tardio e a vanguarda da segunda escola de Viena.

Suas criações polifônicas e seu virtuosismo na condução de orquestra fazem de Mahler um dos grandes nomes da música moderna, pois como afirma o maestro e compositor Pierre Boulez, “o que torna Mahler contemporâneo é a amplidão e complexidade de seus gestos, a variedade e intensidade do seu grau de invenção – e não só contemporâneo, mas indispensável, hoje, para quem quer pensar sobre o futuro da música”.

Mahler teve uma vida marcada por grandes tragédias familiares e só conseguia trabalhar entre intrigas e ambientes hostis; vários de seus amigos morreram, ou ficaram loucos, ou se suicidaram. Foi envolvido nessa vizinhança adversa que Mahler criou quase toda sua obra.

Mahler teve uma morte prematura em 18 de maio de 1911, após ter sofrido uma forte infecção sanguínea.

 

Gravura de Emil Orlik


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