Cultura
03.09.2015
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07.01.15
Flipa, a primeira
por Da Redação

Na primeira semana de dezembro aconteceu a Feira Literária de Paranaguá, com a presença de Alice Ruiz e o lançamento de Contos da Carne, de Paulo Ras

Biblioteca Mário Lobo
Felipe Kryminice, jornalista da Travessa dos Editores
Os escritores Paulo Ras e Alice Ruiz

Felipe Kryminice foi preciso em sua fala, “ler ainda é um processo que a pessoa se prepara como fosse fazer algo de extraordinário”. De fato ler é extraordinário, porém pode e deve ser trivial, como Kryminice propõe. Há ainda muito mistério por trás da leitura e da escrita, dizer que lemos ou leremos os russos confere um status desproporcional. E isto não cabe somente a eles, Machado de Assis, Hemingway, Balzac e qualquer outro que figure a discutível boa literatura, a literatura que avança o mercado, que não se preocupa em ganhar dinheiro, assusta e encanta, quem lê é intelectual. Por quê? Foi esta desconstrução que Kryminice sugeriu, necessitamos desmontar esses patamares e construir degraus para que Balzac, Machado de Assis, Hemingway tornem-se uma literatura que não necessite ter a reboque a frase frequentemente ouvida por quem não os lê, “precisa de um dicionário ao lado”. Carecemos tornar o extraordinário trivial.

E temos pessoas que se esforçam – e muito – para que isso aconteça. Maria Angélica Leomil e Paulo Ras são exemplos disso.

Para incentivar a leitura a Fundação de Cultura de Paranaguá organizou a primeira Feira Literária da cidade, a Flipa. A presidente Maria Angélica destaca que o objetivo “é dar uma injeção de opções de leitura à população parnanguara”; Paulo Ras, jornalista, escritor e organizador do evento, segue na mesma linha, acredita que Paranaguá necessita de eventos como este.

A Flipa aconteceu nos dias 4, 5 e 6 de dezembro na biblioteca Mário Lobo. Para cada dia, um lançamento. Na quinta-feira, 4, os protagonistas foram estudantes da rede estadual de ensino participantes da oficina “Traços”, ministrada por Paulo Ras. A partir da oficina foi feita uma seleção que culminou no livro que recebe o título desta usina de aspirantes escritores.

No dia seguinte, 5, quem entrou em cena foi Marília Kubota, escritora que estreou no jornal literário Nicolau, em 1991. Integrou as antologias Crônicas Paranaenses, Pindorama, Passagens, 8 Femmes e Antologia brasileira do início do terceiro milênio. Também publicou textos na Gazeta do Povo, Medusa, Suplemento de Minas Gerais, além-mares.

No mesmo dia, a Travessa dos Editores, editora da revista Ideias e de grandes nomes da literatura como Jamil Snege, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Fábio Campana, entre outros, participou de um bate-papo sobre mercado editorial, editoração, leituras e escritores. Foi quando Felipe Kryminice desconstruiu todo o enigma que há e não há em ler e escrever.

Além de dizer sobre o extraordinário que ainda hoje é ler, Kryminice apontou as dificuldades do mercado editorial, o glamoroso assédio de ser escritor e as poucas facilidades em se publicar um livro. Foi uma longa conversa mediada por Marcela Bettega.

A Travessa foi convidada também a ter um estande para vender suas publicações, foi a única editora do evento, que contou com as livrarias Poetria e Book Sebo. Porém, resolveu fazer uma ação diferente.

Entendendo que a Flipa foi organizada para incentivar a leitura, a Travessa reuniu nove volumes do seu catálogo – desde Livro dos Novos até José Kozer (escritor cubano, editado no Brasil somente pela Travessa dos Editores) – e distribuiu-os na Feira, a pensar que poderia ir adiante, resolveu fazer uma intervenção urbana em Paranaguá, deixando livros em bancos de praças e em outros pontos da cidade para que as pessoas levassem, mais, para que lessem. Como foi feito e o resultado da ação pode ser lido na reportagem na página 26.

A Bibliopraia, uma biblioteca itinerante que percorrerá todo o litoral paranaense, incluindo os mais distantes e inacessíveis locais, também estava na Flipa. De acordo com Ras, ela seguiria para o distrito de Alexandra, cerca de 20 km de Paranaguá.

Como toda feira literária conta com um ou mais nomes expressivos da literatura, a parnanguara não foi diferente. “Estamos organizando a primeira feira literária de Paranaguá, gostaríamos da sua presença, topa?”, disse Paulo Ras. Não precisou de mais para convencer a poeta Alice Ruiz, que topou na hora. “Quando me disseram que teria uma feira aqui fiquei felicíssima”, disse no bate-papo que rolou no sábado à noite, fechando a programação da Flipa.

Alice contou suas experiências de leituras, de escrita, de sucesso. “Foi um momento sagrado quando entrei pela primeira vez numa biblioteca na minha vida”, afirmou numa mistura de euforia e lamentação, pois se lembrava dos tempos que morava com a tia que tinha aversão ao mundo das artes, os livros não eram muito bem-vindos em sua casa.

Ficou emocionada ao se lembrar de Itamar Assumpção, parceiro que a elevou à categoria de letrista. E contente ao remeter-se a Arnaldo Antunes, que fez a parceria da sua mais famosa letra, Socorro.

Antecedendo a participação de Alice, a Flipa contou com a presença de escritores parnanguaras de diferentes gerações, a falar sobre os desafios de escrever na cidade, os incentivos, etc. Depois aconteceu um dos momentos mais esperados, o lançamento do livro Contos da Carne, de Paulo Ras. O título foi uma edição da Travessa dos Editores, que neste ano completa 20 anos no mercado editorial com relevantes publicações, como a revista Et Cetera.


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