Cultura
03.09.2015
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03.09.2015
04.05.15
Um artista, um fotógrafo
por Jonas Mamoré

No dia 9 de abril, o Paraná perdeu um de seus principais militantes. Macaxeira militava sem discursos prosélitos pela cultura caiçara

Macaxeira - Foto: Kraw Penas
Foto: Macaxeira
Foto: Macaxeira
Foto: Macaxeira

Um homem? Um artista? Um resistente? Um fotógrafo! Carlos Roberto Zanello de Aguiar, o Macaxeira, guardião de tradições, ousou em nos deixar após 65 anos de vida. Um câncer o pegou e o corpo não resistiu. Ele foi um dos principais responsáveis pela visibilidade da cultura caiçara paranaense. Com sua máquina fotográfica revelou várias faces de um Paraná marginalizado, sua irmã gêmea Sandra Aguiar disse que “Ele foi o responsável por tirar aquelas pessoas e a cultura delas da invisibilidade”. Vivia em Curitiba, mas seu reduto era a ilha de Superagüi, onde tinha casa. Em 1980 entrou na Secretaria de Estado de Cultura (SEEC), um ano após a sua primeira exposição, e lá ficou até sua morte.

 

Um homem

Cheio de amigos, por onde passava ganhava a simpatia do grande público. Não era de jogar conversa fora, mas por aí afora jogou muita conversa. Sua seriedade com as palavras não escondia sua sensibilidade com as pessoas e coisas do mundo e da vida. Estava sempre em contato com seus pares: fotógrafos, artistas, escritores. Aos que não reconhecem o Maca pelo nome, certamente reconhecerão pelo trabalho, ao menos um: a foto de Paulo Leminski a soprar um dente de leão. A amizade se deu por ambos frequentarem o Bife Sujo, bar onde a classe artística se encontrava na década de 1980.

De caráter singelo e jamais simplório, Macaxeira gostava e gozava das coisinhas da vida, não abria mão de uma leitura, vinis e CDs faziam parte de seu arsenal, o samba de Cartola ditava o ritmo e o artesanato caiçara enfeitava sua jornada. Vindo de italianos, a massa e os almoços promovidos pelas irmãs eram constantes, fazia questão de falar sobre sua irmã gêmea e prezava pela família.

 

Um artista

Seus olhos capturavam imagens singulares, não foi um fotógrafo de reproduções, suas lentes tinham um quê de pincéis, traduzia um momento em arte. Sem dúvida a maior parte do seu acervo está voltada para o litoral paranaense, tanto que dela fez sua maior obra: Fandango do Paraná: Olhares, com mais de 150 fotografias colhidas em vinte anos por suas lentes, o texto é assinado por Edival Perrini.

Quem já foi ao Superagüi certamente já o viu, discreto e observador, quem o conhecia e o encontrou por lá teve mais sorte, pois as dicas eram inesgotáveis. O mau humor às vezes era percebido, o Maca não gostava da popularização cada vez maior da ilha, era um dilema como o de celebridades, artistas e afins – lutam para serem conhecidos e quando são, batalham pelo anonimato. Queria dar voz e vez à cultura caiçara, mas queria mantê-la daquele jeitinho, intocável, inexplorável, quem sabe invisível.

 

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