Cultura
03.09.2015
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16.07.13
Ideias 141: Cinema
por DA REDAÇÃO

Para quem é apaixonado pela sétima arte, o melhor dos clássicos do cinema


Trilogia da Incomunicabilidade

J. J. Meirelles

 

A Trilogia da Incomunicabilidade de Michelangelo Antonioni é revista por milhões de cinéfilos no mundo. A Aventura (1960), A Noite (1961), O Eclipse (1962). São filmes, às vezes em cópias lamentáveis, que o mundo aprendeu a admirar. Mais que isso. Aprendemos a amá-los. De raros, tornaram-se familiares. Estão agora agrupados numa caixa caprichada da Versátil, com cópias de excelente qualidade e extras. Vêm com esse nome geral, de que o próprio Antonioni não gostava muito – Trilogia da Incomunicabilidade.

Essa história ele explica numa entrevista que não consta dos extras. Um tanto mal humorado, diz que não tem qualquer apreço pela falta de comunicação. Ao contrário. Seus personagens se esforçam por entrar em contato uns com os outros. Apenas não conseguem, o que é outra história. Mas existe um esforço de ligação, um traço de união que, é verdade, nunca se completa. Todos estão irremediavelmente sós. Em especial quando em casais, mas não apenas.

A Aventura é o primeiro desses filmes. Anna (Lea Massari) é a garota entediada que viaja com o namorado e um grupo de amigos para uma ilha vulcânica na Sicília e simplesmente some. Talvez, como argumento, seja o mais surpreendente dos três.

E mais extraordinário ainda talvez seja o depoimento que a atriz Monica Vitti dá numa entrevista. Monica conta que a situação foi tirada de algo que aconteceu de fato entre ela e Antonioni, na época casados. Num passeio a uma ilha, brigaram por motivo banal, ela embirrou e resolveu sumir do mapa. Ficou desaparecida duas horas. Quando se reencontraram, Antonioni lhe disse: “Acho que tenho uma ideia”. E como tinha!

 

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A lenda John Ford

Pedro Nolasco Ferreira

 

Após voltar à cidade de Shinbone para o enterro de um velho amigo, o senador Ranse Stoddard decide contar a alguns jornalistas a verdadeira história sobre o acontecimento que, muitos anos antes, fez dele um homem célebre. Stoddard revela, para a surpresa de todos, que não foi ele quem matou o fora da lei Liberty Valance, e sim o pobre homem desconhecido que acabara de falecer. Ao terminar o relato, Stoddard vê o editor do jornal local rasgar todas as anotações e pergunta o porquê desta reação. A resposta é direta: “Quando a lenda se torna fato, imprime-se a lenda”.

A frase-marco de O homem que matou o facínora aplica-se não apenas ao próprio filme, mas a tudo que envolve, hoje, a figura mítica de John Ford. Talvez não haja, no mundo, um cineasta cuja vida e obra estejam tão imersas num ambiente de lendas. O homem que consolidou o western. O inventor do Monument Valley. O grande narrador da história americana. O maior poeta da era de ouro de Hollywood. O polêmico e controverso conservador. O sujeito que, avesso a entrevistas, deixou que todo um folclore fosse construído a respeito de si, definindo-se sempre da forma mais simples (e enganosa) possível: “Meu nome é John Ford. Eu faço westerns”.

Mas há sempre o momento em que é preciso mostrar os fatos. A obra de John Ford recupera, enfim, o elemento que deu origem a toda uma lenda: seus filmes. Através de um vasto panorama de sua produção, composto dos mais diversos gêneros e períodos, todos poderemos atravessar a barreira do mito e experimentar o vigor e a beleza que o cinema de Ford conserva até hoje. Dentre as inúmeras lendas, verdadeiras ou não, que se impõem sobre o diretor, uma, no entanto, parece-nos especialmente acurada: ao ver sua obra em conjunto, entregando-se ao universo ao mesmo tempo primitivo e sofisticado que Ford constrói, é impossível não se tornar um verdadeiro fordiano.


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