Cultura
03.09.2015
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19.08.13
Música erudita tem público fiel
por Márcia Campos

Concertos da Camerata Antiqua de Curitiba unem vivacidade e técnica


Curitiba é muito mais do que a cidade que tem muito pinhão (etimologia da palavra curi’ity(b) ba), sistema de transporte modelo para o mundo e gente sisuda. A cidade tem música erudita e o que de melhor a representa: a Camerata Antiqua de Curitiba, que em 2014 completa 40 anos, uma jovem em ascensão, que deixa sua marca indelével em cada concerto que realiza. Formada por coro e orquestra de cordas, teve em seu início a música renascentista e barroca como carro-chefe, lá pelos idos de 70. Tendo como mantenedora a Fundação Cultural de Curitiba – FCC, contou com fortes nomes no início de sua trajetória, devendo a isso suas sólidas bases e consolidação. Atualmente, dedica-se também aos autores contemporâneos, nacionais e estrangeiros, além, é claro, de manter suas raízes na música erudita antiga. E tem gravações em CD, inclusive Dixit Dominus, com regência de Roberto de Regina, álbum produzido em 2006, que podem ser adquiridos na Fundação Cultural. Não conta com regente fixo, o que a torna ainda mais atraente, pela possibilidade de se ver e conhecer jovens talentos e maestros tarimbados a conduzir músicos e música.

PONTO DE ENCONTRO

Ao longo dos anos, a Camerata Antiqua de Curitiba vem conquistando um público fiel, que além de acompanhar o progresso da Camerata, como é usualmente chamada, acompanha igualmente a evolução dos músicos, cuja vitalidade cresce na mesma proporção da orquestra. Esse púbico cativo tornou-se, por assim dizer, uma grande família, acrescentando-lhe novos membros, na medida em que o gosto pela música erudita é passado de geração a geração.

A capela do antigo colégio dos Irmãos Maristas – local tombado pelo patrimônio público – foi restaurada, dando origem à Capela Santa Maria Espaço Cultural, um lugar místico, mágico, com uma atmosfera envolvente, que espera seu público, pacientemente, para encher o ambiente com o som dos instrumentos e vozes, reverberando emoção e alimentando almas. Em seu último concerto, realizado na primeira quinzena de julho, a Camerata interpretou dois compositores do período Barroco: Arcangelo Corelli e Georg Friedrich Händel.

A apresentação teve início com a obra de Arcangelo Corelli (1653-1713) – violinista-compositor mais famoso do Barroco –, o Concerto Grosso Op. 6 nº 6 em Fá maior e o Op.6 nº 3 em Dó menor, peça assim designada pelo desafio do solista com o grosso da orquestra, os demais músicos. Essa característica requer esforço e energia redobrada, daí a diferente disposição dos músicos no palco, em pé. No centro, a teorba, instrumento do século XVI, considerada predecessora do alaúde, chamava a atenção por sua exuberância e pela sua sonoridade, que requeria ouvidos apuradíssimos. Lançado o desafio, solistas e orquestra foram dialogando em adagio, allegro, largo (doce, suave, harmonioso), vivace e allegro. Destaque para o grave do Concerto Grosso Op.6 nº 3 em Dó menor, quase um adágio, que vai chegando de mansinho, invadindo a quietude. Apresentação sem deslizes, comandada pelo maestro argentino Juan Manuel Quintana.

DISSE O SENHOR AO MEU DEUS

A segunda parte do concerto trouxe Georg Friedrich Händel (1685-175), que se baseou no Salmo bíblico 110 para compor Dixit Dominus, para orquestra e coro. Händel, talvez inspirado pelo salmo, que diz em uma de suas estrofes “De caminho, bebe na torrente e passa de cabeça erguida”, bebeu da torrente e compôs uma música sublime. Os duelos desta vez foram para os violinos, com um vigor perturbador. Em contraponto, o coro, sopranos, contraltos, tenores e baixos exigiam da voz a suavidade ou a força necessária para referendar o salmo, traduzindo para além das palavras o poder e a glória de Deus. Dele emana toda a força, e, ao enfrentar os inimigos, mostra quem reina sobre o céu e sobre a terra.

Apresentação monumental, com um final de tirar o fôlego: “Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto, Sicut erat in principio, et nunc et semper, In saecula saeculorum. Amen”, ou seja, Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Assim como era no princípio, e agora e sempre, Pelos séculos dos séculos. Amém. Que assim seja, Camerata Antiqua de Curitiba.                                      

 

Serviço

Para quem perdeu o concerto e deseja ouvir as peças, segue a dica das gravações feitas pela Deutsche Grammophon.

Arcangelo Corelli – 12 Concerti grossi Op. 6. Álbum duplo. Duração: 2’09”49.

G. F. Händel – 4 Coronation Anthemsincluding Zadok the Priest – Dixit Dominus, HWV 232. Duração: 1’09”18.


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