Cultura
03.09.2015
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19.08.13
Dominguinhos
por Adriana Sydor

Na vida e na arte, um nome insuperável


Foi o pai, mestre e afinador que lhe ensinou o instrumento, assim como ensinou aos irmãos, assim como mostrou as maravilhas e dificuldades do mundo da música.

Foi o pandeiro seu primeiro instrumento. Mas logo que teve tamanho e força para empunhar a sanfona, passou a solfejá-la. E o fez com tanta habilidade que ainda menino já se lançava em apresentações, chamava atenção, colecionava elogios e guardava interesses... 

Reza a lenda que ele tinha sete anos quando Mestre Lua o viu e ouviu pela primeira vez. Menino, ainda levando o apelido familiar de Neném, recebeu atenção especial da expressão máxima do baião daqueles e de outros tempos. Anos se passaram e se encontraram mais uma vez e Luiz Gonzaga o coroou com uma sanfona. E isso mudou sua vida. Não que ele ainda não tivesse dobrado a esquina definitiva para entrar no mundo da música, nem que ele não chegaria onde chegou sem o presente, mas era a prova real e tátil do reconhecimento de um ídolo nacional a um adolescente que se aventurava, em seus 13 anos, a enfrentar os desafios de um novo mundo.

O nome também foi sugestão do padrinho. Gonzagão o batizou Dominguinhos e ele saiu em sua vida artística, emprestando a sanfona em gravações, apresentando-se em circos, em festas e todos os tipos de arrasta-pés. Aprendeu a vida dos dancings, das boates, das gafieiras e seus ritmos: dedilhou na sanfona sambas, boleros e choros.

Aprendeu que para ser tocador, tinha que ser também cantor e carregador e motorista e tudo o mais que fosse aparecendo em suas primeiras horas de artista.

E descobrindo os próprios caminhos, foi criando outros, transformando sua música, multiplicando as possibilidades do fole, espalhando a brasilidade de sua sanfona e inventando uma sonoridade só sua, porém carregada de toda a riqueza que aprendeu a reconhecer em tudo que há na vida.

Um pouco da trajetória

Aos 16 anos, Dominguinhos fez sua primeira gravação, tocando sanfona num disco de Luiz Gonzaga, na música Moça de Feira, de Armando Nunes e J.Portela. A partir de então, a carreira, com status de profissional, se desenvolveu em inúmeros trabalhos, inclusive em disco solo de forrós e baiões.

Em 1972, quando trabalhava com Luiz Gonzaga, recebeu convite do empresário Guilherme Araújo para tocar com Gal Costa. Viajou para a França com a cantora, acompanhando-a em apresentação no Midem, em Cannes, na volta participou dos shows e gravações do álbum Índia.

Trabalhou e foi parceiro de Gilberto Gil, que gravou seu maior sucesso, em parceria com Anastácia, Eu Só Quero um Xodó (que conheceria em pouco tempo cerca de 20 regravações, inclusive algumas no exterior), e com quem escreveu outro grande sucesso, Abri a Porta.

Embora os estudos tenham sido constantes (ele não ficava um único dia sem dedilhar o instrumento), a intuição foi a principal guia da arte de Dominguinhos. Ele soube os caminhos que a música percorre. Mesmo sem ter andado por eles antes, sabia para onde ia a trilha.

E quando a música não era sua, o seu sotaque, a maneira delicada, a sutileza, a genialidade que trouxe nas pontas dos dedos foram imprimidos de maneira igual. A música foi para Dominguinhos (sempre!) uma declaração de amor.

Dominguinhos traçou um caminho próprio na MPB, mas o nome de Luiz Gonzaga, chefe dos sanfoneiros do Brasil, o acompanhou até seu último momento. E nos shows, nos discos, suas músicas se misturaram com as dele... e se Gonzagão ajudou a projetar o nome de Dominguinhos, ele não deixou que as pessoas esquecessem o nome de Gonzagão...

Ele foi um músico de forró e jazz, soube cantar o amor e a terra, compôs e interpretou, criou e executou. Foi palco e plateia. A voz agreste misturou-se com sua sanfona doce, melodiosa e isso aconteceu em temas delicados, compostos a partir de verdades de sua e de vidas alheias. A música de Dominguinhos é para ser ouvida, também, com o coração.

Na vida e na música, o sentido mais amplo da palavra generosidade pode ser livremente usado para caracterizar Dominguinhos. Homem admirado por muitos, ele fez arte da própria trajetória, fincou os olhos de artista no horizonte e foi, ao lado da inseparável companheira, da insuperável sanfona, desbravando caminhos, superando os obstáculos de uma história que cobre de beleza a história da própria MPB.

Discografia, prêmios, parcerias e homenagens

 A coleção de Dominguinhos é vasta: 42 álbuns que carregam seu nome no título; as gravações como músico ou como convidado foram tantas que a contabilidade é impossível.

Os nomes de destaque da MPB, como Chico Buarque, Djavan, Gilberto Gil, assinaram parcerias. E aqueles que sustentam a fatia regional da música nacional, como Anastácia, Oswaldinho e Sivuca também. E ainda flertou com o jazz, de Hermeto aos festivais internacionais.

Os prêmios também foram muitos: Grammy Latino, Prêmio Tim Shell e tantos outros que preenchem sala inteira com troféus.

A vida artística recheada de tão belos momentos e composições despertou diversos tipos de homenagens. O Prêmio Tim de Música Brasileira foi uma delas. Aqui em Curitiba, há dois anos, ele recebeu placa, flores, público, DVD e todo o nosso reconhecimento por sua vida dedicada à arte, quando completou 70 anos. O músico João Egashira prepara Songbook com as partituras e depoimentos de músicos e amigos.


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