Cultura
03.09.2015
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03.09.2015
02.09.13
Ideias 142: Cinema
por Da redação

A obra de Hanna Arendt e John Ford


Hannah Arendt

Ângela Chiarotti

Para quem ama Hanna Arendt e sua obra o filme está  longe de mostrar o que representa essa mulher e sua filosofia. “Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta, é um filme razoável sobre a polêmica filosófica e moral criada por “Eichmann em Jerusalém”. O filme tem como tema central a viagem de Hannah Arendt a Israel, onde o criminoso nazista foi julgado em 1961. O filme alterna cenas reais do julgamento –closes na figura rígida, mas não monstruosa, do acusado— com a encenação das reações do público.

Hannah Arendt causou ondas de indignação na época. A solidão da filósofa ganha muito vigor no ponto alto do filme, quando se encena uma palestra de Arendt num auditório abarrotado, respondendo com altivez, lógica e grandeza às críticas que seu livro suscitou.

Dito isso, o filme de Margarethe von Trotta está longe de ser vivo e convincente, sublinha Marcelo Coelho. Parece feito para televisão; todos os atores parecem estar usando roupas um modelo acima de seu corpo. Saem-se melhor os atores puramente caricaturais, como a grã-fina dona do “New Yorker”, desde o começo um bocado refratária à ideia de contratar uma filósofa para cobrir o julgamento de Eichmann nas páginas da revista. Ou então o antipático Norman Podhoretz, um dos principais acusadores intelectuais no debate contra Arendt.

O debate sobre a suposta responsabilidade de líderes judeus na ajuda e na organização do Holocausto não pode ser mais difícil e doloroso. No discurso brilhante de Hannah Arendt, a plateia não reage ao que provavelmente é o ponto mais frágil de sua argumentação. Havia um espaço, diz ela entre baforadas de cigarro, “entre atos de resistência que seriam impossíveis no momento, e a atitude de ajudar os nazistas.” Esse e outros problemas –como o da “normalidade” psicológica do carrasco, que deu origem à expressão “banalidade do mal”—são de qualquer modo expostos com clareza no filme de von Trotta. Pena que o filme seja tão rotineiro; cria uma banalidade de Hannah Arendt, certamente inadequada à personagem que o inspirou.

 

Para rever John Ford

Ângela Chiarotti

O cinema, como cultura de consumo imediato, costuma relegar o que produziu de melhor ao esquecimento. Assim, maravilhas como a obra de John Ford saem de cartaz e só voltam, quando voltam, em sessões especiais ou em cines-clube, se é que estes ainda existem. (Existem, mas são tão poucos e precários que muitas vezes deformam completamente o que exibem.)

John Ford dirigiu mais de 140 filmes. Aos 25 anos já havia realizado nada menos que 50. Entre 1939 e 1941, lançou oito longas, entre eles No tempo das diligências, A mocidade de Lincoln, As vinhas da ira e Como era verde o meu vale, que figuram entre as maiores obras-primas da História do cinema. Só um gênio produz assim e com tanta qualidade. O meu preferido é Rastros de Ódio.

Contraditório e complexo como seus filmes, Ford compunha imagens com delicadeza e sofisticação, mas cultivava a imagem de homem rude e truculento. Tinha fama de ser um déspota no set, mas era chamado pelos atores e pela equipe de Pappy. Considerado por muitos um reacionário, foi voz ativa contra o macarthismo nos anos 50.

Autoritário e de personalidade forte, soube, melhor que ninguém, tirar proveito do sistema de produção dos grandes estúdios. Trabalhou com alguns dos maiores técnicos, roteiristas e fotógrafos da indústria americana. James Stuart, Henry Fonda e Ward Bond estão em diversos filmes de Ford, mas o rosto que se confunde com sua obra é o de John Wayne. Os dois fizeram 14 filmes juntos e tiveram uma relação turbulenta.

É possível vê-lo em DVD, mas é incrível como ele cresce na tela grande, onde cada plano parece ser uma pintura em movimento. A mostra é uma oportunidade única para quem ama o cinema. Algumas cópias restauradas estão estalando de novas. Os que não conhecem a obra de Ford podem estranhar o patriotismo exagerado de alguns filmes, ou o excesso de comédia. Vencida a desconfiança inicial, vale mergulhar de cabeça, porque Ford influenciou Kurosawa, Eisenstein, Scorsese e David Lean, foi o mestre dos mestres, o maior cineasta americano de todos os tempos.


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