Economia
03.09.2015
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12.08.14
Mais uma vez, é a economia, idiota!
por Alice Meireles
Nada positivo. A taxa de crescimento caiu pela nona semana consecutiva e está em 0,9% - Foto: Marcelo Camargo - Agencia Brasil

Pois, pois, o otimismo do brasileiro vai pelo ralo. E isso não se observa apenas nas pesquisas de opinião e no mau humor explícito dos que vaiam a presidente Dilma Rousseff onde e quando a encontram. Estudo feito pela consultoria Tendências projeta uma grande queda no consumo nos próximos anos. As vendas no varejo, que cresceram 7,5% ao ano entre 2004 e 2013, vão baixar para 3,2% ao ano entre 2014 e 2019, caso a economia continue no ritmo atual. Se houver problemas, como uma nova crise econômica mundial, a projeção aponta para uma queda mais grave: -1,1%.

Razão para tamanha má vontade com o governo e com a situação? Ora, pois, vê-se agora que o programa anunciado pelo governo brasileiro não passa de uma peça publicitária, com forte dose de ficção. O programa anuncia que descobriu a fórmula do sucesso, enquanto desmonta o sistema elétrico, descapitaliza a Petrobras, mostra-se incapaz de executar seus principais projetos – a transposição das águas do rio São Francisco, por exemplo, deveria estar pronta desde 2010, mas continua longe da conclusão. Um dos tópicos, intitulado Os 12 anos que transformaram o Brasil, é constrangedor. Ali, a mentira parece adquirir status de verdade histórica.

O que primeiro choca é a incongruência entre o título do programa (Mais mudanças, mais futuro) e o conteúdo proposto. Era de esperar que, com resultados tão pífios — reconhecidos não apenas por analistas econômicos, mas, como as pesquisas têm indicado, pela população em geral, que já percebeu qual é a qualidade do atual governo —, o leitor do programa se deparasse com algo diferente do que viu nos últimos anos.

Mas o que lá está é mais do mesmo, com a reedição de “programas” pontuais e desconexos, sem uma visão ampla do que o Brasil precisa. Vê-se logo que é um programa feito pró-forma, em que o país é um simples acessório. Furtando-se de analisar os seus anos de governo — o que seria mais honesto —, sempre que pode Dilma inclui os oito anos de Lula nas suas comparações. Disso resultam afirmações que se chocam com a verdade. Por exemplo, “ao final de três mandatos, todos os indicadores do período são positivos e sempre muito melhores do que os vigentes em 2002. Haja criatividade nos números para tamanha miopia!

Entre os dados recentes da nossa economia, o mais negativo é sobre o investimento. Ano passado, a formação bruta de capital fixo saltou 5,2%. Em 2014, as projeções apontam para um recuo de 5%. Os bens de capital, equipamentos que fabricam outros, caíram 5,8%, de janeiro a maio, alimentando uma dinâmica negativa na indústria, retroalimentando suas fraquezas. Ao fim e ao cabo, a previsão é de investimento encolhendo no ano com a indústria diminuindo sua participação no PIB, projeção feita inclusive pelo Banco Central.

Não adiantaram os repetidos incentivos tributários para empresários e consumidores. A Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, divulgada recentemente pelo IBGE, mostra a trigésima segunda queda seguida no número de pessoas ocupadas nas fábricas do país, nos comparativos anuais.

A indústria brasileira vem fechando postos de trabalho desde outubro de 2011, um dado escandaloso sobre a política industrial do país. Em maio, o recuo - na  comparação anual – foi de 2,6%, o maior desde novembro de 2009. As renúncias fiscais promovidas pelo governo, que se enquadram como gastos, somaram US$ 42 bilhões de janeiro a maio e atingirão R$ 100 bilhões até fim do ano, segundo a própria Receita Federal. Em 2013, as desonerações custaram R$ 78 bilhões.

Sem o impacto dos investimentos da Copa, seria ainda mais negativo. Sobre o evento, é importante destacar o intangível. Os turistas foram bem recebidos, o que nem sempre acontece em outros países. Isso se reverte em propaganda positiva, algo muito bom para o Brasil, que tem um turismo bastante aquém de suas possibilidades.

Não adiantou mais uma rodada de incentivos editada pelo governo por medida provisória em julho. O relatório Focus, que colhe as expectativas de instituições financeiras, cortou a projeção de crescimento do PIB pela décima semana consecutiva. Na mediana, a previsão é de que a economia cresça apenas 0,86% em 2014. Na primeira semana do ano, a mediana estava em 2,28%.

O resultado indica um segundo semestre fraco, bem como foi o primeiro. Aos olhos do mercado, a Medida Provisória (MP) 651 – que mais uma vez distribuiu bondades tributárias ao setor industrial e também para o mercado de capitais – não será capaz de mudar a realidade, onde falta clareza sobre o cenário no próximo ano. A incógnita energética e os preços represados se transformaram em barreira ao investimento. Repetir a medicação, alerta o Focus, não será eficaz.

Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa e competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), conta que o momento do emprego na indústria é decisivo para a economia do país. Embora as diferentes pesquisas que acompanham o contingente de trabalhadores nas fábricas – como a divulgada pelo IBGE – nem sempre convirjam, nos últimos meses os levantamentos têm apontado para uma tendência clara de corte de vagas. Com a exceção do período mais agudo da crise financeira na década passada, o Brasil vinha com crescimento persistente no emprego da indústria desde 2004.

“Pelo mercado de trabalho do setor é possível adiantar se o próximo ciclo econômico será negativo, o que parece estar acontecendo agora. Mantido esse movimento, os cortes de vagas na indústria vão afetar o consumo, a única força que mantém o PIB do país ainda em alta”, conta Fonseca.

Na pesquisa revelada pelo IBGE, o número de vagas caiu 2,9% em maio, comparado ao mesmo período de 2013. Pela pesquisa da CNI – que usa pontos para indicar o número de empregos – as vagas na indústria recuaram em abril e maio, os dados mais recentes. Neste sentido, o salário em alta – outra revelação da pesquisa do IBGE – deve deixar de ser tendência.

A produção vinha estabilizada desde 2010, enquanto os salários não paravam de subir. Algo insustentável, mas justificável: é caro contratar e demitir. Com o desemprego em baixa, se o empresário acredita que sua indústria voltará a crescer, usa o salário para reter quem é qualificado. O limite dessa estratégia é a confiança na economia, que não vai durar para sempre, principalmente após os dados recentes.

Não adiantaram os repetidos incentivos tributários para empresários e consumidores. A Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário, divulgada pelo IBGE, mostra a trigésima segunda queda seguida no número de pessoas ocupadas nas fábricas do país, nos comparativos anuais.

Há problemas para todos os lados no setor de energia. Crise financeira nas distribuidoras, reservatórios nos níveis mais baixos desde 2001 e obras de linhas de transmissão atrasadas.

A situação das distribuidoras é crítica desde que o governo arbitrou, em 2013, um desconto na tarifa cobrada dos consumidores sem que o preço praticado pelas geradoras acompanhasse a redução. O nível dos reservatórios atual, em torno de 36%, eleva ainda mais o valor praticado porque significa estoque baixo nessa indústria. Ano passado, os lagos das hidrelétricas apresentavam o dobro do volume.

Para cobrir a diferença entre o custo da energia que compram e o preço que ela passou a ser vendida, as distribuidoras levantaram R$ 11,2 bilhões junto a bancos, valor que será pago por todos nós depois que a eleição passar e o preço da energia for corrigido. A expectativa era de que o montante durasse até o fim do ano; em maio já havia acabado. O governo interferiu novamente e estendeu o prazo de pagamento do R$ 1,3 bilhão em dívidas acumulado pelas distribuidoras em maio. Tomou um lado e não resolveu a situação, visto que as distribuidoras procuram por um novo empréstimo, aumentando a conta a ser paga no futuro. Em outra ponta, as obras de novas linhas de transmissão estão atrasadas, muito por força de falhas gerenciais do governo. A situação do setor elétrico é grave.

Os sinais são bem claros: Rui Falcão, presidente do PT, diz que as eleições de outubro serão as mais difíceis que o partido já enfrentou, enquanto Lula avisa que a campanha será uma guerra. Há outras declarações de petistas graduados no mesmo tom. Mas essas resumem o que vem por aí. Há um nítido tom de ameaça de desestabilizar o país. Mesmo assim, Dilma Rousseff continua perdendo pontos nas pesquisas, não obstante estar abrindo a caixa de bondades para melhorar sua imagem.


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