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Murilo Hidalgo é o homem mais procurado pelos políticos em época de eleições. Normalmente, por gente nervosa, ansiosa, louca para saber de suas chances em alguma disputa eleitoral. Tem nas mãos dados preciosos. Índices de popularidade de cada qual e a quantas anda a população com seus líderes e governantes.

Ele é o diretor-presidente do Instituto Paraná Pesquisas, a mais acreditada empresa nativa de pesquisas de opinião pública e que desde a última eleição presidencial ensaia voos maiores. Hidalgo comandou pesquisas de alcance nacional sobre a corrida eleitoral para a Presidência da República. Desde então, esse economista formado na FAE, com pós na mesma instituição, é consultado pela grande mídia sobre os índices apurados pelo seu instituto.

As contribuições de Murilo Hidalgo não se resumem a dar os índices da disputa eleitoral. Ele organiza os diversos cenários possíveis, considerando candidatos prováveis e as alianças partidárias. Levanta também as tendências na população. Ou seja, nos informa sobre o que pensa o povo em determinado momento sobre todas as questões que possam afligi-lo ou animá-lo e que certamente vão interferir na hora do voto.

Hidalgo foi o primeiro a detectar a ruidosa queda de prestígio e popularidade dos políticos de todas as cataduras nos primeiros meses deste ano. Indicou a deterioração rápida da imagem de Dilma Rousseff e garante que o que mais a desastrou não foram as denúncias e escândalos propiciados pela Operação Lava Jato. Foram as medidas de ajuste fiscal que contrastam com as suas promessas de campanha. Assim como a queda de Beto Richa não foi motivada pelas denúncias de corrupção em Londrina. Foram as suas medidas de contenção que levaram à greve dos professores e a uma comoção contra cortes no orçamento e aumento de impostos.

Murilo Hidalgo deu entrevista exclusiva para IDEIAS em que faz uma análise do quadro político em Curitiba e no Paraná, com digressões sobre a República. Num momento difícil para fazer previsões, ele mostra como estão as principais tendências para as eleições municipais do ano que vem. E começa por uma ponderação.

 

IDEIAS – As próximas eleições, o que podemos esperar?

MH – Os prefeitos que não conseguirem demonstrar que estão, antes de tudo, dedicados a defender os interesses de seu município, de sua comunidade, de seu povo, estão fadados ao insucesso. É isso que pode salvá-los. Será uma eleição diferente. Os apoios não terão grande importância, podem até atrapalhar, o que vai valer é a confiança no candidato.

 

IDEIAS – Acredita que os apoios de políticos como Beto Richa, Dilma Rousseff, Requião, Gleisi Hoffmann e gente desse quilate não vão pesar?

MH – Claro que terão algum peso. Mas não o que tiveram nas eleições anteriores, quando chagavam a ser decisivos. Primeiro, o eleitor está cada vez mais votando naquele que acredita, não naquele que é indicado. Ele sabe que quem vai governar é o candidato eleito, não o seu apoiador. Em segundo lugar, os políticos tradicionais, com poder e cargos importantes, estão muito desgastados neste momento. Podem até atrapalhar uma candidatura

 

IDEIAS – Em Curitiba, como vê o quadro da disputa da Prefeitura?

MH – Em Curitiba, hoje, temos três grandes grupos de olho na Prefeitura e alguns cenários possíveis. Temos o grupo do prefeito Gustavo Fruet que vai disputar a reeleição. É, até aqui, o favorito, mesmo com todo desgaste que sofreu e que reduziu em muito a sua popularidade e prestígio eleitoral. Fruet tenta refazer sua base de apoio. A aliança com o PT, que foi decisiva para elegê-lo em 2012, já não prospera. O PT perdeu força, tem um signo negativo e já não se entende ou nunca se entendeu administrativamente com Fruet.

 

IDEIAS – E os adversários de Fruet?

MH – Tudo o mais depende de um político, Ratinho Junior. Se ele for candidato, o cenário será um, se ele não for, tudo se desarrumará e com certeza teremos mais de dez candidatos na liça.

 

IDEIAS – A candidatura de Ratinho Jr. passa a ser decisiva?

MH – Sim. Hoje, se ele for candidato, sairá na frente, como apareceu na última pesquisa. E terá várias forças consideráveis interessadas em apoiá-lo e elegê-lo. Vejam que se ele for candidato a prefeito sairá da disputa do governo, abrindo caminho para muita gente. Diria que todos os candidatos ao governo em 2018 querem Ratinho Jr. candidato a prefeito agora, em 2016.

 

IDEIAS – Quem seriam os interessados, a seu ver?

MH – Candidatos ao governo interessados em tirar Ratinho Jr. da parada? Vamos lá: Alvaro Dias, pelo PSDB; a vice-governadora Cida Borghetti, do PROS; o senador Requião; a senadora Gleisi Hoffmann. Por aí vai. Com todos esses apoios comprometidos, além de sua popularidade indiscutível, mesmo depois do desgaste que lhe proporciona estar no governo, Ratinho é um dos fortes favoritos.

 

IDEIAS – Sem Ratinho Jr., quem seriam os candidatos?

MH – Aí teríamos uma população. Todos os que hoje querem ser vice de Ratinho, poderiam ser candidatos. A começar pelo secretário de Segurança, o deputado federal Fernando Francischini, que teria apoio direto ou indireto do governador Beto Richa.

 

IDEIAS – Nenhuma novidade? Nenhum candidato novo?

MH – Novidade mesmo, nenhuma. Acho que vem forte o Maurício Requião Filho, pois deve carregar ao menos uma parte do eleitorado do pai, o senador Requião, que tem uma base fiel ao nome Requião em Curitiba. Ele pode fazer uma aliança com o PT e ficar com o tempo de televisão. Maurício Filho cresceu muito nos episódios que culminaram na greve dos professores e tem se saído bem na Assembleia. Ele teria o nome, a vantagem de ser o novo, uma máquina que não é desprezível, a do PMDB, mas antes tem que garantir o controle do partido.

 

IDEIAS – O apoio do governador, neste caso, ajudaria?

MH – Acredito que alguma coisa pode agregar. Há a máquina. Há ainda uma grande articulação e inteligência que acaba de eleger Beto Richa governador. Mas vale lembrar que na eleição passada o Beto tinha 60% de aprovação e não conseguiu eleger seu candidato, o Luciano Ducci. Hoje a situação é diferente, a eleição do ano passado, quando ele ganhou já no primeiro turno, mostra que seus maiores índices não foram na capital.

 

IDEIAS – Richa elegeu-se com mais de 60% dos votos, no primeiro turno, contra dois adversários importantes. O que o derrubou?

MH – O grande erro cometido pelo governador na virada do primeiro para o segundo mandato foi ter tirado muitos de seus companheiros antigos. As pessoas que caminharam com o Beto durante uma longa jornada foram preteridas e se elas estivessem próximas talvez não acontecessem determinados episódios. Aqui saliento Flávio Arns na Secretaria de Educação, pois o momento era delicado para uma mudança de staff, e, pode ser que eu esteja enganado, mas não me recordo de nenhuma greve nos quatro anos do Arns. E agora o prejuízo será grande, pois o governador queimou-se demais, não somente com educadores, a população em geral achou um erro e agora o desaprova.

 

IDEIAS – Voltemos a Curitiba, com Ratinho Jr. fora do páreo, a coisa toda muda...

MH – A equação é a seguinte. Sem Ratinho Jr., quem passar para o segundo turno, provavelmente contra o prefeito Gustavo Fruet, tem grandes chances de vencer. O segundo turno será totalmente aberto. Isso anima candidatos como Francischini, Ney Leprevost, o próprio Luciano Ducci. E aí, é claro, todos eles vão querer o apoio de Ratinho Jr., que, sem dúvida, é o maior eleitor de Curitiba.

 

IDEIAS – Interessante a situação das grandes siglas. Nem o PSDB, nem o PT têm candidaturas ou perspectivas fortes. O PMDB ensaia o filho de Requião. Assim será?

MH – Acredito que sim. Mas tanto para o PSDB quanto para o PT será muito importante lançar candidatos. A razão é muito simples. Nas eleições municipais, os dois partidos e seus governos serão alvos de críticas pesadas. Diria que podem ser os sacos de pancada. Vão precisar de candidatos capazes de defender o partido e o governo de Dilma Rousseff, pelo PT, e de Beto Richa, pelo PSDB.

 

IDEIAS – Há gente disposta a cumprir esse papel?

MH – Pode ser espinhoso, mas a tarefa permite uma visibilidade que pode garantir uma eleição proporcional em 2018. O deputado Valdir Rossoni, que já se lançou, pode ser o escudo do PSDB. No PT, Tadeu Veneri sonha com essa oportunidade. Mas há outros nomes, como o de Miriam Gonçalves e de Ângelo Vanhoni.

 

IDEIAS – Nada de muito novo? Nenhuma novidade?

MH – Num quadro indefinido como aquele em que Ratinho Jr. não é candidato pode até surgir um nome novo, de fora da política, mas será muito difícil construí-lo em tão pouco tempo. E qual é o líder ou o empresário disposto a colocar seu nome na política, sabendo que há um ônus muito grande a pagar? Imagine o custo, as pauladas, o jogo baixo, não é coisa para principiantes.

 

IDEIAS – O que precisa para vencer uma eleição?

MH – Divido em três terços, sendo que o candidato vencedor terá que ter pelo menos dois: 33% para dinheiro; 33% para boas alianças; 33% para um bom candidato. Então é possível que um mau candidato vença, caso tenha boas alianças e muito caixa, assim como é possível vencer sem dinheiro ou sem alianças. Isso vale para médias e pequenas cidades, onde é possível fazer o feio ficar bonito e o bandido ficar honesto.

 

IDEIAS – Se fosse candidato, Jaime Lerner teria chances?

MH – Muitas. Ele ainda é associado ao que se fez de melhor em termos de urbanismo em Curitiba. Mas pelo que sei, não está nem mesmo filiado a um partido. Não quer saber de política.

 

IDEIAS – Renovação, portanto, dificilmente?

MH – Hoje, lamentavelmente ou não, não há renovação na política. Os velhos nomes que já estão nos livros de história podem voltar à cena.

 

IDEIAS – Pensando nisso, aqui no Paraná é possível que tenhamos uma repetição de 2002, com o confronto Alvaro versus Requião para o governo?

MH – Sim, há grande chance disso acontecer. É para onde caminhamos, um recuo de 16 anos em 2018. Por aí se vê que o velho ainda persiste, o novo ainda não surgiu com força. Mas esse não é um fenômeno curitibano ou paranaense, é geral.

 

IDEIAS – Veremos isso nas eleições municipais....

MH – Claro. É só olhar em torno, aqui na Região Metropolitana de Curitiba: São José dos Pinhais, Almirante Tamandaré, Pinhais, Colombo, Araucária e outras cidades assistem também essa volta dos velhos nomes na dificuldade de renovação. Nomes conhecidos, como Rocha Loures, J. Camargo, Goinski, Zezé repetem-se nas eleições, isso é absolutamente prejudicial. Contudo, a reforma política não ajudará a resolver este problema, pois basicamente os partidos deixarão de existir e haverá uma espécie de “monopolização” política.

 

IDEIAS – O voto distrital é uma saída ou uma melhora para o sistema político brasileiro?

MH – Sou a favor do sistema, mas no Brasil sou contra. Tomemos como exemplo Ponta Grossa e eu como deputado do distrito, levando em consideração que Ponta Grossa só faça um deputado. Quem irá nomear o delegado, o chefe da Receita, o responsável pela saúde, pela educação? Tudo eu, logo virarei “dono” de Ponta Grossa, quem, politicamente, não jogar comigo estará liquidado. Agora imagine em outros estados onde o cabresto é mais expressivo. Só serei a favor do voto distrital a partir do momento que a política não exerça mais o poder de nomeação.

 

IDEIAS – E a mídia, não está interferindo com parcialidades?

MH – Não há interferência. O governante e o político não devem temer as críticas, têm que respondê-las, pois desta forma mostra o trabalho que está sendo realizado. As mídias sociais são fundamentais, diria que são as principais ferramentas. Elas não são concorrentes, são parceiras. Elas dão voz num universo de milhares de pessoas. Logo, este instrumento virtual deve de todas as maneiras ser utilizado, esta é a visão que o político deve ter. Mas para isso precisa haver o investimento: em jornalistas, publicidade, etc. E cada vez estão investindo menos, quem olha para isso como gasto está seguindo o caminho errado.

 

IDEIAS – As mídias sociais passaram a ter um papel relevante?

MH – Muito relevante. Enorme. E cada vez mais. Quem não souber usar as mídias sociais logo estará fora do jogo. Mas é bom dizer que nada substitui o relacionamento próximo, direto, do verdadeiro político com a população. Veja o exemplo da senadora Gleisi Hoffmann, que ao virar chefe da Casa Civil, adotando o cargo como função técnica, perdeu sua relação com os eleitores que a levaram ao Senado para ser uma política, ser a sua voz política.




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