Gastronomia
03.09.2015
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03.09.2015
03.09.2015
20.06.14
A uva e a chuva
por Luiz Carlos Zanoni

Adolfo Lona já viu de tudo nas quarenta colheitas das quais participou na Serra Gaúcha


Adolfo Lona já viu de tudo nas quarenta colheitas das quais participou na Serra Gaúcha. Viu safras perdidas para as chuvas, para o granizo, para pragas que infestam o vinhedo. O clima prega muitas e boas. E, cúmulo da injustiça, são os produtores que levam a culpa quando o vinho desagrada. “Por que vocês não fazem vinhos bons como os argentinos?”, eles cansam de ouvir. Aí só lhes resta lançar um olhar de censura aos céus, seguido de fundo e resignado suspiro.

A Serra atua como uma barreira à entrada de frentes frias, sendo, por isso, o lugar onde mais chove no Estado. Boa parte da média anual de 1.700 mm desaba entre janeiro e fins de março, o período crítico da vindima. Umidade excessiva dilui nos cachos componentes importantes para a estrutura da bebida, além de disseminar fungos e doenças. Em Mendoza o acumulado do ano fica em 250 mm, o que ajuda a fazer a diferença entre os vinhos das duas regiões.

Mas há um grupo que não teme chuvas. São os cada vez mais numerosos produtores de espumantes, estilo de vinho que, ao contrário dos chamados tintos e brancos tranquilos, não depende exclusivamente da colheita do ano para sua elaboração. As bodegas sempre estocam uma razoável quantidade de vinhos das safras passadas. O espumante do ano resulta da mistura da última colheita com essas reservas. Assim é na Serra Gaúcha, em Champagne ou qualquer outro lugar. Anos bons compensam os maus.

Já é possível, encerrada a vindima, ter o balanço do que foi 2014. Adolfo Lona lamenta a desuniformidade da safra, resultado do clima instável. A qualidade oscila entre as microrregiões. Ele considera, porém, que foi um “bom ano” para os espumantes. Variedades bastante usadas, como a Chardonnay, a Riesling Itálico ou a Pinot Noir, amadureceram bem, preservando o teor de acidez. Lona é consultor de diversas vinícolas e produz em Garibaldi um excelente espumante que rotula com seu nome.

A verdade é que chega a ser surpreendente a evolução dos espumantes nacionais. O nível de excelência permite ensaiar voos mais altos, rumo aos mercados internacionais, o que já fazem vinícolas do porte da Miolo, Aurora e Salton. A Aurora duplicou as vendas ao exterior no ano passado, presente em prateleiras das redes Monoprix (França) e Tesco (Inglaterra). Mesmo assim, há muito espaço a ocupar: exportamos somente 5% do que produzimos. Em contrapartida, de cada dez espumantes vendidos no Brasil, sete são nacionais.

Steven Spurrier, o crítico responsável pela histórica prova que, em 1976, confrontou vinhos californianos com os de Bordeaux e Borgonha, evento celebrado como o “Julgamento de Paris”, esteve no Brasil no início do ano. Provou nossas borbulhas e as comparou com as de produtores da Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Argentina e Chile. Ao final, observou que “o Brasil faz os melhores espumantes do Hemisfério Sul”.

O Miolo Millesimè foi eleito o melhor dessa prova. Também se destacaram o Casa Valduga 130 e o Cave Geisse Brut, este, aliás, um campeão de audiência, presença certa nas cartas de vinhos dos restaurantes da Serra Gaúcha. Mas a lista não fica por aí. Tem assento garantido, entre outros, nomes como Chandon, Vallontano, Dal Pizzol, Angheben, Cave Amadeu, Perini e – com certeza – Adolfo Lona.


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