Sem abrir os olhos, apenas a boca, para morder um pedaço da éclair, que se derrete, não totalmente, pois com um leve toque crocante por cima da massa fresca e pouco doce, recheada de ganache de chocolate belga, dá para se imaginar em, quem sabe, Paris, por que não? Esqueça a rua barulhenta e os fervorosos cultos da vizinhança, estamos num pequenino pedaço que soma tranquilidade, produtos artesanais de qualidade e bom gosto, quase uma “Cidade Invisível”, que me leva, imediatamente, à lembrança da obra de Ítalo Calvino, recorrente neste espaço.
Isso, porque, para a nossa sorte, o jovem casal Eduardo e Eloíse Crema, ela catarinense, ele curitibano, depois de um périplo, que incluiu muitos anos na Austrália, se instalaram aqui, num improvável lugar, nos fundos de um terreno na movimentada Avenida do Batel, há planos de ocupar a casa da frente, mas, por enquanto, quem passa pelo lugar e entra no que parece um estacionamento se depara com o que eu chamo, romanticamente, de sonho.
No salão principal – a casa tem uma agradável varanda –, se olharmos para cima, veremos uma grande barra de chocolate reproduzida em textura no teto, mas não acho que os bombons sejam o principal produto do lugar, aposto mais nas sobremesas e nos salgados. O que não sai dos fornos e fogões dali, como os pães dos bem-feitos sanduíches, exceto para o perfeito croissant e o ciabatta, vem de quem também leva a sério o ofício de cozinhar como eles, a La Panoteca. De resto, tudo é produzido na pequena cozinha que se vê do salão. Eduardo aos poucos começa a dar outros passos, e a casa quase vai virando um bistrô, um simples omelete de ovos caipiras vale a parada, pena que só abram a partir das 14h, mas se não dá para o almoço, é apetitoso para o lanche da tarde, ficam abertos até as 21h, confira os horários em Serviço. Sopas, cremes e caldos asiáticos podem aparecer no menu especial do dia, ao lado das tradicionais saladas Cesar Salad e Niçoise, que vêm em versão tartelette, as pequenas tortinhas, sem falar no saboroso iogurte feito na casa, com calda de frutas frescas e fava de baunilha.
Antes de eleger a éclair como a minha preferida, acatei a sugestão de degustação da casa, uma boa iniciação ao mundo do casal, que inclui, além do citado doce, miniversões do crème-brûlée, do cheesecake, do chokolat – a sobremesa da casa –, acompanhada de um chocolate quente. Está na mista lista de prova o sticky date pudding, o bolo que vem da tradição australiana, onde moraram, que lembra um brownie, porém, com a base feita de tâmaras.
Eduardo Crema é chef de cuisine e pâtisserie formado pela clássica escola francesa Le Cordon Bleu, também fez cursos na escola Blue Elephant na Tailândia, no Vietnã e na Indonésia, e com o chef francês Christopher Adam. Na área de pâtisserie, especializou-se na Savour School, em Melbourne, na Austrália. Teve uma empresa de catering nas cidades de Sydney e Perth, na Austrália, e trabalhou em outros restaurantes no exterior, antes de decidir voltar ao Brasil, junto com Eloíse, formada em gastronomia pela Univali, de Itajaí, que também é barista, para nos apresentar, em abril de 2014, a Chokolat.
Eloíse fica no salão, mas pela formação na Australian Barista Academy, sabe que ainda é preciso estimular a cultura do café e, por isso, sempre procura novas opções, como um blend exclusivo que a casa oferece. Outra barista da Chokolat, Ellen Krause, procura surpreender os clientes, servindo, por exemplo, um cappuccino de coco. Um acordo com a Faculdade de Belas Artes garante exposições temporárias nas paredes e venda de cerâmicas especiais, tornando mais agradável o ambiente, e, assim, a nova casa entra definitivamente na lista dos lugares imperdíveis na cidade.
