Gastronomia
03.09.2015
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03.09.2015
03.09.2015
14.11.12
Armazém Califórnia
por Jussara Voss

Impossível imaginar que pelas ruelas centrais, ali onde a capital do Estado se originou, ao lado da Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, recém-reinaugurada, lugar onde tudo pode acontecer, ou podia, pois contam os moradores que ares mais civilizados passam agora por ali, encontraríamos um restaurante classificado como paraíso gastronômico: boa comida e preço justo – atributos que atraíram clientes que não costumam frequentar aqueles arredores antes sombrios para o Armazém Califórnia.

Armazém Califórnia: tradição árabe e boa comida no centro da cidade
Restaurante de sucesso em lugar improvável
Khalil El Omairi Neto e Maged Khalil El Omairi deram mais vida ao armazém com o restaurante
Especialidades da casa
Até pouco tempo, Khalil, além de cozinhar, servia sozinho as mesas

Impossível imaginar que pelas ruelas centrais, ali onde a capital do Estado se originou, ao lado da Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, recém-reinaugurada, lugar onde tudo pode acontecer, ou podia, pois contam os moradores que ares mais civilizados passam agora por ali, encontraríamos um restaurante classificado como paraíso gastronômico: boa comida e preço justo – atributos que atraíram clientes que não costumam frequentar aqueles arredores antes sombrios para o Armazém Califórnia.

No balcão e na cozinha estão pai e filho, Maged Khalil El Omairi e Khalil El Omairi Neto. Maged, que já teve uma padaria e uma mercearia, foi obrigado a mudar de ponto em 2006, mas quis ficar na região. Ganhou a companhia do filho mais velho, que veio cheio de planos para o empreendimento. As mesinhas na parte de trás do lugar foram colocadas em 2009 e uma minúscula cozinha – a responsável pela fama da casa – foi instalada.

Antes de virar restaurante o estabelecimento de frutas, secos e molhados servia apenas esfihas de carne, uma das especialidades da família. Aos poucos os interessados no tempero dos El Omairi foram aumentando e, um dia, um cliente pediu para experimentar o arroz com lentilha que eles estavam comendo. Era o que faltava. Virou prato do dia servido às sextas-feiras. Khalil não perdeu tempo, correu comprar louças, derrubou uma prateleira no fundo da mercearia e trouxe mesas de casa.

Depois veio a irmã do governador da época, que trabalhava ali perto, com uma encomenda, e trabalhadores da redondeza querendo trazer a família aos sábados. Com a procura, outros pratos foram criados para os dias da semana ainda não contemplados. O famoso boca a boca começou a funcionar, e os blogueiros do “Baixa Gastronomia”, do portal da Gazeta do Povo, descobriram o lugar e deram mais um empurrãozinho para o sucesso. Nem dois anos se passaram desde que a mercearia virou também restaurante e as indicações começaram a aparecer, inclusive na revista Veja, o suficiente para que Khalil sonhasse com uma ampliação e outros caminhos, como montar um café ao lado para servir sanduíches e doces árabes especiais e sucos de frutas frescas feitos na hora, “ninguém mais faz assim, não é?”, indaga. O rapaz tem fôlego, “o esforço é grande, mas o trabalho é compensador. Sou empreendedor. Levanto cedo e durmo tarde”, desabafa Khalil.

Desde 1965 no Brasil, Maged veio do Líbano aos 21 anos em busca de novas oportunidades; com familiares residindo aqui, escolheu a cidade. Quase sucumbiu às saudades, principalmente da comida da mãe. Tempos difíceis. Depois da primeira refeição fora de casa, não teve dúvidas, sabia que para sobreviver no estrangeiro teria de cozinhar. Estava acostumado com boas comidas. “Comida de primeira”, sentencia. Penhorou o que tinha para comprar um fogareiro e, movido pelo desejo de comer bem, foi atrás de temperos que aplacassem a vontade de voltar para a terra natal. Cozinhando com base apenas nas lembranças maternas, foi ficando. Fez amigos, casou e nunca mais deixou de cozinhar, o sonho de abrir um restaurante aconteceu, bem por acaso. “Tenho outros planos”, confessa. “E o cansaço?”, pergunto. “Tenho disposição, sinto-me jovem”, rebate, mesmo deixando transparecer a tristeza pela doença que deixou sua esposa acamada.

Malube, o virado libanês, prato com arroz, carne, berinjela e castanha, é uma das atrações da casa, mas o carro-chefe é o kafta cru, “é o melhor da cidade”, diz Khalil, acostumado a brincar desde criança na mercearia do pai e a cozinhar. Para a coluna, peço uma receita. Lembro-me do sabor do quibe assado que provei, e Maged desconversa, esse é só para você, e fala do arroz com lentilha, que é muito fácil. Um quilo de lentilha e 600 gramas de arroz. “Serve quantas pessoas?” Pergunto. “Ah, nunca calculei”, resposta de quem não utiliza receitas e está acostumado com fartura na cozinha, característica dos árabes. E segue falando: doure 300 g de cebola picada, acrescente a lentilha, cubra com água e cozinhe. Quando a lentilha estiver quase pronta (75% do cozimento), coloque o arroz, sal e temperos. Sirva com cebola cortada em meia-lua por cima (duas ou três fritas na manteiga). Simples assim. O segredo da família? “Mão e tempero”, afirmam. Terminado o horário do almoço, e com pouco movimento na casa, aproveite  para pedir café fresco para o seu Maged. É perfumado.

O Armazém Califórnia funciona no almoço das 11h30 às 14h, aos sábados até as 15h e no jantar com reserva. Rua Saldanha Marinho, 61 – Centro. Telefone (41) 3223-3084.


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