Gastronomia
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
06.03.13
Escolhas de risco
por Luiz Carlos Zanoni

Os restaurantes descobriram que a enologia pode ser mais rentosa do que a gastronomia. O lucro, dependendo da garrafa escolhida, é maior nela do que nos pratos, o que explica o esforço das casas em trazer para o vinho a clientela.

Foto: Cleber Passus

Muitas instalaram adegas envidraçadas, os rótulos estrategicamente visíveis. À mesa, perfilada junto aos pratos, a bateria dos copos de tintos e brancos saúda o comensal. A carta de vinhos precede a chegada do cardápio, assim como a proposta de uma taça de espumante, em alguns lugares sem custo, oferta da casa.

Atenção: nada contra. Melhor parceiro da comida, o vinho merece adegas climatizadas, copos adequados, serviço competente. O que ninguém merece são as distorções criadas pelo amadorismo ou pela cobiça. Acontece, por exemplo, de a bebida chegar à mesa na temperatura ambiente: sem climatização, a bela adega não passa de um depósito de garrafas. O inocente espumante é uma isca para atrair o cliente aos domínios de Baco. Pior, entretanto, são as imprecisões nas cartas, os preços abusivos, os sommeliers interessados mais em vender o produto do que orientar a escolha. Claro, não é regra, mas as exceções proliferam.

Alguma saída além de pedir cerveja? A melhor, certamente, é apelar para a adega pessoal, ligar perguntando se o restaurante aceita o vinho do cliente (a maioria aceita), honrar a taxa da rolha e assunto resolvido. Mas se a opção for mesmo por algo do estabelecimento, passe ao largo dos chamados topos de gama, em geral caríssimos. O vinho é um acompanhante da comida, não deve se sobrepor a ela. Os que melhor desempenham são os de corpo médio, acidez e nível alcoólico bem calibrados. Rótulos chilenos e argentinos, assim como alguns portugueses e espanhóis, cumprem o perfil sem pesar tanto na conta.

E, a propósito, quanto é justo pagar? Nos países produtores, onde muitos restaurantes se abastecem diretamente nas vinícolas e os preços são mais civilizados, um critério é usar como equivalência o valor do prato principal. No Brasil fica difícil, pois o vinho tornou-se artigo de luxo em razão dos impostos e da longa cadeia comercial envolvida– importador, distribuidor, lojista, e, no caso, também o restaurante, cada qual estipulando sua margem de lucro. Por aqui, a base acaba sendo multiplicar por duas, três ou até mais vezes o valor do prato para se ter acesso a uma garrafa razoável.

Uma sugestão para evitar escolhas sob a pressão do momento é ir à internet. Boa parte das casas mantém sites onde o cliente faz a reserva e confere os pratos do cardápio, os vinhos da carta e os preços. Os previdentes podem, dessa forma, escolher antecipadamente sua garrafa. Outra alternativa é recorrer ao sommelier. Aí, nada de timidez. O cliente é rei. Diga sem rodeios quanto quer pagar e peça que ele indique o que há de melhor dentro desse limite. Guilherme Correa, eleito o melhor sommelier do País, costuma dizer que bom profissional é o que surpreende o consumidor com um vinho melhor do que o esperado por preço inferior ao imaginado. Que os seus colegas o ouçam.


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