FOTOS DE: Jorge Tadao Sato

24.06.12
Um clique de Lomo jamais abolirá o acaso
Dico Kremer

A acuidade e a tradição visual japonesas que há muito tempo exercem forte e inequívoca influência sobre as artes visuais ocidentais têm, em nosso país, representantes de peso. Os artistas plásticos Manabu Mabe, Tamie Ohtake e os fotógrafos Jorge Butsuen, Carlos Namba, Haruo Ohara para nomear alguns. Jorge Tadao Sato honra essa linhagem. Conheci-o no MON, trocamos cartões, vi seu trabalho em seu site: com 31 anos já é um mestre segundo a classificação de Ezra Pound sobre os escritores (e artistas). É um fotógrafo mas sua obra transcende a fotografia. O registro mecânico da imagem é um suporte para a sua arte visual. Tem como equipamento câmeras Lomo (Leningradskoje Optiko Mechanitschéskoje Objedinjénie – Leningrad Opto-Mechanical Corporation). Hoje são ícones e têm adeptos em todo o mundo. Câmeras baratas (algumas nem tanto) com muitos modelos e tipos diferentes, analógicas e possuem uma diversa gama de efeitos e acessórios. E o que poderia, e na maioria das vezes é, se tornar banal, vulgar, incoerente, redundante, pelos olhos de Sato torna-se material novo, sensível, criativo. Formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing em 2005 em São Paulo foi trabalhar como criativo em agências de publicidade. Mas não se sentia bem entre quatro paredes em frente a um computador. Trabalhou com o fotógrafo fine art Cláudio Edinger por quase 3 anos. E aí a sua bússola interior apontou o seu norte: a fotografia. A fotografia arte. O digital não respondia a tudo o que Sato imaginava, pensava, procurava. Usa de preferência câmeras médio formato analógicas (Rolleflex e Yashica TLR) e as, hoje famosas, Lomo. E o que busca na sua não-rotina, conforme ele mesmo coloca, é vivenciar algo novo, viver várias realidades que junto com sua liberdade de criar proporcione outros pontos de vista não convencionais daquilo que fotografa. Para Sato a relação entre o fotógrafo e o filme é, talvez, mais intimista e introspectiva que a da fotografia digital. Em suas fotos com as Lomo tem como aliados ao seu talento, a inspiração, a imaginação, a limitação técnica, a instabilidade, o inesperado,  o acaso. O uso que faz do Photoshop é somente para ajustes de cor, tom, algum corte. Não o utiliza para montagens e fusões. Das várias fontes em que bebeu destaca a do Romantismo (Romanticismo) do final do século XVIII nas artes plásticas. Muitos puristas viram a cara para a lomografia. Ela se tornou um objeto cult, foi banalizada. Em shoppings passeiam garotas com as suas Lomos coloridas, como barbies, penduradas ao pescoço, sem filme em seu interior. Nas casas dos que podem gastar dinheiro com custosos objetos de decoração é comum ver, sobre a mesa da sala de visita, apoiada delicadamente sobre caros livros de arte uma câmera Lomo. Ela jamais irá fazer um clique para fotografar como jamais serão abertos e lidos os livros de arte. Estão ali como objetos de decoração. E é disso que o artista fotógrafo Sato foge. Para os interessados: www.jorgesato.com.

 

Dico Kremer



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