Política
03.09.2015
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19.06.14
O mutável cenário das eleições
por Adalberto Vera

Há três meses, nenhum apostador jogaria todas as suas fichas na vitória de outro partido que não fosse o PT de Lula e de Dilma Rousseff


Há três meses, nenhum apostador jogaria todas as suas fichas na vitória de outro partido que não fosse o PT de Lula e de Dilma Rousseff. Pois, pois, de lá para cá, tudo mudou na campanha presidencial. Segundo a pesquisa mais recente, Dilma Rousseff, que parecia insuperável, bateu no limite, com 35%. A oposição ao PT superou o terço aritmético, ao somar os 23,7% de Aécio e os 11% de Eduardo.

Com esses números, teríamos segundo turno, o que significa outra eleição, completamente diferente da primeira, quando Dilma provavelmente enfrentaria o tucano Aécio Neves, que teria apoios ilimitados de todas as oposições e de faixas importantes de partidos, grupos e centrais que hoje apoiam o governo.

A primeira mudança significativa no quadro recente foi que Dilma decidiu lutar pela reeleição, quando uma consistente massa de petistas, acompanhada de jornalistas bem informados, assegurava que Lula se dispunha a ser candidato no lugar da “presidenta trapalhona”.

A presidente fez uma declaração sem precedentes em sua história: disse que confia na “lealdade” de Lula a ela. Ora, a palavra “lealdade” tem uma cor hierárquica. É mais comum eu me dizer leal a meu superior, do que ele se considerar leal a mim, seu subordinado. O que Dilma disse foi, em outras palavras: “Eu sou a presidenta”. E quero continuar sendo. Não desisto fácil - nem mesmo em favor de Lula.

Ao mesmo tempo, Aécio Neves obteve vantagem sobre Eduardo, que perdia votos ao demonstrar excessiva timidez em suas tomadas de posição. O ex-governador de Pernambuco tenta caracterizar-se como uma oposição “light”, que procuraria ser o pós-PT mais que o anti-PT.

Lula e Eduardo permitem que a cena seja tomada por Dilma e Aécio. Esse parece ser o segredo: quem bate pesado demais no PT corre o risco de assustar os que admiram a inclusão social que esse partido promoveu. Assim, desde José Serra, em 2010, os candidatos da oposição procuram falar em “pós-PT” ou pós-Bolsa Família, em vez de baterem de frente no que o Partido dos Trabalhadores fez no governo. Quem conseguir que os eleitores acreditem nisso terá fortes chances de ser eleito.

Mas Eduardo Campos também procurou ser o tucano leve. Quis ser aceitável para os que se cansaram de um lado ou outro, mas sem com isso irem do PSDB ao PT ou vice-versa. O problema, com isso, é que o candidato ficou sem identidade ou público próprio.

 

O fator Marina Silva

Marina Silva não gostou do resultado. Ela pode muito bem ter um projeto econômico que em muitos pontos converge com o dos tucanos, mas seu diferencial está na origem ecológica, que é o que dá cor ética à proposta dos sustentáveis. Porém, quando Eduardo Campos parece fazer o papel de segundo de Aécio, no encontro empresarial de Comandatuba ou no comício da Força Sindical em S. Paulo, ou quando lemos nos jornais cálculos de como seria um governo de coligação entre os dois partidos de oposição, a mensagem específica da terceira via se perde. Com isso perde a Rede, que não esperava isso ao se incorporar ao PSB, mas também perde o Partido Socialista, que fica parecendo mais um segundo PSDB do que uma agremiação com proposta e convicções identificáveis.

Some-se, a esse redesenho dos candidatos, uma mudança na postura interna ou na atitude pública dos empresários. Faz dois meses, ainda parecia dominante, nesse importante segmento da opinião, a preferência por Lula, o pragmático. Mas, ou porque Lula não será candidato, ou porque a ideologia da oposição sorri mais ao capital, viu-se definições claras de líderes patronais contra o PT.

O panorama favorece, em primeiro lugar, os dois partidos que ocuparam o Palácio do Planalto desde a eleição de 1994. O PT está tendo êxito em colar nos dois ex-ministros de Lula que devem formar a chapa do PSB, Eduardo e Marina, a marca de candidatos de oposição. A proposta de promover uma conciliação entre os dois lados, um meio termo, ou uma terceira via com uma alteração sensível no conceito de desenvolvimento, fica seriamente prejudicada se o PT conseguir apresentá-los como defensores do arrocho salarial ou, ainda, como vertente auxiliar do PSDB.

Essa estratégia, por sinal, acabará favorecendo também os tucanos, porque se no País tivermos só duas forças políticas principais, por que votar no PSB em vez do PSDB, por que preferir o incerto ao conhecido?

Em segundo lugar, o PT também está alcançando um certo êxito em pregar nos candidatos de oposição a imagem de opositores das políticas sociais. A declaração de Aécio Neves, prometendo aos empresários “medidas impopulares”, pode ter sido positiva para o candidato tucano granjear apoios substanciais nesse setor, inclusive reduzindo o espaço de Eduardo - mas sinaliza, para o restante da sociedade, o risco de uma opção preferencial pelos ricos, com um arrocho salarial.

 

Bom cenário para o PT

Para o PT, esse é um bom cenário de disputa, que fica entre ricos e pobres ou, para ser mais preciso, entre os vulneráveis a qualquer soluço da economia e aqueles cuja renda ou fortuna superior protege melhor de recessões e depressões. É claro que, do lado antipetista, este confronto será chamado de anacrônico, ou será debitado na conta do PT, como se o conflito pela apropriação dos recursos fosse uma invenção retórica, esquerdista, sem base na realidade.

Mas há uma disputa real, entre os que consideram que deve prosseguir a agenda petista de inclusão social e os que a criticam porque a economia, se continuar no rumo petista, estaria em sério risco. O aspecto bom disso tudo é que é melhor debater a economia na campanha eleitoral do que desviar a atenção destas questões, cruciais, apelando à agenda moralista do ataque a aborto, casamento homossexual e ateísmo.

Confirmada a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, o próximo passo da campanha é mesmo conversar com os empresários que estão lotando as plateias dos candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), para mostrar a eles o que vai significar a saída do PT do poder.

Emissários são enviados para iniciar essas conversas e aos empresários será dito que se a oposição for vitoriosa nas eleições de outubro será o fim do crédito subsidiado do BNDES, o fim das desonerações da folha de salários, haverá um realinhamento instantâneo dos preços da gasolina e da energia e o programa Minha Casa Minha Vida, que alimenta a indústria da construção civil, também vai acabar.

“Ou seja, Campos ou Aécio deverão dar um cavalo de pau na economia que será recessivo”, diz um assessor de Dilma. Quando usou a rede nacional de rádio e televisão para um pronunciamento em comemoração ao 1º de maio, a presidente Dilma Rousseff falou como candidata. Vestiu tailleur azul, dispensando o vermelho do Partido dos Trabalhadores; definiu de que lado está - “dos mais pobres e da classe média” -; e entrou na disputa com a segurança de que terá o apoio do PT.

O movimento “Volta Lula” já havia sido equacionado em uma conversa dela com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 4 de abril, em São Paulo. Ali, o martelo foi batido: a candidata é Dilma Rousseff. Espera-se, assim, que o crescente apelo para o retorno do ex-presidente esteja estancado.

 

Os efeitos da inflação

No Palácio do Planalto o diagnóstico é de que Dilma perdeu um pedaço importante da base de eleitores do governo do PT, que desde Lula tem girado em torno de 42% dos votos, por causa da inflação. Foram os aumentos de preços, sobretudo dos alimentos, que a fez cair para a casa dos 36% a 37% das intenções de voto.

O pronunciamento do 1º de maio foi destinado a reconquistar esses eleitores. A ideia que Dilma pretendeu deixar clara no discurso foi de que “eu tenho lado e o meu lado é o dos trabalhadores”, explicou uma fonte oficial.

Com esse mesmo objetivo, ela anunciou as medidas de correção de 4,5% da tabela do Imposto de Renda, em 2015 (índice abaixo da inflação de mais de 6%); e o reajuste do Bolsa Família.

Assessores da presidente recomendam não buscar no texto do pronunciamento sinalizações para um eventual segundo mandato. Mesmo o compromisso com a valorização do salário mínimo, assumido no discurso, não deve ser lido necessariamente como a manutenção da atual fórmula de reajuste cuja vigência se encerra em dezembro de 2015.

A partir da certeza de que Dilma é a candidata do PT, seu governo começou a mudar de comportamento, disse uma fonte oficial. Por exemplo, reagiu de imediato à tentativa da Cemig, distribuidora de energia de Minas Gerais, Estado governado pelo PSDB de Aécio Neves, de responsabilizar o governo federal pelo aumento de 14,3% da tarifa de energia. Coube à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) responder que, ao contrário, a Cemig queria um reajuste bem mais salgado, de 29,74%, e que à agência reguladora cabe apenas estabelecer um teto para os aumentos de preços.

De agora até as eleições de outubro, a presidente estará voltada para a campanha. Não será encontrado nos seus discursos o que o PT tem chamado de “sincericídio” dos candidatos de oposição, ou seja, a antecipação de medidas duras que terão que ser tomadas na área econômica para recolocar o país na trilha do crescimento.

Não haverá, assim, clareza do que será um eventual segundo mandato de Dilma, embora se saiba que ela também terá que promover ajustes se quiser colher melhores resultados do que os do primeiro mandato. Nesse período o país conviveu com inflação alta e crescimento baixo como produto das escolhas do governo. Campanha, como lembrou uma fonte próxima à presidente, é para ganhar a eleição. Governar é outra coisa.

 

O drama das estatais

O maior problema de Dilma e dos candidatos do PT será explicar os estragos do governo petista em estatais que enfrentam enormes dificuldades num governo do partido que se arvora em intransigente defensor das empresas públicas. Usa, inclusive, esta imagem como instrumento eleitoral. Foi assim em 2006, quando o partido acusou os tucanos e seu candidato a presidente, Geraldo Alckmin, de tramarem mais um programa de privatização, num apelo ao instinto nacionalista das ruas. O PSDB não soube responder à manobra, e Alckmin perdeu para Lula.

Tudo desandou no governo de Dilma Rousseff, no qual a Petrobras e o braço estatal do setor elétrico sob controle da União enfrentam sérios problemas, curiosamente impostos por políticas equivocadas do Planalto.

Se fosse outro governo, com o PT na oposição, já teriam ocorrido tentativas de instalar CPIs no Congresso, e haveria grande mobilização política em torno de um alegado projeto de levar estatais à ruína para privatizá-las a preço vil.

Os dados objetivos sobre a Petrobras e a Eletrobras denunciam uma gestão desastrosa. No caso, do principal acionista das empresas. O mergulho dado pela cotação das ações das duas é revelador. A da Petrobras estava em R$ 29 quando Dilma assumiu. Desabou para abaixo dos R$ 15. Defensores do governo argumentam que, por trás da oscilação do valor de mercado da empresa, há variações no preço do petróleo no mercado internacional. Sim, mas enquanto as cotações voltavam a subir no mundo, a Petrobras continuava a se desvalorizar.

Há, portanto, causas específicas na desvalorização patrimonial da empresa. Duas delas: o uso da estatal como instrumento de controle da inflação, com o virtual congelamento do preço de combustíveis, vendidos no mercado interno abaixo do custo de importação, e a sua conversão em instrumento de substituição de importações de equipamentos, mesmo sob o risco de atrasos na execução de projetos e perda de eficiência operacional. Na administração de Graça Foster, há tentativas de se flexibilizarem algumas dessas regras para não prejudicar ainda mais a eficiência da empresa.

No plano geral, é a subordinação da Petrobras a objetivos político-ideológicos que afasta investidores de suas ações. No caso do sistema elétrico, há a subjugação da Eletrobras e subsidiárias ao projeto eleitoreiro de corte da conta de luz em 20%, também a qualquer custo. Resultado: o valor de mercado da Eletrobras caiu 75,8% desde 2010, de R$ 46 bilhões para R$ 11 bilhões. Como para a Petrobras, isso dificulta a capitalização futura da companhia via mercado de ações. Tem sido tão ruinosa a intervenção do governo no setor elétrico que ela gera um rombo fiscal nas contas públicas, devido a subsídios para evitar repasses ao consumidor antes das urnas de outubro. Enfim, é de suprema ironia que, ao subordinar estatais à visão intervencionista em voga no Planalto, o governo do PT aja como grande predador de empresas públicas.


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