Política
03.09.2015
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17.09.14
A ascensão de Marina
por Roberto Nascimento

A discreta candidata a vice de Campos que virou a presidenciável a ser batida

Foto: PSB

Desde o momento em que a morte de Eduardo Campos (PSB) foi confirmada, em agosto, era evidente que a tragédia repercutiria na corrida presidencial deste ano. A queda da aeronave que levava Campos ao litoral paulista aconteceu no dia 13 de agosto, a menos de dois meses do primeiro turno, que acontecerá dia 5 de outubro.

Marina Silva, até então, era vice de Eduardo Campos. Depois de sair do PV, partido pelo qual concorreu às eleições presidenciais de 2010 e conquistou expressiva votação, Marina tentou viabilizar sua candidatura à Presidência da República em uma nova legenda, a Rede. A manobra não deu certo por causa da falta de assinaturas necessárias para legitimar a legenda no TSE.

Coube à antiga filiada do PT, partido pelo qual militou durante três décadas, e ex-presidenciável do PV, filiar-se ao PSB e aceitar o convite de Eduardo Campos para ser a candidata a vice-presidente da República na chapa do Partido Socialista Brasileiro.

A parceria entre os dois parecia promissora. Somados os índices dos dois candidatos, a dupla tinha 22% em março de 2013 e, depois, 34% em agosto daquele ano, segundo o Datafolha. Antes da oficialização da chapa, que aconteceu em outubro de 2013, Marina Silva aparecia nestas pesquisas como provável candidata da Rede. Em março de 2013, Marina tinha 16% e Campos, pelo PSB, 6%. Em agosto do mesmo ano, também de acordo com o Datafolha, Marina subiu para 26% e Campos para 8%.

Os estudos seguintes, porém, demonstraram que a dobradinha Campos-Marina não convenceu o eleitorado brasileiro.  Se, somados, os candidatos alternavam entre 22% e 34%, a candidatura de Eduardo Campos, pelo PSB, com Marina Silva vice, passou longe desses números. Um levantamento do Datafolha, divulgado poucas semanas antes do desastre, mostrava Campos com 8% das intenções de voto. Bem distante dos 19% conquistados por Marina Silva, pelo PV, em 2010 e ainda mais longe dos mais de 30% sugeridos pela soma das intenções que os dois candidatos tinham no final de 2013.

Os levantamentos mostraram que Eduardo Campos ficou, praticamente, com a mesma popularidade apesar do apoio de Marina. Os votos de Marina não migraram para o PSB. Indício de que a dobradinha não tinha emplacado e de que havia uma figura política de enorme apelo popular adormecida.

A grande virada

O potencial eleitoral da candidata, reforçado pela comoção nacional causada pela morte de Campos, ficaram escancarados já na primeira pesquisa realizada após a tragédia. Marina Silva, era, enfim, candidata oficial do PSB à Presidência da República, com Beto Albuquerque na posição de vice.

Divulgado pelo Ibope dia 27 de agosto, o primeiro estudo deste novo cenário apontou Dilma Rousseff (PT) com 34% das intenções de voto (4% a menos do que no começo de agosto, antes da tragédia), Marina Silva (PSB) com 29% (20% a mais do que os 9% alcançados por Campos) e Aécio Neves (PSDB) com 19%, com queda de 4% em relação ao registro anterior. Como a margem de erro deste estudo era de 2% para mais ou para menos, ainda não estava caracterizado empate técnico, porém, este mesmo levantamento apontava vitória de Marina Silva no segundo turno por 45% a 36%.

Nas pesquisas seguintes, divulgadas pelo Datafolha e Ibope, a confirmação da ascensão de Marina. E, desde então, essa tem sido a tendência das pesquisas: empate técnico ou vitória modesta de Dilma no primeiro turno, sempre na casa dos 30%, a exemplo de Marina, e vitória do PSB no segundo turno por diferença de pelo menos 7%, eliminando a chance de empate técnico. Marina passava a ser, agora, uma candidata mais forte do que aquela que saiu pelo PV em 2010, desta vez em um PSB mais sólido do que aquele que tinha Campos como presidenciável.

Marina evolui, também, no maior colégio eleitoral do país. De acordo com a Pesquisa Ibope divulgada na primeira semana de setembro, a candidata tem 42% das intenções de voto de SP, que representa 22,4% dos eleitores do país, contra 23% de Dilma e 18% de Aécio. No Paraná, além de outros Estados, a candidata também é favorita, com 34%, contra 28% de Dilma e 22% de Aécio, de acordo com o mesmo estudo.

Aécio Neves, o maior prejudicado

Assim que os especialistas passaram a esboçar o cenário pós-tragédia, as projeções pareciam interessantes para Aécio Neves. “Os eleitores de Campos migram para Aécio, os novos eleitores, os de Marina, tiram votos de Dilma”, era o que diziam os especialistas que observavam afinidade política entre Campos e Aécio e entre Dilma e Marina.

As expectativas não se confirmaram. Primeiramente, Marina pegou o voto de grande parte dos indecisos e daqueles que votariam nulo ou em branco. Antes, nulo, branco ou indecisos, somados, registravam 27% aproximadamente; agora, beiram o 12%. Mais do que os quase 15% de indecisos ou que votariam em branco, a chapa de Marina pegou mais votos de Aécio do que de Dilma. Enquanto Dilma oscila, desde antes da tragédia, entre 34 e 37%, Aécio, que passava dos 20%, agora marca apenas 15% nas pesquisas. Além de pegar votos de eleitores que migraram de Marina para Aécio, a candidata diluiu as concretas e reais chances do tucano ir para o segundo turno.

Agora, Aécio vê em Marina uma candidata que pode tirá-lo do 2° turno, enquanto Dilma vê em Marina alguém que pode tirá-la da Presidência. As duas convicções são respaldadas pelos levantamentos dos principais institutos de pesquisa.

O cenário é mais indigesto para o tucano. Antes da tragédia, Aécio aparecia como principal alternativa para os eleitores que reprovam o atual governo e chegou a empatar tecnicamente com Dilma em uma disputa de segundo turno (44% para Dilma, 40% para Aécio, segundo Datafolha em julho, semanas antes da tragédia). Do dia para noite, o tucano virou a terceira força, com menos da metade das outras duas opções, sem passar da casa dos 20%.

Para Dilma, a situação preocupa, mas não é tão diferente do cenário que contava com Eduardo Campos. Antes, a petista tinha que lidar com projeções de empate técnico no segundo turno com Aécio. Agora, luta para reverter um quadro que mostra uma tímida derrota no segundo embate para Marina Silva.

Possível estagnação?

A análise fria e cautelosa dos números indica que a ascensão de Marina deve desacelerar e pode, até mesmo, apresentar um regresso. Dificilmente a candidata manterá o crescimento assustador, que a levaria à Presidência da República já no primeiro turno.

Quase um mês depois da tragédia e a aproximadamente um mês do primeiro turno, as pesquisas mostram que a presidenciável do PSB começa a ter uma sutil queda enquanto Dilma Rousseff e Aécio Neves ensaiam uma recuperação. Se a primeira pesquisa com a participação efetiva de Marina apontava vitória da candidata do PSB, no segundo turno, por 9% de diferença (45% x 36%), pesquisas de Datafolha e Ibope, divulgadas na primeira semana de setembro, mostram que a vantagem de Marina caiu para 7% (46% x 39% no Ibope e 48% x 41% no Datafolha).

A rigor, pode-se dizer que Marina parece estar no auge da sua popularidade, e que, a partir de agora, luta para perder o menor número de votos possíveis até a eleição. Atualmente, de acordo com pesquisa do Datafolha, Marina tem 7% de vantagem para Dilma Rousseff no segundo turno, sendo que, no limite da margem de erro, essa vantagem pode variar entre 3% e 11%.

Marina vive um momento inesperado e favorável para uma candidata que em 2010 foi a grande surpresa das eleições e em 2014 parecia fadada à figuração, tendo fracassado na tentativa de transferência de votos para Campos.

Agora, no imprevisto papel de favorita e candidata a ser batida, resta saber se a candidata do PSB tem fôlego e envergadura para manter a liderança até o final das eleições e assumir a Presidência do Brasil.

Calcanhares de Aquiles

Marina Silva incomodou e incomoda, em maior ou menor proporção, Aécio Neves e Dilma Rousseff, que não esperavam o surgimento de uma terceira força avassaladora nesta corrida. Esta evidência a coloca no centro de ataques que vêm de todos os lados.

A candidata colabora e dá margem para questionamentos e acusações dos concorrentes. Recentemente, Marina Silva retirou de seu programa de governo o apoio ao casamento civil gay. Luciana Genro, presidenciável do PSOL, provocou: “Seu compromisso com o casamento igualitário não durou 24 horas e 4 tweets do Malafaia”, disse Genro em um debate no SBT.

A candidata do PSOL se referiu às postagens do Pastor Malafaia, que, na véspera do recuo de Marina, havia postado: “Até segunda eu espero um posicionamento de Marina sobre o lixo moral do Programa de Governo do PSB para favorecer a causa gay”. E complementou, em tom de ameaça: “Se Marina não se posicionar até segunda, na terça será a mais dura e contundente fala que já dei até hoje sobre um candidato a presidente”, postou Malafaia.

Os recuos de Marina em causas polêmicas têm sido um dos principais alvos que os adversários escolheram para atacar e não se restringem à questão do casamento gay. Marina também voltou atrás no tema ditadura e, agora, defende Anistia a torturadores. Ironicamente, os adversários atacam a fragilidade das convicções de Marina, dizendo que sua média é de “um recuo por dia”.

As contradições da candidata também foram reprovadas por pessoas que, até então, eram aliadas e entusiastas da campanha. O escritor amazonense Milton Hatoum é um exemplo. Hatoum era uma das celebridades que apoiavam a campanha de Marina, mas, agora, diz que, com este recuo em relação ao casamento gay, “não faz mais sentido nenhum votar no PSB”. O escritor ainda acrescentou e disse que o desencanto que teve com Marina Silva foi quase total.

Para além desta inconstância, os adversários também acusam um suposto caráter aventureiro e irresponsável da jornada de Marina.

Em seu programa político, Dilma Rousseff comparou a eleição de Marina Silva à renúncia de Jânio Quadros e ao impeachment de Fernando Collor, dando a entender que não é uma boa escolha o brasileiro eleger um novo “salvador da pátria”.

Marina Silva, por enquanto, tem reagido às criticas que recebe. Em entrevista ao Estadão, rebateu a comparação de Dilma e disse: “Eu comecei como vereadora, fui eleita deputada, senadora por 16 anos, ministra do Meio Ambiente. Imagina se eu dissesse que uma pessoa que nunca foi eleita nem vereadora fosse eleita presidente do Brasil? Aí sim poderia parecer Collor”.


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