Política
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
10.11.14
Que país é este?
por Adalberto Vera
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Abr

A pergunta, feita por Machado de Assis, Francelino Pereira e pela banda Legião Urbana, volta à cabeça ao término destas eleições presidenciais. Mais uma vez frustrou-se a esperança de ver encerrado um ciclo político dominado pelo lulopetismo que completa 12 anos e que agora terá mais quatro e a ameaça de pretender mais oito com a volta de Lula em 2018.
Que fazer? “No Brasil, até o passado é incerto”, disse Pedro Malan. A repetição exaustiva de mentiras e dissimulações, o roubo das realizações de terceiros, a maquiagem da crise, a negação do quadro de deterioração moral marcada pelas denúncias de corrupção no governo, tudo demonstra que o PT, mais uma vez, soube reescrever o passado para garantir mais quatro anos no poder e um futuro cômodo para a esquerda funcionária que habituou-se a benesses e sinecuras.
Reeleita, com 51,64% dos votos, a presidente Dilma Rousseff, do PT, terá que encarar a realidade. O Brasil de 2015 será um país bem diferente do que aquele que recebeu em 2011. Mais fragilizado economicamente e rachado no campo político.
A crise econômica que resulta de quatro anos de políticas equivocadas, a crise política e institucional de um país dividido, a profunda crise moral de um país devastado pela corrupção. Terá quatro anos para transformar sua herança, marcada por atividade fraca, inflação alta e artimanhas fiscais, numa agenda de retomada do crescimento.
Será difícil colar os cacos de uma sociedade profundamente dividida depois de uma campanha feroz. Dilma Vana Rousseff, 66 anos, permanece no poder graças a uma campanha baseada no terrorismo eleitoral, de um lado, e, de outro, numa espantosa sequência de ataques sórdidos ao adversário num grau que jamais ocorreu desde a volta das eleições diretas para a Presidência, em 1989.
Dilma Rousseff colocou em dúvida que Aécio mantivesse programas sociais que beneficiam dezenas de milhões de brasileiros, como o Bolsa Família ou o Minha Casa Minha Vida, contra as sucessivas e formais garantias do adversário de que continuariam e seriam aprimorados. Se Dilma apenas colocava em dúvida, militantes do PT e partidários espalhavam a mentira como sendo verdade por todo o país, especialmente no Nordeste, lançando mão de todos os meios possíveis — desde cartazes e carros de som até as redes sociais.
Algo semelhante ocorreu com a suposta intenção de Aécio de sufocar os bancos públicos, como também se distorceram as intenções do candidato quando a presidente alegava que prováveis “medidas impopulares” pretendidas por Aécio na economia seriam — como se fossem sinônimos — “medidas contra o povo”. Demagogia baixa e barata, já que apenas governantes que entram para a história ostentam a coragem de adotar medidas impopulares do ponto de vista eleitoral, mas necessárias para corrigir rumos da sociedade ou da economia, pensando não na eleição seguinte, mas nas gerações futuras.
Além do terrorismo eleitoral, também foi coisa feia a “desconstrução” dos dois governos de Aécio em seu Estado, Minas Gerais (2003-2010), com acusações inteiramente falsas sobre supostos “desvios de recursos” da saúde, entre outras baixarias.
O pior foram as insinuações feitas por Dilma, inclusive em debates presidenciais, sobre a vida pessoal do adversário — a senha para campanha suja, capitaneada do alto de palanques por um ex-presidente Lula que parecia possesso ou alcoolizado, segundo a qual o candidato tucano tem o hábito de ser violento com mulheres, de beber demais e de usar drogas.
Os desafios são muitos. Vão desde o restabelecimento do equilíbrio das contas públicas, passa pela inversão do déficit nas transações correntes até chegar no alinhamento entre política monetária e fiscal. A estagnação dos indicadores de desigualdade social torna ainda mais urgente a correção dos deslizes.
Dramático será perceber que a presidente, mais uma vez vitoriosa, entender que teve a chancela do povo brasileiro para seguir adiante com sua estratégia de priorizar a demanda, ou seja, o consumo, em detrimento da oferta. Ainda que ela defenda a bandeira do “governo novo, ideias novas”, não há solução mágica. Durante a campanha, Dilma Rousseff demonstrou que não acredita que a economia parou de crescer em razão de suas políticas mal concebidas, do discurso intervencionista, da visão que de que o Estado é quem deve ser o principal condutor do crescimento. A presidente também não acha que temos um problema fiscal em gestação com o uso desgovernado do crédito público.
Com Dilma, o Brasil deve crescer, em média, menos de 2%, metade do que avançou no período Lula. Além do mais, desta vez, pode não haver crise hídrica ou externa para atribuir a culpa da desaceleração. Na verdade, quem dita o atraso é a estratégia da presidente. Como reflexo do baixo nível da atividade econômica, Dilma deixa de presente grande parte das obras prioritárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) atrasadas, como a transposição do rio São Francisco e a refinaria de Abreu e Lima - esta última, inclusive, investigada por superfaturamento, conforme aponta o Tribunal de Contas da União, o TCU.
Diante deste cenário nada animador, não resta dúvida de que 2015 será um ano difícil. Fazer ajustes fiscais vai ajudar o Brasil a crescer, e não o contrário. É por meio desse processo que o próximo governante vai desfazer distorções provocadas por políticas equivocadas, a fim de retomar o caminho do equilíbrio econômico, diz Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting. Para afastar o fantasma do rebaixamento, imposto pelas agências de classificação de risco, a economista ainda sugere uma avaliação minuciosa de todas as benesses fiscais concedidas durante o governo, como desonerações de impostos apenas para alguns setores. O ajuste terá  de passar por uma maior contenção de gastos de custeio, como despesas e terceirizações. “O mais triste é que esse tipo de medida afeta, diretamente, a parcela mais pobre da população”, lembra Evaldo Alves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na pauta do próximo governo, também está a liberação de preços administrados, como gasolina, transporte e energia, que foram segurados este ano para não arranhar ainda mais a já tão debilitada credibilidade da presidente. Economistas não descartam a possibilidade de que o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPCA), que já ultrapassa o teto da meta do Banco Central (BC), de 6,5%, encoste na casa dos 7%, mesmo que isso venha acompanhado de uma queda do preços de commodities no mercado externo. Também será tarefa do próximo governante solucionar a crise energética que impôs novamente à população o risco de racionamento, com reservatórios em níveis mínimos, distribuidoras desabastecidas e térmicas a pleno vapor. A lista não para por aí.

Aécio pronto para 2018
Embora derrotado, Aécio Neves sai da campanha imensamente maior do que entrou. Um líder com um cartel fabuloso de votos, uma postura de firmeza diante do lulopetismo e um programa de governo moderno e coerente. Com apenas 54 anos de idade, é, desde já,  o nome da oposição para 2018.
Ele que a certa altura da caminhada se viu escanteado para um terceiro posto nas intenções de votos pelos institutos de pesquisa quando a morte trágica de Eduardo Campos (PSB) fez entrar na campanha a candidata Marina Silva, começou a ser abandonado por companheiros e viu temporariamente minguar contribuições financeiras, deu uma inédita, extraordinária volta por cima.
Aécio Neves é o  mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização, em 1985. Obteve a espetacular votação de pouco mais de 51 milhões de votos dos brasileiros — em números absolutos, quase a votação recebida por Lula quando se elegeu em 2002 — e, entre outras proezas, foi o candidato mais votado em qualquer eleição em todos os tempos no maior Estado brasileiro, São Paulo — recebeu 15,2 milhões de votos, 3 milhões a mais do que o governador tucano Geraldo Alckmin alcançou para vencer a reeleição já no primeiro turno e quase dois terços dos paulistas que compareceram às urnas.
Sai da eleição como o mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização — como nada ocorre por acaso, um retorno à democracia no qual seu avô, o presidente Tancredo Neves, cumpriu papel fundamental.


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