Política
03.09.2015
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03.09.2015
14.09.12
Agenda do dia
por Renan Machado

Acompanhamento de um vereador em campanha mostra rotina de compromissos do parlamentar com eleitores


Em idos de eleição, os falatórios sobre política tornam-se mais corriqueiros que o normal. Seja na fila do pão, no happy hour de sexta-feira ou portão de casa, debate-se sobre o trabalho desse ou daquele candidato. Seja ele bom ou ruim, elogia-se no caso de medidas visíveis e rebate-se com pedras na mão se nenhum projeto desfila nos noticiários. Até mesmo o eleitor do voto branco ou nulo, índice que sofreu aumento de 22% nas eleições de 2008 em relação à acontecida quatro anos antes, dá seu pitaco. “Esse é isso”, dizem, “aquele é aquilo”, completam, “por isso voto nulo/branco”, concluem. Mas a verdade é que, mesmo mais antenado que anos atrás, o eleitor ainda conhece pouco da atuação, em linhas gerais, dos candidatos que elege; ou deixam-se seduzir, com olhos no próprio umbigo, por propostas que corroboram seus interesses; ou, ainda, votam nos dígitos marcados na memória pelo jingle do candidato.

A fim de mostrar como funciona a rotina de um vereador, o parlamentar Sergio Renato Balaguer, o Serginho (do posto), do PSDB, em busca do terceiro mandato nas eleições deste ano, concordou em ser acompanhado durante um dia todo de campanha eleitoral por regiões da cidade, também conhecida como “corpo-a-corpo”. Serginho, nascido em Pérola, Noroeste paranaense, vive em Curitiba desde 1982. O apelido, Serginho do posto, surgiu nos anos 90, quando gerenciou um posto de gasolina no Cajuru, bairro que acabou por tornar-se o principal reduto do vereador. Serginho faz campanha caminhando pelas ruas inclusive nos fins de semana, como foi o caso do dia 18 de agosto, um sábado.

9h

Vereador e equipe concentram-se no comitê localizado no complexo Cajuru desde antes desse horário. Os planos para o dia são revistos. Material de campanha organizado para o transporte. Os alto-falantes dos carros oscilam no volume, mas já garganteiam o jingle do candidato.

Com tudo pronto, a bordo de uma Kombi, vereador e equipe seguem em direção a dois bairros menores que integram o Cajuru: São Domingos e Acrópoles. No caminho são distribuídas as tarefas. Você isso, você aquilo. Serginho indica um local onde, por meio de um projeto seu, será implantada uma unidade das chamadas academias ao ar livre, famosas, na expressão chula, “estica-velho”.

10h

Chegada ao bairro São Domingos. Sem perder tempo, vereador Serginho inicia os trabalhos com a distribuição de material de campanha impresso. Na Rua Rotildo Polido, conversa com moradores e comerciantes da região.

Serginho explica a um comerciante, que vestia a camisa do Internacional, o objetivo do impresso que entrega-lhe em mãos. Em seguida, dirige-se à casa ao lado, onde o morador atende-o trajando uma peita do alvinegro praiano de São Paulo, o Santos. Imediatamente o torcedor colorado faz cara feia. A equipe paulista fora algoz do seu time do coração na Copa Libertadores 2012.

A filha de uma comerciante, pequena de seus sete ou oito anos, é forte cabo eleitoral do candidato tucano. Na escola, pede aos professores que votem em Serginho. Na manhã de sábado, junto da mãe no trabalho, ganha abraço do vereador.

Os carros de campanha seguem gritando o jingle de Serginho. Aqueles que insistem em permanecer na cama até a hora que cheirinho de comida sobe da cozinha têm seus planos frustrados.

11h

Na loja de produtos naturais, sólido número de jornais de campanha são deixados para distribuição, a pedido da pessoa que gerencia o estabelecimento. A pilha mistura-se aos aromas de alfafa e alcaçuz.

Desjejum da equipe: vereador estaca em uma panificadora para tomar um café da manhã tardio, após duas horas de trabalho de campanha. É recebido por Vanderlei, proprietário do comércio e estudante de Arquitetura e Urbanismo pela Tuiuti do Paraná. Serve pão, cuja massa leva sabor de leite Ninho, com queijo e presunto, enquanto fala de um projeto, elaborado por ele mesmo, que sugere melhorias no sistema viário curitibano.

12h

Em uma esquina, ainda no bairro São Domingos, o vereador é circundado por dezenas de pessoas. Todas querem lhe falar. Por quase uma hora faz o atendimento ali mesmo, na rua, distribui material de campanha e esclarece dúvidas.

13h

Hora do almoço. A equipe come reunida em um restaurante de buffet livre próximo da região de campanha. Por vezes, entre goles de Itubaína, gasosa remanescente desde os idos de 1954, e garfadas no arroz e feijão, ouve-se o nome de Serginho ser chamado por algum conhecido, que interrompe a refeição para lhe dar a mão e desejar bom apetite.

14h

Atendimento em outra área do Cajuru. Moradores reclamam de um erro de recuo em sua rua e reivindicam a correção da obra. Crianças, enquanto o vereador conversa com os populares insatisfeitos, jogam bete e sujam os pés calçados por sandálias na área de poeira que destaca-se na beirada do asfalto novo.

Em seguida, próximo dali, Serginho visita alguns outros moradores queixosos. A rua em que vivem está sendo pavimentada. Contudo, a obra ainda não terminada, aliada ao grande número de automóveis que por ali trafegam e o clima seco em Curitiba, faz com que nuvens de poeira levantem-se no ar. O vereador, por telefone, articula a possibilidade de bloquear o tráfego na rua.

15h

A equipe volta para a Rua Rotildo Polido, no São Domingos, a fim de dar continuidade à campanha na região de comércio plural em abundância. O jornal da campanha de Serginho, que ilustra seu trabalho, é distribuído em cada porta ou mesa, visto que, da mesma forma que chega ao ambulante que vende filmes na rua, é recebido pelo barbeiro que corta o cabelo de um guri à escovinha.

Comerciantes de uma loja de roupas reclamam da falta de coleta seletiva. Explicam ao vereador que o caminhão que recolhia o lixo reciclável deixou de passar pela rua onde eles moram, o que abre espaço para os catadores e seus carrinhos de lixo, o que, segundo os moradores, é ruim, pois estes catadores selecionam apenas os recicláveis que lhes interessam, abandonando o resto nas lixeiras.

Pouco antes de embarcar na Kombi e dirigir-se à outra região do bairro, Serginho é saudado por uma senhora de bengala, dona de três pinschers que latiam estridentes.

16h

Vereador vai à Rua Cecília Cubas, uma estreita viela onde são realizadas obras de drenagem. A rua quebra-se em ruelas ainda mais apertadas, que aparentam não ter saída, mas têm. Serginho conversa com os moradores temorosos por chuva sobre o andamento dos reparos. A pé, todas as casas são visitadas. No momento de saída do conjunto de pequenas ruas, uma verdadeira matilha de cães ameaça, sem sucesso, impedir os forasteiros de acessarem a Kombi estacionada na rua perpendicular.

17h

O dia de campanha nas ruas encerra-se no final da tarde. Antes, porém, do anoitecer e volta da equipe ao comitê, Serginho percorreu a Rua João Tobias, localizada no bairro Acrópoles. Entre o farmacêutico espirituoso, cheio de opiniões sobre a alma da política brasileira, e os clientes em geral do comércio, o vereador fechava o dia enquanto o sol tocava a linha do horizonte. No outro dia teria mais.


Tags: eleições; curitiba; vereador;



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