Política
03.09.2015
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03.09.2015
11.10.12
Ao vencedor, R$ 25 bilhões de nossos bolsos em quatro anos
por Adalberto Vera

O feliz vencedor das eleições deste outubro de clima indefinido terá R$ 25 bilhões à sua disposição nos próximos quatro anos. É o orçamento da cidade de Curitiba. Apenas em 2013, R$ 5,9 bilhões, o quarto maior orçamento entre as capitais brasileiras. Assim, polpudo e disputado, graças ao recorde de arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS), que chegará a R$ 1 bilhão no ano que vem.

O novo prefeito terá que administrar, apenas em 2013, R$ 5,9 bilhões. Curitiba tem o quarto maior orçamento entre as capitais brasileiras

O feliz vencedor das eleições deste outubro de clima indefinido terá R$ 25 bilhões à sua disposição nos próximos quatro anos. É o orçamento da cidade de Curitiba. Apenas em 2013, R$ 5,9 bilhões, o quarto maior orçamento entre as capitais brasileiras. Assim, polpudo e disputado, graças ao recorde de arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS), que chegará a R$ 1 bilhão no ano que vem.

Somam-se outros impostos, taxas e emolumentos, mais os repasses dos governos estadual e federal, do Banco Mundial e da Agência Francesa de Desenvolvimento. Parte desse dinheiro é carimbado, mas sempre remanejável, como demonstra a história recente.

Em todo caso, vá lá: para 2013 há previsão de R$ 1,12 bilhão para a saúde e R$ 1 bilhão para a educação, acima das cotas obrigatórias fixadas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Outro tanto para os programas sociais. Curitiba possui a maior rede de atendimento social do país, com 1.143 unidades.

O orçamento também prevê 12% para investimento direto na cidade, acima das médias históricas do governo federal, 2%, do governo estadual, 4%, e municípios brasileiros, 4%. Não é pouco. E se a cidade está agitada em obras neste ano, mais terá no ano que vem. Imaginem quando começarem a construção do metrô, que receberá a fundo perdido R$ 1 bilhão do governo federal e R$ 300 milhões do estadual.

Só de investimentos referentes à mobilidade urbana, por conta da Copa 2014, a cidade receberá diretamente R$ 770 milhões em três anos que, somados ao valor das obras no aeroporto Afonso Pena e no Eixo Metropolitano, chegam a R$ 920 milhões.

O povo escolhe, mas não leva

O futuro prefeito já sabe o que quer e o que terá nas mãos pelos próximos quatro anos, mas o povo ainda não se achou. Um instituto de pesquisa que está fora do mercado das sondagens sobre a preferência por candidatos, foi às ruas para perguntar ao cidadão se ele se lembra de alguma proposta de candidato a prefeito que considerou importante para melhorar a vida dos curitibanos.

Pasmem. Nada mais, nada menos que 68% não se lembraram de nada tão significativo. Outros 26% lembraram de promessas de benefícios para a sua rua ou para o seu bairro. Os outros 6% não souberam responder.

O que ficou na memória da maioria depois da campanha eleitoral. Ora, ficaram gravadas acusações recheadas de moralismo chinfrim. Nenhuma ideia maravilhosa. Algumas fantasias que o distinto público não engoliu, como a de metrôs aéreos, um posto de saúde em cada quadra, educação integral, vale-vovó, bolsa-motel e coisas tais que só confirmam uma antiga tese: os políticos nativos confiam na idiotice do povo.

Ou seja, os candidatos não responderam às expectativas dos eleitores. Elas são muito claras. Todos dizem que suas principais preocupações são com a segurança pública, aí incluído o combate às drogas e ao crime organizado em torno dessa atividade, em primeiro lugar. A segunda maior preocupação é com o serviço público de saúde. O povo exige expansão da rede de postos de saúde, de hospitais, de atenção médica e de remédios a custo baixo. Em terceiro lugar vem a educação. Pede-se a ampliação e melhoramentos no padrão da rede pública de escolas. Ainda há outra queixa relevante. O transporte público e o caos no trânsito. O restante da lista é grande, mas secundário.

Alguém deu resposta convincente sobre qualquer desses assuntos? Não. Prova de que os nossos candidatos não têm argumentos. E quando os políticos não têm argumentos, conjuram os espíritos. E como os argumentos andam raros ou são de pouco interesse para o distinto público, a tendência é que a campanha eleitoral evolua mesmo para a troca de insultos e de acusações. Neste ano o vício se repetiu: o debate tomou o rumo das cloacas. E é muito provável que tenham um segundo turno de debates escabrosos.

Já o povo é cada vez mais arredio. Desde que a política abandonou os grandes temas e desceu ao nível do baixo clero, político passou a ser sinônimo de caráter no mínimo duvidoso. Ninguém entregaria seu negócio para ser gerido por um político, nem compraria um carro de espécimes dessa fauna, mostra a mesma pesquisa. No entanto, a população é convocada a escolher, na marra, obrigado por lei, um desses distintos para gerir o caixa do dinheiro público.

Neste ano, a campanha eleitoral coincidiu com o julgamento do processo do “Mensalão” no Supremo Tribunal Federal, acontecimento que abriu as vísceras do PT e erradicou de vez a imagem de um partido de honestos, de trabalhadores, de políticos incorruptíveis. Caiu a máscara. O lulopetismo desandou. Agora é sinônimo de tudo que se atribuía a um político que se tornou célebre como emblema da corrupção. Não é sem sentido que o PT tenha se aliado a Paulo Maluf em São Paulo.

Guerra de insultos

Como escolher um dos candidatos depois dessa guerra feita de insultos e de denúncias graves, mesmo que muitas vezes sejam vazias e inócuas. Há décadas a política paranaense é feita com esse ingrediente, muitas vezes sórdido, mas que tem funcionado como fermento das candidaturas. A banda da oposição se arma de argumentos que à luz da razão seriam desprezíveis. Ou teriam outro significado. O time que está no poder faz o mesmo. Incrível é que esse discurso pega.

Outra fórmula vitoriosa é a da mentira sobre questões que calam fundo no imaginário popular. Roberto Requião elegeu-se governador por duas vezes com a promessa de acabar com o pedágio das estradas. Há deputados eleitos porque prometiam lutar pela reabertura do Banestado. E candidatos que perderam votos porque foram acusados de defender a privatização de empresas como a Copel e a Sanepar.

A cabeça da maioria dos paranaenses é estatólatra. Adora uma estatal onde um dia poderá pendurar o paletó numa cadeira e usufruir de uma sinecura. Sob a égide do PT, a prioridade passou a ser estatizar, ou seja, devolver ao Estado tudo o que possa e ampliá-lo o quanto possível para engessar um eleitorado cativo conduzido por elites absolutamente identificadas e clientes do sistema. É o patrimonialismo brasileiro. Discurso que faz sucesso é o que condena a privatização e que sempre vem acompanhado de denúncias de corrupção.

Aposta na ingenuidade

Ora, pois, assim é a política nesta área do planeta. Genuínos espíritos democráticos possivelmente não queiram desistir da esperança de que a credulidade da plateia não será eterna. De qualquer forma, vale aventar a hipótese de que as pesquisas sobre a cabeça dos paranaenses tenha a ver com o desencanto pela política e pelos políticos, pois a acachapante maioria de 82% diz que não confia neles para nada. Nem para cuidar de um carrinho de pipoca.

Bem, esses políticos têm o controle da máquina estatal ou de parte dela para manobrar, nomear, comissionar. É um espanto. Com 22 mil cargos de confiança, o Brasil ganha de lavada dos oito mil cargos de confiança dos Estados Unidos e dos quatro mil da França. Sem falar na Inglaterra, que tem apenas 300 servidores comissionados.

Para quem não sabe, cargo comissionado é de nomeação direta do governante, sem concurso público. A famosa sinecura. A boca livre. Quanto custa essa farra de cargos comissionados aos cofres da viúva?

Não se espantem, por favor. Essa farra custa R$ 200 bilhões. E lembrem 22 mil comissionados só no governo federal. Imagine se somarmos Poder Judiciário, Legislativo, governos estaduais e municipais. E é óbvio que o Estado no Brasil não funciona melhor do que o da Inglaterra. Eficazes para atrair apoios e garantir fidelidade cega a governantes, cargos públicos sempre foram disputados a tapas. Neles, políticos tentam encaixar suas turmas, de olho na eleição seguinte.

Nesse caldo vale tudo, o que justifica o caos ideológico que não contribui para a definição do eleitor e o leva a concluir que todos os políticos são iguais, ou seja, são portadores de todas as deficiências e vícios que se possa atribuir a alguém da espécie. É comum encontrar cidadãos que se dizem frustrados com a mudança de comportamento e de ideias do político que ajudou a eleger. Aos olhos de quem vota, é comum tropeçar em quem se diz democrata e crítico da esquerda e dos governos do PT e que se revelam admiradores do PT e de seus governos diante da primeira oferta.

Hanna Arendt insistiu na importância da verdade dos fatos como matéria-prima da política. Aqui, a sabedoria dos nativos diz que em política o que importa não é o fato, é a versão. Com a desfaçatez que os caracteriza, dizem que o que importa é a versão que consegue impor-se, no momento preciso, aos olhos da maioria, e não aquela que poderia ser a mais fiel ou a mais exata.

Talvez seja exagerado pensar que de Hanna Arendt aos nossos dias a teoria política tenha dado um passo à frente. Não é difícil constatar, no entanto, que probidade intelectual não é um ingrediente costumeiro, nem em política, nem em assuntos conjugais, nem em qualquer outro campo da convivência humana.

Os artistas da política

Em nossa pobre democracia, a fauna de marqueteiros, publicitários, jornalistas e assemelhados contratados a peso de ouro para turbinar candidaturas entendem que o mais importante é garantir que os fatos sejam interpretados da forma que lhes convém pelos meios de comunicação, pois o que vai decidir tudo, afinal, é a inclinação da maioria.

Bem feitas as contas, a matéria-prima da política por aqui não são nem os fatos nem as suas várias versões possíveis, mas a reação dos setores interessados e da opinião pública em geral diante deles. Essas reações é que são, digamos, o ingrediente básico da política.

É isso que torna o jogo político tão perigoso e tão pouco razoável. Para começar, os fatos não valem pela sua importância intrínseca, mas pela carga emocional que possam conter ou gerar, pois essa carga é que determina a reação popular.

Há o fator pessoal ou artístico. Um bom ator ou um talentoso demagogo pode fazer explodir um pequeno incidente e incendiar com ele quarteirões inteiros, enquanto que os medíocres tudo o que conseguem é chutá-lo pela sarjeta, como se fosse uma bola de meia.

Estes atores eficientes em seu ofício sabem se aproveitar do fator conjuntural, que em princípio se resume ao estado de espírito dominante, naquele momento, entre a população. Esse fator, que é o que mais preocupava Hanna Arendt, resulta do acúmulo de sentimentos diversos, preconceitos e crenças, que às vezes a frustração e o medo exacerbam terrivelmente. Hitler, Stalin, Mussolini foram sem dúvida atores de gênio, mas boa parte de seu gênio consistiu em saber entender e explorar as frustrações e preconceitos populares que serviriam aos seus desígnios.

Mesmo em níveis mais modestos, entretanto, as características da política e de sua inflamável matéria-prima produzem com frequência situações paradoxais. É a história do rei nu, que as pessoas preferem não ver, não só por medo ou pela força do hábito, mas porque às vezes é melhor um rei nu do que nenhum, ou do que imperadores metidos em armaduras. Ora, nem os fatos nem a versão valem quando a opinião pública prefere encolher-se.

Quem é o povo?

Ora, pois, uma das dificuldades dos institutos de pesquisa e mesmo dos sociólogos que estudam a vida brasileira é definir uma amostragem real da população baseado em dados e critérios oficiais. O jornalista Carlos Brickmann mostrou, em texto debochado, como o governo mexe nas estatísticas e nos conceitos para produzir milagres sociais que transforma em elemento de sua propaganda.

Diz Brickmann: “Se o caro leitor não puder almoçar seu arroz com feijão, salada, bife e sobremesa, resolva o problema com uma folha de alface, duas ervilhas e um grão de milho. Pode não ser satisfatório, mas o caro leitor não deixou de almoçar.

Se o caro leitor ganha muito pouco e está abaixo da linha da pobreza, resolva o problema com as estatísticas do governo federal: de acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidente Dilma Rousseff, quem ganha mais de 291 reais por mês integra a classe média.

Assim foi possível fazer com que 35 milhões de brasileiros se alçassem à classe média nos dez anos de governo petista.

É simples assim: uma pessoa não precisa ganhar mais de dez reais por dia para entrar na classe média. Um casal que ganhe, em conjunto, 582 reais por mês será também de classe média. Pronto: no Brasil, só é pobre quem quer.

Mas há limites para ser de classe média. Quem ganhar a partir de 1.019,10 reais por mês será de classe alta. A história de achar que classe alta é coisa para Eike Batista está errada: neste país em que se plantando tudo dá (especialmente notícias), até professor, mesmo ganhando o que ganha, pertence à classe alta.

O pessoal que tem recursos para comprar deputado mensaleiro, dar carona de jatinho a quem toma decisões sobre concorrências, fotografar a esposa usando sapatos de sola vermelha, esse nem chega a ter classificação.

Político corrupto, dos que trocam apoios por Ministérios, está tão alto que a verdade se restabelece sozinha: este não tem classe, nem categoria”.

É isso, vivemos no país das farsas grosseiras e das mentiras piedosas, da propaganda eleitoreira dos governantes, da corrupção e, ao menos até agora, da impunidade, com esperança de que tudo mude ao final do julgamento do processo do Mensalão no STF.

De resto, a disputa das prefeituras, do poder local, neste ano, é, para os estrategistas dos grandes partidos, apenas um momento da grande guerra de 2014, quando estarão em jogo a Presidência da República, 1/3 do Senado, a Câmara Federal, os governos estaduais, as Assembleias Legislativas, e tudo o mais que acompanha o banquete do poder. E que não é pouco.

Neste Brasil brasileiro, a economia funciona sob a tutela de um Estado que leva quase 40% do PIB para alimentar a máquina, o Ogro Filantrópico, que realimenta o sistema e promove a reprodução dos mesmos grupos no poder. Tenham eles o nome que tiverem, a sigla que representarem. Um sistema que não funciona sem corrupção.


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