Política
03.09.2015
03.09.2015
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03.09.2015
03.09.2015
14.11.12
A guerra do marketing
por Fábio Campana

Fruet venceu a eleição graças a cinco fatores. Conheça o papel dos marketeiros por trás dos três principais candidatos a prefeito


Não é demais reafirmar que Gustavo Fruet venceu a eleição de Curitiba graças a cinco fatores. A obstinação de Gleisi Hoffmann motivada pela disputa de 2014; a capacidade de organização e articulação de Gerson Guelmann; a eficiência do advogado Luiz Fernando Pereira; a disposição de Wilson Picler para bancar a operação nos momentos mais difíceis; e principalmente pelo trabalho de contrapropaganda que contou com a experiência de Ricardo Mac Donald nessa área.

Em tempo: a inequívoca simpatia da maior parte da imprensa foi decisiva para levar Fruet à vitória. Nada que seja condenável. Só os néscios ainda acreditam que jornais e jornalistas não devem ter opinião e posições a defender. O único pecado inadmissível neste campo é o da omissão ou deturpação dos fatos, e isso não aconteceu.

Sem dó e sem pejo, a campanha de Fruet mais destruiu seus adversários do que vendeu as suas qualidades. Com maestria fez aflorar todos os preconceitos moralistas e sociais. Provocou os medos profundos de uma classe média ressentida que se voltou contra o sucesso mundano dos adversários de Fruet. Com esses ataques, fez burgueses e burguesotes esquecerem de seu medo do PT e até mesmo a sua indignação com os escândalos petistas do Mensalão.

A desconstrução da imagem de Luciano Ducci começou pela deposição do presidente da Câmara de Vereadores, João Cláudio Derosso, tucano e pretendente da vice na chapa do prefeito. A insistente associação entre Ducci e Derosso contaminou a imagem do candidato na largada e condicionou a escolha de um vice que se notabilizara pelo combate a Derosso. O PPS de Rubens e Renata Bueno entrou nessa história como elemento de descontaminação. Não funcionou, como se viu depois. Nem mesmo Renata Bueno conseguiu se reeleger vereadora. Tanta era a convicção de Rubens Bueno e sua trupe na defesa de Ducci, que no segundo turno bandeou-se imediatamente para a turma de Fruet.

Ducci sofreu duro golpe com a denúncia feita em matéria da revista Veja sobre o seu enriquecimento. Provas? Apenas a de que comprou um apartamento em rua glamourosa do Batel, bairro que a pequena burguesia mais abastada considera seu território exclusivo.

Fruet fez mais. Foi extremamente eficiente ao fazer circular os boatos mais vis sobre a vida privada de Ducci. E atacou duramente o principal apoiador do prefeito, o governador Beto Richa, a quem atribuiu a pecha de “playboy, preguiçoso, mulherengo, pai de extensa prole, agressor doméstico e mais uma penca graúda de cometimentos administrativos anunciados como escândalos prestes a explodir. Não houve reação, o que foi percebido pela maioria como consentimento. E nisto, Fruet deve agradecer ao marqueteiro tucano que de dois em dois anos desembarca em Curitiba para oferecer seus préstimos em troca de polpuda gratificação.

Duas semanas antes do fim do primeiro turno, a pesquisa indicou que nas regiões centrais de Curitiba existiam 35% de indecisos. Ali, na Matriz e no Boa Vista, Gustavo Fruet crescia. Ducci perdia votos que passavam a indecisos e logo aderiam a Fruet.

O marqueteiro Nelson Biondi preferiu ignorar o aviso. Decretou que Luciano Ducci já estava no segundo turno contra Ratinho Jr e dedicou-se a preparar argumentos e comerciais para conquistar os eleitores mais pobres da região sul. Ou seja, visava unicamente a base de Ratinho Jr.

Para Biondi, Gustavo Fruet era passado, não devia ser considerado nem incomodado. Sua tese era a de que ataques contra Fruet poderiam aumentar a rejeição de Ducci. Pois, pois, o mais incrível é que todos os demais membros do comando da campanha, com raras exceções, acreditaram em sua estranha teoria. Não se sabe se Fruet teve alguma influência nessa teoria de Biondi.

Nelson Biondi é um homem de boa índole. Incapaz de agredir uma mosca. Não gosta de briga. Entre os marqueteiros do País é conhecido como ótimo general de parada militar, péssimo comandante nas batalhas. Ao comandar as campanhas de Beto Richa não encontrou dificuldades para impor seu estilo cordial e suas peças de TV bordadas de floripôndios. A de Luciano Ducci foi a primeira em que enfrentou um grau de dificuldade e de complexidade maior. Dançou.

Richa não precisou de muita ajuda de Biondi para enfrentar seus adversários naturalmente fragilizados. Gleisi Hoffmann, para a prefeitura, marcada pelo estigma do PT. Osmar Dias, na disputa do governo, com seu perfil interiorano e casmurro. Foi um desfile, Biondi só teve de se preocupar com os adereços e as bandeirolas.

O estilo light de Nelson Biondi exclui qualquer crítica aos adversários. Mesmo que tenha nas mãos a denúncia mais pesada e calçada em provas robustas, ele não titubeia. “Não sei atacar, não gosto desse tipo de confronto”, diz. Assim ele descartou o pronunciamento que um deputado faria para expor documentos sobre a relação entre Gustavo Fruet, o Mensalão do DEM e a máquina do Cachoeira.

Pois, pois, Nelson Biondi saiu incólume de mais essa campanha. Perdeu, mas se comportou como um cavalheiro. E pode voltar para sua base em São Paulo sem nenhuma preocupação, sem nenhuma pendência judicial e com a eterna gratidão da banda de Fruet.

Os estrategistas de Ratinho Jr repetiram esse equívoco. Seu marqueteiro, Maurício Martins, é um publicitário de grande talento, criador de campanhas antológicas e muito mais eficiente que Nelson Biondi para criar atmosferas positivas e alegres na argumentação. Prova disso é o sucesso alcançado no primeiro turno, quando seu candidato esteve na frente durante a maior parte do tempo.

Os adversários acreditavam que os índices de preferência de Ratinho Jr desmoronariam naturalmente, como aconteceu com outros candidatos que iniciaram suas campanhas como atores midiáticos. Martins soube construir a imagem de seu candidato com base nas suas qualidades de jovem, empreendedor e independente. Funcionou muito bem. Com a vantagem de que no primeiro turno Ratinho Jr não foi atacado com tanta ferocidade, pois os dois outros candidatos, Luciano Ducci e Gustavo Fruet, no início esperavam na continuidade contar com o seu apoio.

Quando veio o segundo turno, o adversário não era aquele que Ratinho Jr esperava. Passou Gustavo Fruet e Luciano Ducci ficou para trás. Fruet subiu, Ratinho Jr desceu e para isso mais uma vez houve a contribuição da contrapropaganda mais eficiente da campanha. Ratinho Jr passou a ser demolido nas camadas da classe média mais preconceituosa que atendeu imediatamente aos apelos contra a origem social, a formação intelectual e o nome do candidato, que serviu como luva à síntese de todos os ataques desferidos pela campanha de Fruet.

Desde o início, Fruet criou a vacina para evitar a imagem de agressor. Seu discurso permanente era o de vítima, mesmo quando sua equipe foi flagrada a produzir material atribuído a Ducci contra Ratinho Jr. Chegou a invocar um personagem criado em 1990, o Ferreirinha, para anunciar que temia um ataque.

Um dos mistérios que agora se agregam ao segredo de Fátima, ao destino dos ossos de Dana de Teffé e à estranha transação na compra do jogador  Morro Garcia é o fato de que ninguém, em nenhuma das campanhas adversárias, fez qualquer esforço para tirar a máscara de bom moço de Gustavo Fruet. Assim ele se tornou vencedor.


Tags: política; fábio campana; eleições; gustavo fruet;



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