Política
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
03.09.2015
10.12.12
Acordo indigesto
por Adalberto Vera

Atribuem ao filósofo húngaro Giorgy Lukács a afirmação: “O erro de Stálin não foi ter assinado um acordo com Hitler, foi ter acreditado nele”. Em 1939, Stálin aliou-se ao Reich e comeu um pedaço da Polônia. Dois anos depois Hitler invadiu a Rússia e o Guia Genial dos Povos, incrédulo, entrou em estado de catatonia.

Beto Richa é uma das esperanças do PSDB enfraquecido

Atribuem ao filósofo húngaro Giorgy Lukács a afirmação: “O erro de Stálin não foi ter assinado um acordo com Hitler, foi ter acreditado nele”. Em 1939, Stálin aliou-se ao Reich e comeu um pedaço da Polônia. Dois anos depois Hitler invadiu a Rússia e o Guia Genial dos Povos, incrédulo, entrou em estado de catatonia.

O governador Beto Richa cavalga uma enorme autoconfiança. Mesmo depois da derrota nas eleições municipais em Curitiba, ele mantém a convicção de que saiu vencedor em 2012 com a vitória de aliados e que o seu entendimento com o PMDB o faz mais forte que qualquer outro candidato a governador em 2014.

Sem discutir os prós e contras da ideia, Richa participa de uma cenografia para abrilhantar a adesão de políticos de várias legendas à sua base de apoio e estimula seus aliados atuais no PMDB à confrontação com o adversário Roberto Requião.

É uma manobra que pode repetir o equívoco de Stálin com os nazistas. Nove em cada dez membros do PMDB confidenciam, longe do Palácio, que se Requião for candidato a governador, terão de seguir com ele. Aliados de outros partidos, que neste momento estão próximos para usufruir o que o governo pode lhes oferecer, por isso mesmo demonstram que o caráter não é firme e que podem mudar de líder conforme as circunstâncias.

A realidade é um pouco mais dura do que pintam os áulicos palacianos. Hoje Beto Richa tem várias frentes adversárias. Dentro e fora do ninho. Nenhum dos três senadores é seu aliado. O tucano Álvaro Dias é o que lhe faz oposição mais cerrada porque não encontra espaço no tucanato estadual. Apoiou adversários de Richa nas eleições municipais e contou, inclusive, com a simpatia e o concurso de membros do governo,

Fora do ninho, Beto Richa enfrenta o PT dos ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo agora fortalecido pela vitória em Curitiba. Representam o governo federal de quem Richa não deve esperar nem bom vento, nem bom casamento, como dizem os portugueses quando se referem à Espanha.

E para completar o quadro de adversários, o senador Roberto Requião acredita que o cargo de governador é seu e qualquer que o ocupe é um usurpador. Tudo bem, patologia à parte, na prática vem chumbo. Requião quer a candidatura e a direção nacional do partido já estabeleceu uma norma que cai como luva para os objetivos do senador. Vai exigir que em cada Estado o PMDB tenha candidato próprio ou se alie ao PT. As decisões estaduais sobre as eleições de 2014 terão que ser confirmadas pela direção nacional, leia-se, vice-presidente Michel Temer e Cia.

Ai, a politicagem

O governador Beto Richa compreende a situação e percebe a campanha intensa para destruir sua imagem como esforço antecipado de seus inimigos que pretendem apeá-lo do poder dentro de dois anos. Ele fez um discurso duro em solenidade de entrega de veículos para entidades sociais e prefeituras no Palácio Iguaçu. Conclamou a união para que o Paraná avance. Bateu firme nas questões partidárias que dominam a cena paranaense. Mandou recados a todos os matizes políticos.

Disse o homem: “O que de pior existe na política é a politicagem, a demagogia, as picuinhas e as divergências político-partidárias que se sobrepõem ao interesse público. Quem paga a conta é sempre a população. O que o paranaense nos delegou é a defesa dos seus interesses e não que fiquemos um tentando destruir ao outro num clima de autofagia que sempre imperou no Paraná”.

Ninguém duvida de suas assertivas, mas só o discurso não muda o jogo. E a conjuntura não é propícia. Enfrentamos tempos bicudos. Os efeitos da crise que condicionam um crescimento limitado da economia fazem danos também por aqui. Pelo menos 229 prefeituras paranaenses – 57% do total – podem começar 2013 com problemas no caixa. Essas cidades têm o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) como principal fonte de receita e, se não receberem ajuda extra do governo, terão dificuldades para fechar o ano sem deixar dívidas. Para honrar os compromissos, prefeitos terão de demitir funcionários, parar obras e cortar serviços.  

A crise nas prefeituras é causada, principalmente, pela queda no FPM. O valor dos repasses do fundo para o Paraná caíram 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado – considerando de janeiro a outubro. Em termos práticos, as cidades do Paraná deixaram de receber mais de R$ 53 milhões do FPM no período. Em todo o Brasil, o corte no repasse em 2012 está estimado em R$ 9 bilhões – considerando valores corrigidos.

Ora, um quadro de dificuldades associado ao baixo desempenho de áreas do governo espantam os aliados. Nesta situação é difícil garantir alianças como a dos casamentos antigos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. A verdade é que boa parte dos aliados quer um bom acordo até 2014, pois já não sabe fazer política na oposição, sem a proteção do governo. Em ano eleitoral, tudo pode mudar. Como se vê, o futuro pode ser mais negro que a asa da graúna se depender apenas dos aliados. Principalmente para quem acredita em acordo firmado com o PMDB nativo.

Esforço próprio

É claro que Beto Richa sabe que o seu sucesso futuro não depende apenas dos aliados, mas principalmente das suas próprias taxas de prestígio e de popularidade que, por sua vez, dependem do desempenho do governo. Neste momento, Beto Richa mantém aprovação pessoal elevada, mas sabe que o seu governo tem áreas críticas e algumas sofrem de péssima imagem junto à população.

Não é preciso ser um sociólogo com doutorado na Sorbonne para apontar as áreas sociais como as mais periclitantes. Segurança Pública, Saúde e Educação cambaleiam em todas as pesquisas de opinião. Coisa da imprensa de oposição? Nem tudo. Beto Richa sabe que precisa melhorar o desempenho e prova disso é que já começou a pressionar o seu secretariado para que cumpra as metas estabelecidas.

Beto Richa mostra-se decidido a pôr ordem na casa, doa a quem doer. Reuniu a tropa de primeiro escalão no Palácio Iguaçu e enquadrou o time. Foi claro e direto no recado à equipe de governo: “Quero velocidade na execução das ações”, disse. Richa acredita que o governo deve dar respostas mais rápidas às demandas da população e o secretariado precisa cumprir as metas e objetivos estabelecidos nos contratos de gestão. Ou desocupar a moita.

O governador deixou claro que está a par de tudo o que anda e o que não anda no governo. Inaugurou o gabinete de gestão e informações, uma sala que conta com um sistema de monitoramento em tempo real de todas as áreas de governo e disse que a ferramenta vai permitir que ele faça acompanhamento diário da evolução das coisas e vai ajudar na cobrança por resultados.

“Não temos tempo a perder. Faremos avaliações criteriosas dos resultados de cada área e dos contratos de gestão. Não tenho qualquer dificuldade em anunciar mudanças se necessário”.

Ora, pois, tudo conspira contra uma aliança firme entre o governo de Beto Richa e o PMDB para 2014. Todos sabem que essa é a última chance de Requião voltar ao local do crime, sem nada a perder. Com a metade do mandato de senador assegurada pode entrar em aventuras e continuar na carreira.

O que pode existir e já existe na prática é um acordo para manter a maioria dos deputados estaduais na base de apoio do governo Richa. Tudo o mais fica no campo das probabilidades e das especulações.

Uma das dificuldades do PSDB nativo será acompanhar o PSDB nacional que saiu atrofiado das eleições municipais. Perdeu em São Paulo, perdeu em Curitiba, está mal das pernas e não consegue se transformar num partido de alcance nacional porque a cúpula paulista mantém o PSDB como um cartório regional.

PSDB enfraquecido

Beto Richa permanece no rol de esperanças da nova geração de políticos tucanos que podem recuperar a antiga força do partido. Mas já não é a mesma a avaliação que fazem de sua trajetória fora do Paraná. A derrota de seu candidato em Curitiba para o ex-tucano Gustavo Fruet, apoiado pelo PT, quebrou o encanto.

A verdade é que o drama do PSDB nacional é bem outro. Com apenas 20% da bancada federal e um governador entre oito, o PSDB de São Paulo tem um destaque desproporcional na imagem nacional do partido. Isso já foi bom para os tucanos Brasil afora. Hoje, no entanto, deixou de sê-lo.

A seção paulista sobressaía por dois motivos. De um lado, por razões históricas, pois foi lá que o partido surgiu. Os primeiros peessedebistas de expressão nasceram ou fizeram carreira política no Estado.

Foram paulistas todos os candidatos a presidente que o PSDB apresentou, Mário Covas, Fernando Henrique, Geraldo Alckmin e José Serra.

Uns mais, outros menos, fizeram campanhas usando amplamente - e até abusando - das referências a São Paulo. Especialmente nas duas últimas eleições presidenciais, Serra e Alckmin disseram-se qualificados a governar o Brasil mostrando o que tinham feito quando ocupavam o Palácio dos Bandeirantes.

Rechearam seus programas de televisão com cenas de obras, rodovias, hospitais e escolas paulistas, ao ponto que espectadores menos atentos ficavam confusos e imaginavam que eles concorriam ao governo estadual - como se percebia nas pesquisas qualitativas feitas à época.

Para o cidadão comum, São Paulo e PSDB tornaram-se quase sinônimos.

A predominância do PSDB paulista é também decorrência de ser do Estado boa parte dos principais veículos nacionais de comunicação. Por razões defensáveis ou puro bairrismo, dão ao dia a dia local e a seus personagens uma importância exagerada - do ponto de vista dos leitores e espectadores de outras regiões. Alguns de seus comentaristas acham que tudo de relevante que há no Brasil acontece na esquina da Ipiranga com a Avenida São João.

Por isso - e mais o significado de São Paulo na vida nacional, o tamanho de sua população e eleitorado -, temos o descompasso. O PSDB paulista parece maior do que é.

Na época de Mário Covas, todo o partido ganhava com essa situação. Na eleição de Fernando Henrique e ao longo de seu primeiro governo, também.

Isso mudou. Agora, os tucanos do resto Brasil pagam um ônus pelo que seus correligionários paulistas dizem e fazem. O pior, para o partido, é que muitos de seus líderes e filiados - na verdade, a maioria - não pensam da mesma maneira. São peessedebistas, mas de outro estilo.

Se o PSDB não-paulista prevalecesse - de Aécio, Anastasia, Beto Richa, Marconi Perillo, Téo Vilela, dos governadores do Norte, de bons senadores e deputados -, é possível, por exemplo, que, desde 2010, o partido já fosse diferente. O mineiro poderia ter sido o candidato, o que teria alterado a dinâmica da eleição.

É provável que Dilma tivesse igualmente vencido. Mas a pós-eleição não seria igual. Aécio, pelo que se conhece, não faria uma campanha como a de Serra e não se alinharia com o que existe de mais retrógrado em nossa sociedade. E o PSDB possuiria um nome nacional para 2014, com perspectiva de futuro.

Neste 2012, o PSDB paulista volta a sinalizar negativamente e a envolver o partido como um todo nas suas indecisões e recuos. A novela da escolha do candidato a prefeito da capital em nada contribuiu para melhorar sua reputação. A derrota fragorosa para o PT de Lula com seu candidato Fernando Haddad menos ainda.

Alckmin não quer - ou não consegue - exercer a autoridade maior do partido no Estado. Fernando Henrique anda tão ocupado com coisas transcendentais que parece nem se dar conta do que acontece em seu torno. E assim, enquanto os tucanos paulistas dão cabeçadas, quem sofre é a já combalida imagem nacional do PSDB.


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