Política
03.09.2015
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05.03.13
L’Italia è qui
por Talita Boros

Ex-vereadora Renata Bueno concorre à vaga e pode ser a mais jovem representante da América do Sul no Parlamento italiano.

Renata Bueno (Foto: Daniel Snege)

No fim deste mês, Renata Bueno pode se tornar a primeira brasileira eleita deputada no Parlamento da Itália. Renata concorre a uma das quatro cadeiras ao cargo para representar os imigrantes italianos e brasileiros com cidadania que vivem no Brasil e em outros países da América do Sul.

A Itália adota o regime parlamentarista e é o único país a permitir que italianos residentes no exterior e estrangeiros com cidadania elejam representantes do lado de cá das fronteiras. Esses candidatos podem ser imigrantes italianos que vivam em algum outro país ou estrangeiros com cidadania italiana.

Renata concorre ao cargo através de uma lista independente, a União Sul-Americana de Emigrantes Italianos (Usei), e tem o apoio do senador Edoardo Pollastri, uma das figuras mais importantes da política local. Hoje somente um italiano, que tem cidadania brasileira e vive em São Paulo, representa a comunidade no Parlamento. Oficialmente, as eleições ocorrem nos dias 24 e 25 na Itália.

Quem está apto a participar do pleito receberá nas próximas semanas a cédula de votação em casa e terá até o dia 20 para entregar no Consulado o documento preenchido. No Brasil são cerca de 400 mil pessoas. A votação não é obrigatória e Renata faz um apelo aos brasileiros: “precisamos ter um representante que defenda os interesses da comunidade ítalo-brasileira. E esse é o momento.” Confira a entrevista feita com Renata Bueno sobre a candidatura:

 

Ideias: Quais foram as motivações que levaram você a se candidatar a uma vaga no Parlamento italiano?

Renata Bueno: A política está no sangue. Desde que nasci, estou envolvida na vida pública. Quando fui morar na Itália, há dez anos, me envolvi na política italiana. Quando voltei para cá, mantive essa ponte Brasil-Itália. Com o meu mandato de vereadora, coloquei em ação alguns projetos que já tinha tido como experiência positiva na Itália. Como vereadora, elaborei e implantei a “Mia cara Curitiba”, um festival que a comunidade italiana estava programando há muito tempo e não tinha conseguido viabilizar. Hoje já estamos na terceira edição. Acabei virando a madrinha da festa. Também indiquei no orçamento do município de Curitiba mais de R$ 1 milhão para eventos culturais ligados à comunidade italiana. E cruzando todos os pontos, da política à paixão pela Itália, decidi concorrer a esse cargo que é importantíssimo para a comunidade e para todos os brasileiros. Precisamos de um representante que defenda os interesses do País e de toda a América do Sul na Itália.

 

Como é essa atuação?

É igual a de qualquer outro parlamentar ordinário. Se eu for eleita, participarei normalmente de todas as votações no plenário. Da votação de todas as leis. A atuação no Parlamento é comum. Claro que você acaba apresentando projetos voltados para a sua comunidade, mas no mais participa de tudo como qualquer outro. Tem que morar em Roma, mas pelo menos uma vez a cada mês ou dois meses tem que estar aqui para manter o vínculo com a sua comunidade.

 

Qual a sua relação com a comunidade italiana?

É muito boa. Quando comecei a pensar nessa ideia da candidatura, muitos italianos da comunidade se envolveram com o projeto. Tenho um excelente relacionamento com o próprio cônsul. Tudo aquilo que eles precisam eu sempre estou pronta. Uma coisa que é importante, que quero destacar, é que pretendo me dedicar exclusivamente às políticas públicas. A maioria das pessoas que se envolve na política italiana acaba fazendo por outros motivos e interesses. Ou porque é empresário ou porque vende cidadania, por exemplo. Quase não existe participação estritamente política dos representantes. Por isso aqui no Brasil esse direito a um cargo no Parlamento é pouco conhecido. Nunca tivemos uma participação política plena. Minha ideia é desenvolver projetos verdadeiros da política italiana no Brasil.

 

Como você analisa o desempenho dos parlamentares eleitos pela circunscrição exterior até aqui?

A meu ver, até este momento a atuação está bastante aquém do esperado, justamente pela desvalorização dessa representatividade junto ao Parlamento e pela falta de interesse dos parlamentares italianos que lá estão em fomentar uma verdadeira atenção e valorização. Acredito na importância de executar ações para fortalecer esse desempenho, usando essa oportunidade de representação para incentivar e promover mais as atividades com foco no Brasil, colocando nosso país como um atual protagonista da economia mundial e que pode e deve contribuir com a Itália neste momento de crise econômica. Defendo a abertura de novas fronteiras para a juventude que quer estudar e também o incentivo a experiência profissional, além de dar total atenção aos serviços prestados pelo governo italiano aos seus descendentes espalhados pelo mundo.

 

Quais problemas você entende como específicos da comunidade ítalo-brasileira?

Devemos começar obviamente pelo ponto da insuficiente estrutura diplomática, que faz com que a esfera consular não consiga atender a todas as demandas. A isso soma-se a burocracia consular, a questão das pensões e aposentadorias, a diminuição de investimentos na difusão da cultura italiana, no que diz respeito ao idioma, a arte e a música, entre outros, e a desvalorização da comunidade descendente que vive fora da Itália. Estes são problemas típicos, mas acredito que hoje é preciso abrir um olhar especial para a liberação das nossas fronteiras, focar em ideias novas que contemplem o cidadão jovem, fomentando o intercâmbio universitário, a experiência profissional. A Itália e o Brasil são países irmãos, temos que pensar e atuar fortemente com base nesses pilares que englobam a questão das universidades, da cultura, do turismo e da economia.

 

Que tipo de trabalho você já realizou e que pretende expandir caso seja eleita?

Eu já tive uma série de atuações no âmbito universitário e cultural. A virada cultural aqui da cidade, por exemplo, foi um projeto que eu trouxe, inspirado em um festival de Roma. Também promovi intercâmbios através de convênios com a Universidade de Roma e a UFPR. Já temos inclusive alguns programas acontecendo. Temos alunos e professores curitibanos na Itália. Com o mandato, nós podemos fortalecer isso muito mais. Isso sem contar com programas na esfera econômica. Fizemos convênios do Banco Intesa Sanpaolo, que é o maior banco da Itália, com o Brasil. Hoje, pensando num mundo globalizado, temos que abrir nossas fronteiras para um país que é nosso irmão. Essa é minha ideia.

 

Qual a importância de o País ter representante em um Parlamento internacional?

Eu fiz a seguinte comparação: nós elegemos nossos representantes municipais, estaduais e nacionais. Então hoje, se falamos num mundo sem fronteiras, por que não eleger um deputado na esfera internacional? E essa é a oportunidade que nós temos. A Itália é o primeiro país a criar esse tipo de representação. E essa é uma chance única para os brasileiros. Hoje nós somos um país protagonista mundial e precisamos abrir ainda mais o diálogo com o mundo. Eleger um representante do País no em um Parlamento internacional nos dá muito mais visibilidade em toda a Europa. Não é só o cidadão italiano que está aqui ou o brasileiro que também tem cidadania italiana que será beneficiado, e sim toda a população.

 

Como você analisa a atual situação política da Itália?

É um momento muito difícil. Com a crise econômica, o primeiro-ministro que havia sido nomeado pelo Parlamento saiu e um governo técnico foi convocado. Esse governo durou um ano. Eles decidiram que um governo provisório fosse instaurado porque, justamente no momento de crise econômica, a Itália não estava preparada para passar por uma eleição. A composição do governo técnico deveria ficar pelo menos até março-abril deste ano, quando naturalmente aconteceriam as novas eleições, mas como a pressão foi muito grande, esse governo foi desmanchado agora em dezembro e foram convocadas as eleições de imediato para fevereiro. O papel da Itália é primordial na economia mundial. Sempre foi uma das principais potências do mundo. Hoje a eleição vai modificar muita coisa. Inclusive esse cenário atual da economia europeia, que obviamente reflete muito em todo o mundo. O país precisa eleger um governo correto que resolva o problema da crise econômica que já vem sendo tratada há pelo menos um ano e meio e só se agrava.

 

Por que escolheu fazer parte da Usei?

Eu sempre fui filiada ao Partido Democrático Italiano. O PPS tem na sua história um convênio e um acordo com os partidos de esquerda italianos. Quando fui morar na Itália há 10 anos, eu representava o PPS em algumas reuniões dos partidos de esquerda. Então desde aquela época eu já tinha pleno envolvimento com a política italiana. Quando eu voltei para cá continuei mantendo minha atuação na esquerda italiana aqui no Brasil. Inclusive fui dirigente do Partido Democrático na Região Sul. Como as eleições italianas são por listas, diferente do Brasil, não é tão simples de você acomodar todos os candidatos. Nesse meio tempo acabei sendo convidada pelo senador Edoardo Pollastri, o único que já representou o Brasil no Parlamento italiano, a fazer parte dessa lista. É importante dizer que, na América do Sul, essas associações locais são muito fortes. Por isso as candidaturas que não são via partidos também são permitidas. Essas associações defendem exclusivamente os interesses locais de uma realidade que muitas vezes é totalmente contrária da realidade italiana em si.


Tags: Renata Bueno; eleição; Itália; deputada; entrevista;



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