Política
03.09.2015
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07.03.13
Ressaca eleitoral
por Adalberto Vera

Pesquisa de fonte segura confirma o que muitos políticos suspeitavam: o povo, que não é bobo, cansou da política e do debate eleitoral.

A filha do pai do povo: Lula, que leva fama de presidente adjunto, lança candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. Crédito: Roberto Stuckert Filho/PR
FHC diz que o PT prometia socialismo e ética, mas que deixou de falar de socialismo e em ética é melhor não falar. Crédito: Magdalena Gutierrez/IFHC
Com as entradas de Marina Silva (Rede) e de Eduardo Campos (PSB), aumentariam as chances de uma decisão somente no segundo turno. (Divulgação)
Com as entradas de Marina Silva (Rede) e de Eduardo Campos (PSB), aumentariam as chances de uma decisão somente no segundo turno. (Fabio Rodrigues/ABr)

Pesquisa de fonte segura confirma o que muitos políticos suspeitavam: o povo, que não é bobo, cansou da política e do debate eleitoral. Ainda curte a ressaca das campanhas municipais de outubro e se vê diante da disputa do ano que vem. O espetáculo é fraco. Não oferece novidades. Troca de insultos, alianças heterodoxas, rasteiras e as inevitáveis denúncias de assaltos ao erário que fazem pensar que, nesta área do planeta, política é sinônimo de corrupção.

Devagar com o andor. Recomenda-se moderação. O debate que interessa à sociedade está longe de ser esse e os curiosos estão fartos dos escândalos. Mas tudo demonstra que a absoluta maioria de nossos políticos não está preparada para outra argumentação que não seja a do moralismo chinfrim.

A versão de que a virtude absoluta está de um lado, e toda a maldade se concentra nos adversários, é bizarra. Hoje, após quase três décadas de democracia, o País foi exposto ao contraditório, teve decepções, aprendeu nuances, vê com espírito crítico mesmo aqueles nos quais vota.

As digressões sobre ética servem para estofar o discurso dos políticos. Só o discurso, pois na prática reelegem Renan Calheiros presidente do Senado, gesto emblemático do comportamento político neste país de Macunaíma. É fazer pouco da inteligência dos brasileiros, tratados como adoradores infantilizados de líderes macrocéfalos e não como cidadãos capazes de pensar criticamente.

A festa de aniversário dos 33 anos do PT e de dez anos no poder antecipou de vez a corrida eleitoral que, em condições normais e legais, só começaria no ano que vem, dentro de 14 meses. Quem segura Luiz Inácio Lula da Silva? Quem consegue convencer o PT de que há regras a serem respeitadas e que a Justiça existe e não apenas para julgar os mensaleiros? Pois, pois, o PT tem pressa, quer consolidar a vantagem de quem está no poder federal.

Planos? Programas? Princípios? Qual o que. Só a disputa pela gigantesca engrenagem estatal de comando centralizado que controla 40% do Produto Interno Bruto. Por isso a ferocidade das disputas. Por isso também o extemporâneo lançamento de candidaturas presidenciais. Por isso as degeneradas práticas políticas. Por isso a interrupção da agenda de reformas.

O debate é pobre. À esquerda, Lula, que se apresenta como o Pai do Povo. À direita, Fernando Henrique Cardoso, o Pai da Estabilidade Econômica. Lula lança a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição. FHC acusa Lula de se tornar o “presidente adjunto”. A grande interessada entra no debate com a soberba que faria corar Hugo Chávez, o presidente-defunto da Venezuela que inspira os bolivarianos nativos. “Nós não herdamos nada, nós construímos (tudo no decênio glorioso sob a presidência do PT)”, alardeou a presidente Dilma.

Levou troco imediato. “Os petistas não podem mais falar de ética, porque têm o Mensalão na testa”, retruca FHC, que patrocina o lançamento da candidatura de Aécio Neves. Resumo da ópera: mais uma vez a polarização da disputa entre tucanos e petistas. Caso funcione, serão seis mandatos, quase um quarto de século no poder. Gramsci estaria orgulhoso. Não há mais oposição, apenas uma velha “esquerda” hegemônica. “Não há mais disputa ideológica, basta saber quem comanda a vanguarda do atraso”, confessou com extraordinária propriedade o ex-presidente FHC.

 

Nada de novo sob o sol

A permanente batalha de PSDB e PT cristalizou práticas políticas disfuncionais, alianças espúrias entre facções social-democratas e conservadores do Antigo Regime que lhes dão sustentação parlamentar. A Rede de Marina Silva pode ser uma novidade na política brasileira. Já o PSB de Eduardo Campos, situacionista que pode se tornar uma alternativa oposicionista, não se comportou bem em seus primeiros ensaios de questões nacionais, como a distribuição dos royalties do petróleo. E a imagem do partido só piora quando o governador cearense Cid Gomes, sempre às voltas com sua alegada preferência por jatinhos, atropela a Constituição na tentativa de desviar recursos dos royalties para financiar show de inauguração de hospital cuja fachada desabou.

Do jeito que está armada, a briga é desigual. Com as alianças partidárias em vigor, triplicará a vantagem de propaganda da petista, em comparação ao candidato do PSDB.

Nas contas sempre precisas do jornalista Daniel Bramatti, Dilma teria 12 minutos e 51 segundos por bloco de 25 minutos de propaganda eleitoral, contra apenas 3 minutos e 45 segundos de Aécio. Isto é: 3 minutos e 25 segundos da petista para cada minuto do tucano.

Para ter uma ideia do que isso significa, em 2010 José Serra (PSDB), com 69% do tempo de TV de Dilma, recebeu o equivalente a 70% dos votos da petista no primeiro turno. No cenário atual, Aécio teria 49% menos tempo do que Serra teve na TV, e Dilma, 21% a mais do tempo que desfrutou quando foi eleita presidente. Faça as contas.

A menos que, como na luta livre, outros entrem no ringue junto com o tucano e contra a petista, é alta a chance de nocaute no primeiro turno.

 

Marina e Campos

As entradas de Marina Silva e de Eduardo Campos (PSB), pelo vermelho desbotado, não dão nenhum segundo a mais de TV a Aécio, mas obrigariam a defensora do título a batalhar em mais de uma frente. Cresce a chance de levar a decisão para o segundo turno.

Mais do que qual ex-presidente está no “corner” de quem, importam para os presidenciáveis quais partidos vão ajudá-los a somar os minutos de que tanto precisam para aparecer na TV e no rádio, tornarem-
se conhecidos e terem alguma chance de convencer o eleitor de que são a melhor escolha na hora de votar em 2014.

Por ora, eis o que Dilma tem no seu cronômetro, além dos 2 minutos e 49 segundos do PT: 2’26” do PMDB; 1’19” do PP; 1’10” do PR; 44” do PDT; 38” do PTB; 27” do PC do B e do PSC; 15” do PRB, o tempo de nanicos; e, novidade da próxima eleição, o 1’39” do PSD.

Tudo isso somado aos cerca de 50 segundos a que todo presidenciável deverá ter direito e ela chega a 12’51” de 25’. É um arco de tempos e forças bem mais poderoso do que o de 2010.

Enquanto isso, Aécio conta com os 1’43” do PSDB; os 46” do DEM; os 15” do PPS; e se tiver, digamos, sorte, com os segundos de alguns nanicos. Não chega a quatro minutos. É insuficiente, mas é melhor do que a situação das “costelas do projeto petista”, como o tucano chamou as candidaturas de Marina e Eduardo Campos.

 

Por que tanta ansiedade, Lula?

Dilma Rousseff, lembra a jornalista Mary Zaidan, é a presidente com o maior índice de aprovação que o País já teve. É alguém que obedece tão fielmente às instruções de seu marqueteiro que tem coragem de, sem qualquer constrangimento, bater no peito e anunciar a data do fim da miséria. É “o poste que está iluminando o Brasil”, como disse Lula ao lançá-la candidata à reeleição na festa dos 33 anos do PT e do decênio do partido no poder.

Então, por que Lula e o PT andam tão aflitos? Por que gastar quase dois anos de um mandato seguro, popularíssimo, para tentar garantir o próximo?

Com o batido discurso do “nós x eles”, diz Zaidan, em que o eles é Fernando Henrique Cardoso, a mídia golpista, os que não suportam um operário ter chegado ao poder e toda essa ladainha, Lula consegue trazer o debate para o seu campo de conforto.

É certo que Lula anda menos falante. Tem preferido palcos sob medida, com claque garantida, sem chance de ser questionado sobre a sua auxiliar Rose-tudo-pode ou sobre as denúncias de Marco Valério de que o ex-presidente teria usufruído de dinheiro do Mensalão.

De jornalistas não oficiais, quer distância. Ainda assim, se mantém no topo do noticiário, como o grande articulador, o imbatível. Aquele que conseguirá, mais uma vez, trazer a vitória das urnas. As chances são grandes. Mas, ao contrário do que Lula quer fazer crer, sua preocupação do momento não é o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), muito menos o senador tucano Aécio Neves (MG). Eles só vão incomodar se a economia - que já patina - piorar. Aí, Aécio pode crescer e Campos torna-se realmente um perigo.

Ao insistir no lenga-lenga populista, no “nunca antes neste País”, Lula redirecionou e personalizou o debate. É ele x FHC. É ele x Campos. É ele x qualquer um.

Com isso, divide as atenções, dá um refresco nas críticas mais afiadas contra ele, seu governo, sua pupila e os seus. Substitui as manchetes sobre a inflação, que começa a corroer os ganhos dos mais pobres. Tira o fiasco da Petrobras das primeiras páginas. E com sua fala de efeito, ocupa todos os espaços com articulações mirabolantes – como a de oferecer a candidatura ao governo de São Paulo a Michel Temer (PMDB) e a vaga de vice a Campos.

Safo como ele só, Lula é capaz até de culpar a oposição pela incompetência do poste que escolheu para a cadeira do Planalto. De atribuir os reveses da economia à elite, a mesma que lhe garantiu e lhe assegura o trono. Há tempos reservou para si o papel da luz. Joga ciente de que, se ao fim e ao cabo a economia fraquejar, será ele, Lula, o ungido. Não dá para saber quem torce mais para esse curto-circuito: se o PT ou Lula. Ou ambos.


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