A Era Vargas
De José Augusto Ribeiro

Quem pode escrever a História? Este é um debate que a historiografia ainda não foi capaz de solucionar. Mas dizer quem pode escrever a história de Getúlio Vargas é uma dúvida que foi solucionada em 2001 e ressolucionada em 2014. Depois da leitura deA Era Vargas, trilogia reeditada no mês de maio, de José Augusto Ribeiro, os historiadores poderão largar mão dos preconceitos acadêmicos e verem a beleza que é a obra que conta a vida do gaúcho que conquistou um quadrinho na cozinha de muitos brasileiros.

Zé Augusto dedicou uma vida para compor a obra, em 1979 já era fervoroso estudioso de Getúlio Vargas, fez um documentário junto com Alzira Vargas (filha e biógrafa) sobre os 25 anos do suicídio. Foi consultor do filme Getúlio, em cartaz até pouco tempo, norteou o diretor e o elenco. “O João trabalhou e pesquisou muito para entender o personagem, que é muito complexo. Quando começamos a conversar, há pelo menos cinco ou seis anos, ele tinha outra visão de Getúlio: um homem indefeso, passivo, inerte diante da crise. Tentamos, Celina Vargas, Reynaldo de Barros, um amigo nosso e eu, convencê-lo de que não tinha sido assim”, disse o autor. E quem viu o filme pode constatar justamente o que Zé Augusto afirmou, um Getúlio Vargas muito consciente do que se passava, embora já cansado de brigar. E por sugestão de Leonel Brizola, José Augusto Ribeiro escreveu mais de 1.500 páginas divididas em três volumes sobre a vida do homem Getúlio Vargas, do início, em 1882, em São Borja, até o célebre testamento em que deixa a vida para entrar na história.

O primeiro volume recua antes de Getúlio e apresenta o contexto vivido, o que era o Brasil e o Rio Grande do Sul – um lugar muito peculiar, um pouco díspar do resto do país. Em 1884, dois anos depois do nascimento de Vargas, os gaúchos já tinham alforriado 90% de seus escravos. Seu avô e seu pai eram homens ativos na política, um lutou na Revolução Farroupilha e o outro na Guerra do Paraguai, portanto o ambiente e a família propiciavam a vinda de um Getúlio Vargas, homem que rompeu com a política aristocrática do café com leite, o coronelismo e as mazelas que reinavam na República Velha. E é até esse rompimento que o primeiro volume caminha.

O segundo conta os períodos de Getúlio Vargas no cargo máximo do Executivo, os primeiros quinze anos (1930-1945), onde ele é um homem bem contraditório, pois sabe que o governo brasileiro tem uma dívida social com seu povo por tanto tempo de escravidão e indiferença da República Velha, porém torna-se um ditador. E a segunda etapa (1950-1954), quando já passa por tempos difíceis, de muitas manifestações públicas e de gabinete contra ele, mas ainda consegue feitos que perpetuam na história, como a criação da Petrobras.

Zé Augusto dedica o último volume a um único mês, agosto de 1954, quando acontece o suicídio de Vargas. O autor esclarece qualquer picuinha ou falácia criada em torno da morte do presidente, cada detalhe dos últimos vinte dias é desvendado no virar das páginas.

José Augusto Ribeiro não foi o único a estudar uma das mentes mais brilhantes que esse país já fabricou, logo as contradições e contestações são inúmeras. Ele diz:“Sinto como se estivesse dando a um amigo uma gravata que não corresponde a seu gosto e ele se sentirá obrigado a usar”. Não precisamos vestir a mesma gravata todos os dias, mas uma de tão bom gosto vale o uso. 


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