Colunista
Izabel Campana

18.06.14
Intimidade forçada

“O comportamento antissocial é uma mostra de inteligência em um mundo repleto de conformistas.” A frase é do gênio Nikola Tesla, que entendia de eletricidade e muito mais.

Dou ganho de causa ao cientista. Há situações em que a interação social é quase uma agressão à dignidade humana. Exemplo claro é o uso da sauna.

Apenas um conformista completamente adaptado às convenções sem sentido da sociedade moderna é capaz de aceitar como natural dividir uma sala sem janelas com estranhos seminus a fim de vê-los suar feito porcos.

Outro exemplo é o banheiro de clube ou academia. É mostra de inteligência rejeitar a interação social que se dá nesses recintos. São conversas sobre amenidades, de maneira que a intenção única e verdadeira é a exibição dos corpos torneados pelo levantamento de peso. Tudo isso enquanto tentam evitar apanhar frieira ou ter o xampu roubado pela colega de hidroginástica.

Psicólogos dirão que os normais atendem a esse tipo de atividade sem sofrimento algum, livres de traumas, fugas, tiques ou ataques de pânico.

Respeitosamente, discordo. Normal não é. Pode ter-se tornado usual, mas é coisa muito grotesca essa intimidade forçada com gente desconhecida.

Toda a bizarrice de certas relações humanas me veio em uma sala de espera de médico. Aguardava para fazer uma mamografia, mais um desses exames preventivos a que a gente se submete todos os anos.

De repente, não mais que de repente, sentada trajando apenas um avental de TNT, meias e tênis, numa sala com mais 20 mulheres em situação semelhante, me dei conta da ridicularia da cena.

Para agilizar o serviço do médico, ficávamos lá, completas desconhecidas, todas de aventalzinho, empilhadas numa sala de espera e obrigadas a “fazer o social”.

O vento encanado sendo o assunto mais frequente, os minutos pareciam intermináveis. Ciente de não ser normal, temi traumas para toda a vida. Por prevenção, saquei da bolsa um livro de crônicas do Antonio Maria e fugi para o mundo da literatura.

As que ficaram para trás, na triste realidade da sala de espera, me olharam torto enquanto eu ria das histórias de Adamastor e cia. Elas sabiam que, no fundo, no fundo, eu ria mesmo da imagem patética de nossa situação indigna.

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