Colunista
Dante Mendonça

05.12.12
Insultos de Natal

Nicolau e Nicoleta estão a ponto de chutar o pau da barraca que os une. A nuvem negra passageira chama-se TPN, a moléstia dos nervos que arrepia a espinha aos primeiros acordes de Jingle Bells. As listas de presentes deixam seu Nicolau de saco cheio! E de saco não menos cheio, dona Nicoleta não deixa o azedume do marido sem resposta:

— Com esse nome, às vésperas do Natal qualquer Nicolau estaria com TPN!

Dona Nicoleta está coberta de razão. Sem nenhum parentesco com Nicolau de Mira, o bom velhinho que deu origem à figura do Papai Noel (Santa Claus ou St. Nicholas), desde o feriadão de 15 de novembro o marido Nicolau vem recebendo duas vezes por dia a visita do carteiro. A caixa de correspondência fica abarrotada com tantos envelopes vindos de toda a Europa, onde no dia 6 de dezembro comemora-se o dia do autêntico São Nicolau.

Passados os primeiros sintomas (ansiedade, culpa e stress acompanhados de um sininho que fica batendo intermitentemente no ouvido), são vários os insultos provocados pela TPN. O mais inofensivo deles é uma vontade estúpida de passar 24 horas sentado em frente ao Palácio Avenida, para não perder o lugar. Segundo pesquisas, o nível de stress dos brasileiros aumenta 75% nesta época do ano. Aliado a isso, deparar-se com as ruas entupidas de carros, todos buzinando ao mesmo tempo, nos leva ao ímpeto de descer do automóvel, jogar a chave ao léu (não o nosso estimado Leo de Almeida Neves), e sentar no meio-fio para chorar lágrimas de Papai Noel.

Insultos natalinos também nos provocam as belas decorações de Natal. Quanto mais bonitas e luxuosas, mais nos sentimos culpados pelas misérias do mundo. Esse sentimento de culpa, é bem verdade, se desmancha no ar logo na primeira vitrina onde exibem aquele objeto de desejo que nunca havíamos encontrado com o preço tão em conta.

Segundo psicólogos especialistas em TPN, uma das terapias indicadas para esta epidemia de final de ano é convencer o paciente de que consumir menos é viver melhor, porque o menos é mais. No mundo ideal, cada vez mais as pessoas têm o sonho de consumo de viver com menos dinheiro. Ou seja, reduzir seus custos a tal ponto que a vida não seja governada pela extrema necessidade de cobrir despesas.

É o que Nicolau pergunta todo santo dia a Nicoleta:

— Será mesmo que, para alcançar um mínimo de satisfação, é preciso atender aos apelos de consumo para se gastar tanto dinheiro?

Dona Nicoleta responde com outra pergunta:

— Gastar ou torrar? Eis a questão. Gastar, você sabe muito bem: é comprar, por segurança, pneus novos para as viagens de fim de ano. Torrar é o que você gosta de fazer: é comprar por impulso um celular moderníssimo, quando o antigo nos atende perfeitamente bem e não vai nos custar uma nova tormenta no cartão de crédito.

No Natal passado, Nicolau e Nicoleta trocaram presentes no hospital. Mas não foi por altruísmo. Tudo começou quando os dois discutiram por causa do carrinho de supermercado. Ele queria o pequeno, ela o maior. Quando Nicolau tomou o carrinho das mãos da Nicoleta, a mulher ficou possessa e deu um murro na cara do marido. Meio grogue, Nicolau acertou um salame na cabeça da Nicoleta. Quando ela foi se defender com uma peça de parmesão, Nicolau empurrou Nicoleta sobre uma vitrina de vidro, que se quebrou inteira. Nicoleta foi levada ao hospital com cortes na cabeça. Nicolau também foi internado com ferimentos leves.

O carrinho de supermercado, que nada sofreu, declarou que no fim do ano é assim mesmo, os ânimos ficam mais exacerbados por causa da Tensão Pré-Natal.

Tags:









TAMBÉM NOS ENCONTRAMOS AQUI: