Colunista
Susana Volpi

03.09.15
Sem nome
Foto: Reprodução/site vtakac.deviantart.com

Não sei o nome dele, não lembro. Na época anotei num papelzinho que colei com o ímã na geladeira, depois piquei e joguei fora.
Ele chegou segurando a maleta de ferramentas na mão direita, o que o fez estender a esquerda e me cumprimentar assim, ao contrário, com um sorrisinho malicioso no canto da boca. Um pouco achei engraçado, um pouco achei abusado. Vestia um macacão azul, desses de funcionário de empresa, acho que era para dar ar de profissionalismo ou para excitar os fetiches das donas de casa com quem estava acostumado a tratar.
Expliquei os pormenores do vazamento da pia e fui para sala para dar-lhe liberdade para o trabalho. O tempo passou pelo relógio e eu já lia a quinta matéria da revista quando ele me chamou, Dona, pode vir aqui um pouco? Quando cheguei na cozinha ele estava com o macacão aberto até metade do peito. O suor não chegava a escorrer, apenas fazia brilhar seu corpo bem contornado, não tive como não olhar e não houve possibilidade de fazer isso de um jeito discreto, ele percebeu. Me pediu para ajudá-lo a retirar algumas coisas do armário porque precisaria de mais espaço para o trabalho. Me agachei ao seu lado e fui puxando panelas, latas, vidros, fazendo movimentos diagonais com o braço, que lhe atravessavam o corpo e de vez em quando roçavam em alguma parte sua. Nervosa, perdi o equilíbrio e no instinto me agarrei nele para não cair. Lembro de suas mãos, ele me segurou firme, mas lembro mais ainda de seu olhar e sua boca em câmera lenta em meu ouvido, encostando em minha orelha, cuidado Dona. Fiz pose de beijo, fechei os olhos e deixei os lábios semi-abertos. Ele deveria estar acostumado àquele truque porque nem pensou duas vezes, ali no chão da cozinha puxou meu vestido e como se tivesse oito braços tirou seu macacão e tocou meu corpo, tudo ao mesmo tempo.
Entre panelas, estirada no tapetinho do chão, provei, única vez, o ponto máximo do corpo, do prazer do corpo. Gritei, mordi, arranhei. Acho que desfaleci porque não tenho memória dele indo embora.
Dias depois meu marido resolveu ele mesmo arrumar o problema do encanamento. Com imagens ainda a me fazer tremer, me sentei ao lado dele, puxei sua camisa e avancei como nunca havia feito antes, coloquei a mão dentro de sua calça. Ele me empurrou e disse que aquilo não era coisa direita, ali na cozinha, de dia, no claro... Voltei para minha vida e até hoje essa é a única lembrança de prazer que tenho. 54 anos. 

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