Colunista
Renan Machado

08.04.13
Studio 54

A luz baixa acalmava os olhos de Andy quando o tipo frágil cruzava o portal de entrada do Studio 54. Lá fora a fila dobrava a esquina. Buzinas escandalosas ecoavam pelos corredores da ilha mais glamorosa do mundo. Aquele bafafá de gente incomodava, e muito, os pensamentos de Andy. Sentiu o cérebro descomprimir na presença da música ambiente e das poucas pessoas presentes àquela hora, cedo da noite, no recinto.

Tímido como o diabo, Andy cruzou a pista num passo molengo, ainda que elegante. Costumava, freneticamente, ajeitar a franja que pendia das volumosas madeixas no alto da cabeça. Em direção ao bar, Andy chamava atenção. E isso o agradava. Muito. Com charme de estrela de Hollywood, Andy acomodou-se na banqueta posicionada mais à ponta do comprido balcão do Studio 54. Acenou para o barman que acorreu ao gesto.

— Como vai, Sr. Warhol? O que gostaria de beber esta noite?

— Olá. Quero água, sem gás. Só não coloque no copo de ninharias. Quero uma daquelas taças ali.

— Esta?

— Não. Aquela, para o Martini. Aproveite e deposite uma azeitona no fundo da taça.

— Como queira, Sr. Warhol. Não vá embora cedo hoje – disse o barman – os Stones darão uma canja por aqui – e saiu ao encontro da água e da taça de Martini.

Andy ficou aturdido. Não acreditava. Queria acreditar, mas borboletas no estômago o impeliam a ignorar a hipótese. Eis o segredo para erradicar decepções. O barman retornou com o pedido e colocou a taça d’água defronte a Andy que, flutuante, confabulava sobre a notícia dos Stones a milhas de distância.

Por muito tempo permaneceu no transe. Conhecidos passavam por ele e cumprimentavam-no. Andy correspondia maquinalmente. Perto da meia-noite um alvoroço voltou todos os olhares para a porta de entrada da boate. Andy, já esperando o motivo da balbúrdia, acompanhou Mick Jagger adentrar e beijar três mulheres em seus oito primeiros passos na pista. Alucinou-se. No ímpeto de tiete revirou os bolsos atrás de um papelzinho para autógrafo. Um esboço de qualquer coisa veio-lhe às mãos. Saltou da banqueta e esgueirou-se pela multidão, incessantemente penteando a franja comprida com os dedos. À aproximação de Jagger, quase caiu no colo do Stone. Esticou o papel. Jagger apanhou: caneta nas mãos. Olhou. Riu. Assinou. Devolveu:

— Campbell’s Tomato? Há-há. Cool.

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