Casares
De

Injusto seria dizer que Adolfo Bioy Casares foi o coadjuvante da parceria que teve na vida literária com Jorge Luís Borges. Os amigos escreveram juntos sob o pseudônimo H. Bustos Domecq e B. Suarez Lynch “Seis Problemas para D. Isidoro Parodi”, “Crônicas de Bustos Domecq” e mais uns outros. Mas, Casares, assim como Borges, alçou voo próprio e se tornou um dos mais importantes escritores latino-americanos, está no mesmo patamar que García Márquez e outros grandes da nossa literatura continental, duvidem a vontade. “Histórias Fantásticas”, “A Invenção de Morel” e “Histórias de Amor” não me deixam mentir. E este é o mês do seu aniversário, faria 101 anos. Justiça seja feita!

 

Adolfo Bioy Casares. Foto: Sophie Bassouls

Neruda
De

Uma nação predominantemente agrária viu a possibilidade de uma vida digna na revolução socialista, isso ultrapassou as fronteiras russas, ecoou na América Latina e em seus intelectuais. Pablo Neruda foi um que visualizou uma imagem ideal na Rússia revolucionária, não na tirania stalinista, e antes de morrer lamentou o que viu e o que perdeu. Em 1971 foi até Moscou na expectativa de curar um câncer e na viagem escreveu Elegia, publicado postumamente (1974). Neruda, que celebrou a vida, escreveu por último a morte, não somente da sonhada Rússia, mas os espíritos de Maiakóvski e Gogol perambulam tristes, além de outros companheiros de combate. Elegia é, sobretudo, o que o poeta chileno concluiu do passado e presente do país que julgou um dia ser exemplar.

 

Pablo Neruda, 1971. Foto: Reprodução/site clocktower.org

Vila-Matas
De

Enrique Vila-Matas nasceu em Barcelona em 1948. Aos 20 anos foi morar em Paris e sua aventura pela vida literária foi inaugurada com poderosos conselhos de ninguém mais ninguém menos que Marguerite Duras, senhoria do apartamento que alugou. O tanto que Marguerite despertou e possibilitou de aberturas a Vila-Matas é difícil de medir, assim também como seria sua obra sem o contato daquelas primeiras horas de escritor. O que não se pode especular nem negar é que Enrique Vila-Matas é um dos grandes nomes da atualidade. Traduzido e aplaudido desfila com sucesso entre os pares e o público comum. Para quem ainda não se aventurou por sua prosa, um bom começo é o Exploradores do Abismo, de 2007, traduzido com maestria por Josely Vianna Baptista e editado pela Cosac Naify. 19 histórias em que não são fáceis de enquadrar em gênero (contos?) abordam temas amplos da existência e da especulação humana, em outras vezes já explorados pelo autor. Humor refinado, uma inevitável e rara ironia, leitura fluida compõem suas competentes linhas narrativas.

 

Enrique Vila-Matas. Foto: Reprodução/site diario.latercera.com

Adriana Sydor
As pessoas de Fernando
De

Quando Fernando Pessoa atribuiu a navegadores antigos a frase “Navegar é preciso, viver não é preciso”, queria ele dizer, e disse, que “Viver não é necessário; o que é necessário é criar”. Eis aqui um homem honesto com suas ideias. Este gajo talvez tenha sido o único na literatura universal a criar heterônimos e entrar em cada um qual como uma roupa. A impressão que se dá é que ele sentava em sua escrivaninha e dizia “Hoje vou me vestir de Alberto Caeiro”, como dizemos “Hoje vou de jeans”.
Em 8 de março de 1914, com 25 anos de idade, Fernando Pessoa teve o que chamou de “dia triunfal”, merecida nomenclatura para marcar a criação de seus três principais heterônimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Deu a cada um, além dos nomes, uma biografia, um biotipo e, o que mais nos interessa, traços literários singulares.
Eis trecho da carta endereçada a Casais Monteiro, em janeiro de 1935, contando o dia da criação:

 

“foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e subconscientemente — uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos — a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.
Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia eu puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria.”


Fernando Pessoa. Foto: Reprodução/site corriere.it

Existencialismo
De Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre recebeu duras críticas após a formulação do seu existencialismo expressado fundamentalmente no livro O Ser e o Nada. Por um lado os marxistas, como Pierre Naville, disseram que tal filosofia não leva em consideração as circunstâncias sociais ao dizer que o sujeito é livre para ser qualquer coisa e que acaba por cair numa filosofia burguesa. Por outro, da Igreja Católica. Sartre se declarava abertamente ateu e considerava improvável a existência de Deus, pois se ele existisse a subjetividade humana seria suprimida, algo que não é – pois o homem está por ser feito, nunca está e nem estará totalizado. Para responder ambas as críticas, o filósofo francês realizou uma conferência que se transformou no livro O existencialismo é um humanismo, editado pela primeira vez em 1946, que acima de tudo quer mostrar como o existencialismo pode compreender e auxiliar a vivência humana.

 

Jean-Paul Sartre - Foto: Reprodução/site kristeligt-dagblad.dk


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